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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Trish Morey. Todos os direitos reservados.

O ÚLTIMO JOGO DO XEQUE, N.º 1394 - Setembro 2013

Título original: The Sheikh’s Last Gamble

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3389-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Bahir al-Qadir odiava perder. Estava proibido de entrar em mais de metade dos casinos de todo o mundo por ganhar sempre, portanto, era evidente que não estava habituado a perder, mas, naquele momento, viu como lhe tiravam outro monte de fichas da mesa da roleta e sentiu um sabor amargo na boca.

Passara três noites seguidas de má sorte e nem sequer o consolava saber que a roleta era um jogo pensado para a casa ganhar. Era irónico que a sorte o tivesse abandonado naquele momento, quando mais precisava de se animar.

No entanto, conseguiu esboçar um sorriso enquanto punha o seu último monte de fichas num quadrado preto e olhava para o crupiê para lhe mostrar que estava pronto. O que importava que tivesse perdido o equivalente ao produto nacional bruto de um pequeno país? Era um profissional. Talvez tivesse a nuca molhada pelo suor e um nó no estômago, mas não ia permitir que nenhum dos abutres que havia à volta da mesa percebesse como se sentia fraco.

O crupiê perguntou se havia mais apostas, apesar de saber que a resposta seria negativa. Os outros jogadores tinham começado a retirar-se um a um. Todos estavam contentes por poderem presenciar o impensável, Bahir, o famoso «Xeque da Roleta», a perder.

Com um movimento ensaiado de pulso, o crupiê fez virar a roleta e a bola começou a girar em direção contrária.

Bahir voltou a sentir-se esperançado. Tinha de ganhar.

Fixou o olhar na bola e sentiu um nó no estômago. Uma gota de suor deslizou-lhe pelas costas, por baixo da camisa e, apesar de tudo, obrigou-se a aumentar o sorriso e a fingir que estava relaxado.

Rien ne va plus! – anunciou o crupiê, embora não fosse necessário, já que mais ninguém queria apostar.

Estavam todos a observar o movimento da bola.

A bola parou de girar e ficou num dos quadrados. Depois, saltou uma vez, duas e girou repentinamente na direção contrária. Bahir passara três noites a experimentar a derrota e continuava a ter a esperança de que a sua sorte mudasse com a última aposta da noite. Tinha de se demonstrar que o seu dom não o abandonara por completo.

A roleta quase parou de girar e Bahir apercebeu-se de que a bola parara num quadrado vermelho, o número já era indiferente.

Já estava. Perdera.

Outra vez.

Agradeceu ao crupiê como se tivesse perdido uma quantia semelhante ao preço de um café e ignorou os comentários de surpresa das pessoas que estavam à volta da mesa, com a intenção de se afastar dali com a cabeça bem erguida. Contudo, tinha vontade de encostar a cabeça entre as mãos. O que se passava com ele?

Ele não perdia.

Não assim. Da última vez que tivera um azar assim...

Afastou os seus pensamentos. A última coisa que precisava naquela noite era de pensar nela.

Ao fim e ao cabo, ela era o motivo por que estava ali.

Monsieur, s’il vous plait – chamou alguém.

Bahir virou-se e viu Marcel, o homem que o casino lhe atribuíra para aquela noite e cujo comportamento fora irrepreensível até àquele momento, já que mantivera a distância e, ao mesmo tempo, se certificara de que não lhe faltava nada.

– Xeque Al-Qadir, a noite não tem de acabar aqui. Se quiser, o casino pode aumentar o seu crédito para que possa continuar a divertir-se.

Bahir olhou para ele, o seu ar era inexpressivo, mas a ansiedade do olhar dele era inconfundível. Segundo parecia, no casino, pensavam que a má sorte dele ainda não acabara. Sentiu-se tentado a desafiar a sua sorte, mas pensou que a única coisa que fizera desde que chegara ali, há dois dias, fora perder. Portanto, talvez tivessem razão e a sua má sorte não tivesse acabado. E, se fosse assim, o melhor que podia fazer era ir-se embora.

Além disso, não precisava do dinheiro. Ganhara o suficiente nos últimos anos para não se preocupar com perder um milhão ou dez. Não era o dinheiro o que importava, era perder. A palavra «perdedor» ecoava na sua mente. Mesmo assim, sorriu.

– Obrigado, mas não.

Já atravessara metade do salão quando Marcel voltou a aparecer ao seu lado.

– A noite ainda é uma criança.

Bahir olhou à sua volta. Certamente, ali, parecia. Rodeado de lustres, móveis luxuosos e mulheres elegantes e sem uma janela para ver se era de dia ou de noite, era possível perder a noção do tempo. Olhou para o relógio e apercebeu-se de que não demoraria a amanhecer.

– Talvez para alguns – respondeu.

Porém, Marcel insistiu. Certamente, recompensavam-no de maneira generosa se conseguisse retê-lo ali.

– Voltaremos a vê-lo esta noite, xeque Al-Qadir?

– Talvez.

Ou talvez não.

– Vou enviar uma limusina ao hotel. Quererá jantar e ver o espetáculo antes? Aqui, claro. O que acha se forem buscá-lo às oito?

Bahir parou naquele momento. Apertou a ponte do nariz com os dedos e tentou magoar-se o suficiente para ganhar bom senso. Agradeceu, e não pela primeira vez, não ter aceitado a oferta generosa do casino de se alojar ali mesmo. Rejeitar aqueles benefícios tinha vantagens, como, por exemplo, a de entrar e sair dali quando quisesse.

Estava prestes a dizer a Marcel onde podia pôr a limusina e o espetáculo quando um brilho de cor que envolvia uma pele cor de mel e uma espiral de cabelos pretos como o ébano o fizeram pensar noutra época, noutro casino.

E noutra mulher. Uma mulher que tentara esquecer. Abanou a cabeça, tentando livrar-se das lembranças. De repente, tinha o coração acelerado.

– Xeque Al-Qadir?

– Deixa-me em paz, Marcel! – ordenou.

O homem percebeu e, depois lhe dar as boas noites, desapareceu entre as pessoas.

Bahir voltou a olhar para a mulher e apercebeu-se de que não era ela. De facto, não se parecia nada. Aquela mulher tinha o queixo quadrado e a testa larga, os lábios grossos e uma pele que parecia de couro. Além disso, não podia ser ela porque a deixara com a irmã em Al-Jirad e, por muito irresponsável que fosse, não podia afastar-se da família depois de lhes ter custado tanto resgatá-la de Mustafá.

Ainda que, conhecendo Marina...

Bahir praguejou a caminho da porta.

O que se passava com ele naquela noite? A última coisa que precisava era de pensar nela.

Não, não era verdade. A última coisa que precisava era de pensar na pele dourada dela e em como continuava a atraí-lo como um íman, apesar do passar do tempo e do abismo cheio de ódio que havia entre ambos. No entanto, desde que a vira a sair daquela tenda no deserto, não conseguira esquecê-la. Quanto tempo passara? Três anos? Ou mais? E ainda se sentia excitado quando ela olhava para ele com os olhos de sereia, apesar de o olhar dela se ter tornado frio assim que se apercebera de quem era um dos resgatadores.

Mesmo assim, mexera-se com graça e montara a cavalo com naturalidade. Continuava magra, apesar do passar do tempo e de ter tido dois filhos.

Talvez merecesse o inferno, mas Bahir tinha a certeza de que a pele dela continuava a ser tão suave como recordava.

Amaldiçoou-a.

Não devia pensar nela, nem no corpo suave e magro. Não valia a pena. Marina só podia causar-lhe problemas. Era a pior aposta, com ela, estava tudo perdido, mesmo antes de começar o jogo.

O porteiro deu-lhe as boas noites e inclinou a cabeça ao vê-lo passar, apesar de o céu já começar a clarear lá fora. Bahir precisava do ar frio da manhã para se acalmar, tal como a promessa de um novo dia.

Contudo, a única coisa que sentiu foi frustração. Mexeu os ombros enquanto expirava. Quando fora a última vez que estivera tão tenso? Quando se sentira tão desolado?

Sabia muito bem a resposta para aquelas perguntas, mas também não queria pensar nisso.

Entrou na limusina que esperava por ele, afrouxou a gravata e deixou-se cair sobre o banco. De repente, sentia-se cansado do mundo e infeliz com a vida. Pensara que o casino o animaria. Em vez disso, a sorte abandonara-o e fizera com que se sentisse ainda pior.

Olhou pela janela com uma expressão ausente. O Mónaco era lindo, disso não havia a menor dúvida. Era um lugar que atraía ricos e famosos, mas, naquele momento, tanto o Mónaco como o sul de França pareciam lugares vazios.

Não perdera nada ali.

Tinha de se ir embora, mas para onde podia ir? Las Vegas? Não, isso não fazia sentido. Nos casinos americanos era ainda mais fácil perder. E continuavam sem o deixar entrar em alguns deles, depois da última rajada de sorte.

De repente, viu uma imagem na sua mente, uma lembrança recente de dunas e sol.

O deserto?

Endireitou-se e perguntou-se se enlouquecera. A sua recente visita a Al-Jirad fizera-o encontrar-se com os seus três velhos amigos, Zoltan, Kadar e Rashid. Também fizera duas breves incursões no deserto, muito breves, porque tivera de ir salvar a princesa Aisha e a irmã Marina das garras do malvado Mustafá.

A primeira viagem fora muito emocionante, já que fizera uma corrida pelas dunas com os seus três amigos. A segunda, um pouco menos, apesar de os cavalos estarem em forma, a companhia fora a mesma e as saídas e os pores-do-sol tinham sido igualmente belos. Ter visto Marina depois de tantos anos estragara-lhe a viagem.

Era uma desgraça que Zoltan se tivesse casado com a irmã dela. E que continuasse a atraí-lo tanto apesar do tempo que passara.

Talvez a cura fosse outra visita ao deserto. Talvez o calor do sol conseguisse fazer com que a esquecesse e o ar frio da noite a tirasse para sempre da cabeça.

Talvez fosse hora de voltar a casa.

A casa.

Há quanto tempo não pensava no deserto como a sua casa?

Porque haveria de voltar naquele momento? Podia fazer o que quisesse. Dessa vez, poderia parar para absorver realmente a cor e a textura do deserto, para observar, sentir o seu poder e respirar o ar impoluto sob o calor do sol do deserto.

Porém, sobretudo, no deserto não veria brilhos de cor, nem peles douradas que o fizessem pensar noutro momento e noutra mulher que queria esquecer.

Respirou fundo, contente pela primeira vez em vários dias, e pensou que procuraria um voo e faria as gestões necessárias depois de dormir. Certamente, o azar acabaria, pois, naquele momento, não podia piorar mais.

O telemóvel vibrou-lhe no bolso. Tirou-o e olhou para o ecrã com curiosidade. Quem podia estar a telefonar tão cedo? Não o surpreendeu ver de quem se tratava. Levou o telemóvel ao ouvido.

– Zoltan, o que aconteceu?

Ouviu o amigo enquanto o céu cinzento se tingia de cor-de-rosa e o seu azar piorava ainda mais.