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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Barbara Wolff

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Nos braços do amor, n.º 5 - maio 2018

Título original: Loving Leah

Publicada originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-462-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

No seu Sedan modesto, Leah Hayes podia ter percorrido a distância entre a casa do seu pai e a de John Bennett numa questão de minutos. Apesar de ter passado onze anos longe dali, as ruas da vizinhança, muito perto do campus que a Universidade do Montana tinha em Missoula, ainda eram familiares. No entanto, como não sabia como iam recebê-la, preferiu levar o seu tempo.

– Perdeste-te, tia Leah? – perguntou-lhe a sua sobrinha de oito anos.

– Não, Gracie. Lembro-me perfeitamente do caminho para tua casa.

A pequena pareceu tranquilizar-se um pouco. Parecia-se com Caro, a sua mãe, que era a meia-irmã de Leah. E também tinha parecenças com o pai dela. Tinha o rosto ovalado e os caracóis loiros de Caro e herdara de John, o seu pai, os olhos cinzentos e o ar de determinação no queixo que Leah se esforçara tanto para esquecer durante os seus anos de ausência.

– Estás a conduzir muito devagarinho – comentou a pequena.

– Vou admirando as flores, que são muito bonitas – mentiu Leah. – Todos parecem ter-se esforçado muito nos seus jardins este ano.

– Nós não – replicou a menina, muito desiludida. – A única coisa que temos nos canteiros de flores é ervas daninhas.

– Bom, isso é algo que pode resolver-se enquanto eu estiver aqui. Se o fizermos juntas, arrancar as ervas daninhas e plantar flores não nos demorará muito tempo.

– Talvez o pai queira ajudar-nos. Antes de a minha mãe morrer ele certificava-se sempre de que tínhamos flores muito bonitas. Certamente, estará muito ocupado… Está sempre demasiado ocupado para fazer coisas comigo e está demasiado triste. Tem muitas saudades da mamã. No entanto, agora tu estás aqui, tia Leah. Tu farás muitas coisas comigo, não é?

– Claro que sim, Gracie. Agora estou aqui e vamos fazer imensas coisas juntas este Verão. Prometo.

– Vês todas as ervas daninhas que há nos canteiros de flores? – perguntou-lhe a sua sobrinha, exactamente quando chegavam a Cedar Street.

– É claro – replicou Leah, tentando esconder a sua desolação devido ao aspecto de abandono e desolação da bonita casa. Não tinha nada a ver com as fotografias que Caro lhe enviara há alguns anos.

Olhou para ela com mais cuidado sob a luz dos candeeiros. Efectivamente, o jardim estava muito descuidado e não se viam luzes nas janelas apesar de já começar a escurecer.

Esperara que o seu pai e a sua madrasta estivessem a exagerar sobre o estado de espírito de John. Parecia que começara a superar a tristeza e que estava disposto a continuar com a sua vida. Além disso, tinha responsabilidades que não podia ignorar, sendo Gracie a mais importante delas, e deixara que ela o ajudasse a cuidar da sua filha durante o Verão.

– Este é o todo-o-terreno do teu pai, não é? – perguntou Leah.

– Sim – respondeu a menina, – mas isso não significa que esteja em casa. À noite, vai dar longos passeios.

Como podia ter ido dar um passeio sabendo que a sua filha ia voltar para casa? O homem que ela conhecera há oito anos não o teria feito, mas John mudara depois da morte de Caro de um modo que Leah nunca teria pensado possível.

– Se o teu pai não estiver em casa, podemos regressar à casa do avô e esperar que volte – sugeriu Leah.

– Está bem – concordou a menina. Evidentemente, a solução simples que Leah lhe oferecia parecia ter apaziguado todos os seus receios.

Leah deixou as malas no porta-bagagem do carro e foi ajudar Gracie a sair. A menina não achava difícil mexer a perna que magoara, dado que só tinha um suporte metálico, mas aceitou a ajuda de Leah de qualquer modo. Deu a mão à sua tia e ambas se dirigiram para a porta principal da casa.

Ao chegarem ao alpendre, Leah respirou fundo antes de tocar à campainha. Apesar de já estarem em Junho, a noite era fresca. Uma brisa despenteava o seu cabelo castanho, o que a fez arrepender-se de não ter vestido uma camisola.

Os segundos foram passando até se transformarem em minutos. Leah estendeu a mão e voltou a tocar, carregando no botão durante mais alguns segundos do que da primeira vez. Passaram dois minutos antes de, para alívio de ambas, se ouvir que alguém manipulava a fechadura da porta.

– Está cá! – gritou Gracie, com uma mistura de excitação e de incerteza, que Leah atribuiu ao comportamento errático do pai da menina.

Obrigou-se a sorrir, tentando não prestar atenção a um calafrio que lhe percorreu as costas. Finalmente, a porta abriu-se. Fê-lo com um movimento que denotava impaciência, até mesmo irritação, por parte da pessoa que a abria. No meio daquela penumbra, o homem que abriu a porta apresentava um ar assustado no rosto ou, pelo menos, foi o que Leah pensou. Se não tivesse sabido que seria John a abrir a porta, nunca o teria reconhecido.

Tinha o cabelo escuro despenteado e sujo, o rosto por barbear e os olhos cansados. A t-shirt azul e as calças de ganga gastas que vestia ficavam demasiado largas sobre o seu corpo alto e magro. Naquele momento, John Bennett era praticamente um desconhecido para ela. Um desconhecido muito hostil que fez com que o sorriso que ela esboçara se desvanecesse.

– Olá, papá! – cumprimentou Gracie, soltando-se da mão de Leah e dando um passo para a frente.

Imediatamente, a expressão do rosto de John mudou completamente. O amor que sentia pela pequena era tão evidente que era quase palpável. Aquele era o homem que Leah recordava. A hostilidade que gotejava dele era apenas fruto da tristeza profunda que o invadia.

– Olá, Gracie! – respondeu, inclinando-se para pegar na menina ao colo, com muito cuidado e carinho. – Divertiste-te em casa dos avós?

– Sim. Tinham uma grande surpresa para mim – respondeu a menina, apontando para Leah. – Olha, papá. É a tia Leah! Lembras-te dela, não lembras? Finalmente, regressou para nos visitar e, sabes que mais? Vai ficar aqui connosco todo o Verão. Estou tão contente, papá! E tu?

– É claro que me lembro da tua tia. Na verdade, lembro-me muito bem dela – replicou John, olhando para Leah finalmente. – Bem-vinda a Missoula, Leah.

Ela tentou sorrir mais uma vez, mas a expressão que viu no rosto de John impediu-a. Embora não fosse abertamente hostil, era um pouco antipática, tanto que a surpreendeu completamente. Além disso, o facto de não ser capaz de se alegrar com Gracie por ela ficar com eles deixava muito claro o que sentia a respeito disso.

Leah pensara que John não só sabia o que o seu pai e madrasta tinham organizado para aquele Verão, como também concordava com os seus planos. Tinha de saber que ela era a pessoa que Cameron e Georgette tinham escolhido como ama da pequena para o Verão. Certamente, tinham falado com John e tinham conseguido a sua aprovação antes de entrarem em contacto com ela…

No entanto, se John lhes dera a sua aprovação, a que se devia tanta hostilidade?

Leah percebeu que nunca tinha perguntado a Cameron ou a Georgette a opinião de John sobre tudo aquilo nem eles a tinham mencionado. Limitaram-se a explicar-lhe que John mudara um pouco desde a morte de Caro, algo que Leah compreendera perfeitamente. No entanto, se tivesse sabido que ficaria aborrecido com o facto de a ter a viver em sua casa, Leah nunca teria acedido a regressar ao Montana.

Compreendeu que assumira muitas coisas devido ao amor que sentia por Gracie. Cameron insistira que John estava ainda demasiado imerso na sua perda para dar à menina a atenção de que precisava e os comentários de Gracie tinham-no confirmado. Além disso, é claro, havia a inevitável chama da esperança, juntamente com o repentino despertar de sonhos que tinham passado muito tempo adormecidos, devido à possibilidade de voltar para o seu querido amigo depois de oito anos longos e solitários.

Não esperara que John partilhasse os seus sentimentos. Nem passara um ano desde a morte de Caro e ele nunca amaria ninguém como a amara. No entanto, Leah nunca teria imaginado tanta frieza ao vê-la.

– O quarto da ama fica do outro lado da cozinha – explicou ele, afastando-a assim dos seus pensamentos. – Fica à vontade – acrescentou, com uma expressão fria e distante. Depois, dirigiu-se a Gracie num tom de voz muito mais suave e amável. – Tenho a certeza de que terás jantado em casa da avó, não é?

– Sim, o meu prato favorito: hambúrguer com batatas fritas.

– Muito bem. Então, vamos para o teu quarto para vestires o pijama. Já devias estar na cama, jovenzinha.

Gracie rodeou o pescoço do seu pai com os braços e começou a rir-se. Pelo contrário, Leah observou como John começava a subir a escada muito lentamente com a menina ao colo. Sentiu o impulso de o enfrentar e pedir-lhe explicações sobre a sua atitude, mas sabia que não podia fazê-lo enquanto a menina estivesse ali. Porém, tinha o direito de saber o que se passava com John. Era evidente que o seu pai e a sua madrasta só lhe tinham dado parte da informação sobre a situação, querendo acreditar certamente que Leah seria capaz de lidar com John e proporcionar um lar estável a Gracie. Além disso, com a sua experiência como professora numa escola particular de Chicago, podia ajudar a menina a ficar em dia nos seus estudos depois de todas as aulas que perdera com a sua lesão.

Arrependeu-se de tudo o que podia ter perguntado a Cameron e a Georgette. Lembrara-se demasiado tarde de que eles tinham descrito John como um homem amargurado, que não se parecia nada com o que fora, descrição que Leah preferira ignorar. Até tinham comentado que John despedira duas amas nos últimos meses, comentário sobre o qual ela deveria ter indagado um pouco mais, coisa que, é claro, não fizera.

Enquanto regressava ao carro para ir buscar a sua mala, sentiu o impulso de se ir embora. Ninguém poderia culpá-la por o fazer, mas quem cuidaria de Gracie se o fizesse? Cameron e Georgette ir-se-iam embora no dia seguinte para a Europa devido ao ciclo de conferências que o seu pai ia dar. Não havia mais ninguém que pudesse cuidar da pequena. Portanto, teria de ficar… Ou ter de viver com mais culpa do que a sua consciência era capaz de suportar. No entanto, não tencionava tolerar a aberta animosidade que John Bennett mostrava. Ele fora o seu amigo, o seu melhor amigo, e Leah estava ali por uma boa razão. Prometera-se que lho recordaria assim que tivesse oportunidade de ganhar coragem e enfrentá-lo.

Capítulo 2

 

 

 

 

 

– Estás zangado com a tia Leah, papá? – perguntou-lhe a menina, franzindo o sobrolho.

John praguejou em silêncio por ter aborrecido a sua filha na primeira noite que passava em casa. Abraçou-a com força e deu-lhe um beijo na face.

– Não, Gracie. Não estou zangado com a tua tia Leah – respondeu, enquanto subiam a escada.

Não mais do que estivera com qualquer um que tivesse tentado interferir na sua vida, sem contar com Gracie, é claro. Desde que nascera, a criança transformara-se na menina dos seus olhos.

– Foste um pouco brusco quando falaste com ela, papá.

– Brusco, eh? – repetiu ele, com um sorriso.

Achou a escolha de palavras da sua filha engraçada, o que o ajudou a libertar-se em certa medida da estranha mistura de emoções que sentira toda a tarde. Desde que o pai de Leah lhe dissera naquele dia que ela era a ama que tinham encontrado para cuidar de Gracie durante o Verão, John sentira-se zangado, irritado e, para sua consternação, também um pouco inquieto.

Estava habituado à raiva. Acompanhara-o juntamente com a dor que sentira ao perder Caro de um modo tão trágico e inesperado. O ressentimento também fora o seu amigo mais íntimo desde a morte da sua esposa. Não queria compaixão, porque, na sua opinião, não a merecia. Ele, e só ele, fora responsável pela morte de Caro. Merecia todos e cada um dos momentos de dor que vivera desde aquela noite fatídica.

Contudo, a inquietação com a qual batalhara desde manhã era algo completamente diferente, um sentimento pelo qual não queria deixar-se levar, especialmente no que se referia a Leah Hayes.

Sentira uma tensão profunda só de pensar que teria que ver Leah diariamente. Então, quando abriu a porta e se encontrou cara a cara com ela pela primeira vez desde há dez anos, sentiu o impulso incontrolável de a abraçar e de lhe confessar sem disfarces os muitos pecados que cometera. Era uma sorte que simplesmente tivesse parecido «brusco».

– Sim, papá, muito brusco – afirmou a menina, quando chegaram à porta da casa de banho. – Podemos regressar à casa dos avós se precisares de estar sozinho mais tempo, mas teremos de regressar amanhã porque outra pessoa vai estar lá enquanto eles estão de viagem.

John baixou-se à frente da sua filha e acariciou-lhe delicadamente os caracóis loiros.

– Fico muito contente por voltares a estar em casa, Gracie, embora não tenha parecido assim quando cheguei à porta. De agora em diante, vais estar aqui comigo. Já tive tempo suficiente a sós para me durar por uma vida inteira.

– E a tia Leah? Também ficas contente por ela estar aqui?

– Tu estás contente, Gracie? – perguntou John, para não mentir à pequena.

– Sim, papá. Fico muito contente.

– Então, eu também fico contente. Agora, lava a cara e as mãos e veste o pijama enquanto eu te abro a cama, está bem?

– Está bem, papá. Vais ler-me uma história? – acrescentou, timidamente.

– É claro que sim. Alguma em especial?

– Esta noite escolhes tu.

Depois de deixar a menina na casa de banho, John dirigiu-se para o quarto da pequena. Ao contrário do resto da casa, tudo estava muito ordenado. Caro encarregara-se da decoração impecável do quarto da sua filha. Infelizmente, por culpa de John, Caro não poderia ver como Gracie se transformava numa mulher.

Quando foi fechar as persianas, viu Leah a tirar a sua mala do carro. Com os anos que tinham passado, esquecera-se de como era encantadora. O cabelo escuro caía-lhe suavemente pelos ombros e, como sempre, os olhos verdes brilhavam-lhe de inteligência. O corpo alto e esbelto deixara de ser o de uma menina para se transformar no de uma mulher. Além disso, não parecia ter perdido a sua beleza interior, um coração firme que complementava a serenidade da sua alma.

Era uma pena que não tivesse valorizado tudo o que ela era quando ele podia ter sido digno da sua atenção. Naquele momento…

Naquele momento, a única coisa que John esperava era que não se acomodasse na sua casa, especialmente dado que não ia ficar muito tempo. Havia demasiadas coisas que preferia que ela não soubesse sobre ele, coisas que lhe custaria muito esconder-lhe se permitisse que entrasse na sua vida.

Era perfeitamente capaz de cuidar de Gracie sozinho. É claro, teria de voltar a ser o que era, mas já estava na altura de fazer o esforço. A alternativa, que era ter Leah na sua casa durante os próximos três meses, era o incentivo de que precisava.

– Papá, não acendeste o candeeiro – indicou Gracie, quando entrou no quarto.

– Não esperava que estivesses pronta tão depressa – replicou John, acabando de fechar as persianas com um movimento rápido de pulso. – Tens a certeza de que lavaste bem as mãos e a cara? – acrescentou, com um sorriso.

– Sim, muito bem – respondeu a menina, enquanto acendia o candeeiro da mesa-de-cabeceira. – Até pus a roupa na cesta da roupa suja. E também lavei os dentes e penteei-me.

– Precisas de ajuda para tirar o suporte da perna?

– Não, consigo fazê-lo sozinha – respondeu Gracie, começando a desabotoar as fitas de velcro.

– Nesse caso, suponho que o melhor seja começar a escolher uma história.

Gracie esforçara-se muito para recuperar da sua lesão. Trabalhara muito durante as sessões de fisioterapia que se seguiram à operação. Caminhava com aquele suporte de metal desde há dois meses. Segundo o médico, o seu progresso fora tão notável que muito em breve poderia desfazer-se da prótese.

Além disso, com a ajuda de um psicólogo e dos seus avós, a pequena conseguira aceitar a morte da sua mãe. A pouco e pouco, estava a voltar a ser a menina saudável e alegre que era há um ano.

John desejou ter podido contribuir para a sua recuperação, mas a verdade era que estivera demasiado ocupado a ter pena de si próprio e a odiar-se para poder fazê-lo. Não voltaria a ser assim. Chegara a altura de se transformar no pai que Gracie merecia.

Reconheceu que também chegara o momento de tentar esquecer o modo como Caro falara com ele nos últimos momentos que passaram juntos e o que lhe fizera para a fazer falar assim. Todas aquelas lembranças do passado tinham estado prestes a destruir o seu futuro.

– O que achas de Boa Noite, Ursinho? – sugeriu-lhe Gracie, de repente, afastando-o assim dos seus pensamentos.

– Parece-me uma excelente escolha – respondeu ele, pegando no pequeno livro. – Posso ler-te também outro, a menos que tenhas demasiado sono.

– Esta noite tenho, papá.

– Então, leremos o Boa Noite, Ursinho e já está. Parece-te bem?

– Sim, papá. Eu gosto que estejas assim – comentou a menina, enquanto se metia na cama. – Eu não gosto quando falas num tom brusco.

– Nesse caso, guardarei o tom brusco numa caixa fechado à chave.

– E deitarás a chave fora?

– Bom, posso precisar dele alguma vez. Talvez tenha de o usar com outras pessoas.

– Mas não comigo, papá.

– Não, Gracie. Nunca contigo.

– Nem com a tia Leah – acrescentou a menina. Então, bocejou e fechou os olhos.

John ficou em silêncio durante vários segundos, incapaz de mentir à menina. Certamente, teria de se mostrar brusco com Leah para conseguir fazer com que ela se fosse embora da casa, mas certificar-se-ia de que Gracie não estivesse presente. Na verdade, tinha intenção de tratar de Leah assim que Gracie estivesse a dormir.

Imediatamente, começou a ler a história. Concentrou-se nas palavras que conhecia praticamente de cor para esquecer o resto dos seus pensamentos. Por enquanto, bastava-lhe estar junto da sua filha, que amava mais do que podia expressar com palavras.

 

 

Numa mão, Leah trazia a pequena mala que continha os artigos de que ia precisar para a primeira noite em casa de John. Na outra, a de Gracie, que ia cheia de roupa, livros e um peluche que levara para casa dos seus avós.

Viu que havia uma luz acesa no segundo andar e deduziu que se tratava da janela do quarto de Gracie. Não havia razão alguma para que não pudesse esclarecer algumas coisas com John, à excepção do seu próprio medo de o enfrentar. Apesar de tudo, era a primeira coisa que devia fazer.

Depois de deixar a mala de Gracie ao fundo da escada, dirigiu-se para o quarto que ia usar durante a sua estadia na casa. Verificou que a sala e a sala de jantar não eram utilizadas há muito tempo, dado que também não estavam limpas, a julgar pelas teias de aranha e o pó que se acumulavam nos móveis. No entanto, não estava tão mal comparado com a desordem que reinava na cozinha e na sala de estar.

O seu espanto transformou-se em desolação ao ver o que podia ter sido uma cozinha muito acolhedora. Ao ver o monte de pratos por lavar e as caixas de pizzas e comida chinesa que se empilhavam por todos os lados, pôs-se a tremer. Sobre a mesa da cozinha acumulavam-se livros e papéis, tal como acontecia na sala de estar.

Parecia evidente que aquela desordem era uma das razões pelas quais o seu pai e madrasta lhe tinham pedido para dar uma ajuda. Ajudar as pessoas transformara-se na sua especialidade ao longo dos anos. Recordou os anos durante os quais tivera de cuidar do seu pai depois da morte da sua mãe e as vezes que ouvira como John desabafava durante o divórcio amargo dos seus pais.

Quando o seu pai conheceu Georgette, compreendeu que a sua ajuda já não era necessária e ficou num segundo plano discreto. Fez o mesmo quando percebeu que John amava Caro o suficiente para se casar com ela. E faria o mesmo no fim do Verão, quando o seu pai e a sua madrasta regressassem para poderem voltar a tratar de Gracie.