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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Ann Major

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma questão de confiança, n.º 603 - junho 2019

Título original: The Bride Tamer

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-056-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Cuatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Florença, Itália

 

– ¡Cortem-lhos! Isso vai fazê-lo sofrer!

Cash ficou estático, com a mão na maçaneta da porta que dava para o estacionamento. Sabia que aqueles gritos eram para ele.

Roger, o seu secretário, olhou para a multidão através de uma janela e depois fixou-o com o seu olhar durante uns segundos, antes de lhe dizer num tom de gozo:

– Cada vez há mais pessoas na praça. Tens sorte que estamos no século vinte e um e já não se usam as espadas. Não creio que te possam fazer alguma coisa se saíres.

– Mas, o que e que se passa com eles? Tiveram meses para se habituarem ao meu design – protestou Cash.

Cash McRay não era nenhum cobarde, mas o barulho de uma multidão de florentinos enraivecidos, ameaçando com estragar as partes mais preciosas da sua fisionomia, gelavam-lhe o sangue. Sentia o seu enorme corpo como uma massa estática, os seus pés estavam presos ao chão enquanto a sua mente hesitava.

As ameaças de morte aumentaram. Meu Deus! Talvez não devesse ter-me arriscado tanto. Tinha a certeza de que o design daquele moderníssimo museu era muito extravagante, mas mesmo assim desistira.

– Até é irónico que os cidadãos de Florença me queiram ver morto logo na altura em que eu começava a ter vontade de viver de novo – comentou Cash com tristeza. Ainda não conseguira apagar da sua cabeça aquela imagem horrorosa que lhe aparecia nos seus pesadelos, nem precisava de fechar os olhos para ver a sua querida Susana e a sua filha Sophie estáticas nos seus caixões.

– Fica tranquilo – murmurou-lhe Roger, enquanto lhe punha a mão no ombro. A única coisa que esses canibais querem é… comer-te vivo.

Cash foi embora para não ver o sorriso do seu ajudante. A um ano atrás, aquele sorriso ajudara-o na escolha para lhe dar o emprego, mas naquele momento esse mesmo sorriso punha-lhe os nervos em franja.

– Falas de mais – grunhiu Cash. – E sorris muito. Alguma vez te disseram que podias fazer publicidade para uma pasta de dentes?

– Já, tu estás sempre a dizer-me.

– Para te dizer verdade, antes preferia poder sorrir como um parvo do que estar prestes a ser comido vivo.

– Boa, finalmente um pouco de sentido de humor.

– A vida continua – disse, tentando acreditar nas suas palavras.

– Especialmente desde que te encontraste com a Isabela Escobar na Cidade do México – lembrou-lhe Roger, voltando a mostrar todos e cada um dos seus dentes branquíssimos. – No escritório correm boatos de que a vais pedir em casamento.

– O que e que eu fiz para arranjar uns empregados tão fofoqueiros?

– Talvez devesses esconder todas as cartas perfumadas.

Aquela conversa estava a pô-lo furioso, se fazia ou não tenções de casar não interessava a ninguém.

– Se não me conseguires tirar vivo desta cidade, não vou poder pedir nada a ninguém.

Roger abriu a porta de rompante e atirou-o para a rua.

– Vá, Don Juan, começa a correr que eu dou-te cobertura.

Cash, cabisbaixo, passou pelo meio da multidão retida por volumosos guarda-costas.

Estava uma típica noite de Abril, fria e seca. O estacionamento estava completamente cheio e tiveram de andar pelo meio dos carros até chegar à pista de aterragem dos helicópteros, que se encontrava a uns cem metros, cercada pela polícia.

Cash correu com todas as suas forças enquanto mãos desconhecidas lhe agarravam os pés e as mãos. Quando estava quase a chegar ao helicóptero, teve de se baixar para esquivar uns microfones que tinham posto mesmo a sua frente.

– Como foi capaz de construir este monstro futurista numa cidade famosa pela sua beleza e a sua arquitectura clássica? – gritou uma mulher.

– Egotista! Modernista! Pós-modernista!

Um homem de cabelo preto e oleoso agarrou-lhe o braço. Por sorte, foi rapidamente levantado a ombros por dois agentes.

– Florença orgulha-se do seu passado! – gritava o homem enquanto o afastavam de Cash. – O seu museu parece um caranguejo numa pia gigante!

Roger sorriu de novo e disse-lhe qualquer coisa num italiano horrível.

– De certeza que o seu pai teve de pagar a alguém na Câmara para que o seu projecto fosse escolhido – disse alguém aos gritos no meio da multidão.

Ao ouvir aquele comentário sobre o pai, Cash deteve-se e lançou um olhar de cólera no preciso momento em que uma pedra o atingiu no ombro.

– Sobe para o helicóptero, Cash – suplicou-lhe Roger enquanto alguém lhe rasgava o casaco. – Estes selvagens vão-me deixar nu.

A multidão conseguira atravessar a barreira de polícias quando as portas do helicóptero se fecharam atrás deles.

Cash reclinou-se na cadeira e lançou um suspiro de alívio depois de confirmar que o anel de noivado de Isabela continuava a salvo no seu bolso, dentro da sua caixinha de veludo.

Isabela era uma mulher morena e fogosa e tinha tanta vitalidade que talvez conseguisse fazê-lo esquecer a sua perca tão terrível. Tentou evocar a sua imagem, mas a única coisa que conseguiu ver foram as feições pálidas de Susana e da sua linda filhinha, as suas cabeleiras loiras apoiadas em almofadas de cetim.

– Vocês dois estão bem? – perguntou-lhes o conde Leopoldo com a sua voz suave e elegante que mal se ouvia devido ao barulho da hélice. Ainda têm vontade de dar um passeio pela galeria Uffizi?

Leopoldo, Leo, como Cash o chamava, fora seu companheiro de quarto em Harvard.

Cash concordou sem vontade, enquanto fazia um esforço para que o seu pensamento voltasse ao presente. A galeria Uffizi era um dos grandes museus de arte renascentista do mundo. Susana nunca teria ido embora de Florença sem a ter visitado…

Virou a cabeça para olhar a sua criação através da janela. Sob a ténue luz do sol prestes a desaparecer, era realmente verdade que se parecia com um caranguejo enorme debruçado sobre algo. Conforme ia estudando as grandes janelas inclinadas e as pontes que uniam as colunas de pedra que se assemelhavam às patas de um caranguejo, começou a sentir uma pontada de dúvida.

Aquele museu fora o primeiro a ser construído desde que a sua casa em São Francisco ficara destruída pelo incêndio. A casa, que fora desenhada por Susana, chamara a atenção das entidades e dos arquitectos de todo o mundo. Ele encontrava-se de viagem na Europa, a supervisar a casa de férias de Leo quando aquele fogo terrível acabou com tudo o que lhe interessava na vida.

O helicóptero mergulhou rapidamente no céu púrpura fazendo com que o barulho das hélices abafasse os gritos da multidão. À medida que se iam aproximando da parte antiga da cidade, o horizonte começou a encher-se de telhados vermelhos, alamedas, pequenas pracetas e o serpenteante Arno, o imprevisível rio que por tantas vezes semeara o caos à sua passagem. Florença conseguira sobreviver a coisas muito piores do que um edifício excêntrico.

– Já me tinha esquecido do divertido que era ser o arquitecto mais odiado do mundo – disse Cash ao perceber que o seu amigo o olhava.

– Vamos ficar-nos pelo controverso – corrigiu-o Roger. – Isso é óptimo. Amanhã vais aparecer nas primeiras páginas de todos os jornais europeus.

– Como és capaz de ser tão insuportavelmente optimista? Aquelas pessoas queriam matar-me!

– Nós, os italianos… – começou a explicar Leo, – e, especialmente, os florentinos, somos uns estúpidos passionais. Tens de nos desculpar. Hoje és odiado, mas daqui a cem anos serás considerado um deus.

Cash franziu o sobrolho.

– O meu corpo em decomposição agradecê-lo-á enormemente.

– Vê sempre tudo negro e quer que os outros o vejam da mesma forma – disse Roger a Leo. – Muito bem, se e isso o que queres: Cash, perdeste a proposta de Nova Iorque.

Cash afundou a cabeça entre as mãos, enquanto era invadido por aquela sensação familiar de desespero criativo. Ninguém ia ter pena dele. Mesmo depois da morte de Susana, toda a gente lhe dissera que ele era um estúpido por ficar deprimido daquela maneira, quando tinha tantas razões para viver.

«Tens talento, uma óptima reputação, és jovem…» Embora ao que eles se referiam realmente era ao seu dinheiro.

Se alguém era rico, toda a gente pensava que tinha de ser feliz só por isso. O que ninguém parecia querer entender era que o dinheiro, a fortuna que ele tinha, afastava-o do resto das pessoas, afastava-o inclusive de sentir alguma coisa verdadeiramente. Vivia por trás de enormes muralhas, completamente isolado durante a maior parte do tempo. Assim, o melhor que tinha a fazer era refugiar-se no trabalho.

Mas a sua dor era verdadeira, tinha remorsos como toda a gente. Amara tanto a sua esposa e a sua filha… Se tivesse sabido o pouco tempo que lhe restava para ficar ao lado delas, nunca as teria deixado sozinhas para ir trabalhar em sítios longínquos.

As pessoas pensavam que como aparecia nas revistas, a sua vida era mágica. «Vais voltar a casar», diziam-lhe constantemente. «Um homem como tu pode ter quem quiser».

No início pensara que não seria capaz de atraiçoar Susana casando-se com outra, mas já haviam passado quase três anos e cada vez se tornava mais difícil para ele viver das lembranças. Há dois meses fora à Cidade do México visitar o seu mentor, Marco Escobar, após este ter sofrido um ataque cardíaco. Isabela aparecera no hospital para visitar o seu pai. Um dia caiu-lhe o xaile e quando os dois se baixaram para o apanhar, as suas mãos roçaram e Cash percebeu a compaixão que ela sentia por ele. Isso despertara nele o interesse pela primeira vez desde a morte da sua esposa. E fê-lo pensar que talvez, só talvez…

– O teu projecto de Manhattan era óptimo, Cash. A sério – garantiu Roger. – Toda a gente o disse. O que se passa é que estas à frente no teu tempo. Mas vê as coisas pelo lado positivo: ao menos os nova-iorquinos não vão ter razões para te quererem comer vivo como os florentinos, e para me rasgarem mais um dos meus caríssimos blazers. Tu já sabes que em Nova Iorque são bem mais violentos do que na Itália.

– Pode ser, mas também são bem mais receptivos para a arquitectura inovadora.

 

 

Era sempre um erro repetir os passos que já se haviam dado anteriormente. Assim que pôs um pé na galeria Uffizi, arrependeu-se de o ter feito. Aquelas paredes que acolhiam as obras-primas da Renascença italiana pareciam debruçar-se sobre ele. O cheiro húmido dos quadros ameaçava sufocá-lo.

As lembranças continuavam a ser muito dolorosas e a presença da Susana demasiado evidente. Tornava-se quase impossível concentrar-se nas obras que tinha a sua volta.

– A última vez que aqui estive foi com a Susana.

– Eu sei – respondeu Leo com pena. Ele sabia de que estava a falar, a sua primeira mulher falecera num acidente de carro. Agora já ia no seu terceiro casamento com uma linda modelo parisiense.

Continuaram a andar até se encontrarem frente a frente com o Nascimento de Vénus de Boticcelli. Lá fora o sol já se havia posto e chovia suavemente, uma chuva miudinha de Primavera que pararia em breve.

A última vez que ali estivera com Susana era um daqueles gloriosos dias de Verão em que o sol brilhava no seu cabelo e o fazia resplandecer com a mesma majestosidade que na obra de Botticelli. Susana convencera-o a visitar a galeria, embora a ele apetecesse mais passear pelas praças com a sua mulher, dando de comer aos pombos.

Também haviam passado a sua lua de mel em Florença e já naquela primeira viagem, ela arrastara-o da cama todas as tardes para visitar o Palácio dos Uffizi, e não porque o edifício fosse um dos mais importantes exemplos da arquitectura Maneirista, mas pela sua adoração por Botticelli.

– Se Botticelli fosse vivo, ficaria louco de ciúmes – comentara-lhe ele a brincar em alguma ocasião.

Ela rira-se antes de sair a correr pelos corredores até chegar ao lugar onde eles se encontravam naquele preciso momento, frente ao Nascimento de Vénus.

– É a representação do nascimento do amor no mundo – explicara-lhe ela na altura, enquanto o agarrava pela mão.

– Para mim tu és a representação do amor – dissera-lhe ele.

– É bom que tenhas regressado – disse Leo, fazendo-o sair da sua introspecção. – Temos de nos desfazer dos nossos fantasmas.

– Isso é possível? – perguntou Cash hesitante.

– Poderia apresentar-te mulheres capazes de fazer esquecer seja o que for a qualquer homem… ao menos durante algum tempo.

Cash lembrou-se de Isabela e esperava que ela fosse capaz de fazer isso por ele.

– Vocês os italianos são…

– Os homens são todos iguais em todo o lado – Leo fez uma pausa antes de prosseguir. – Quando te vi no funeral…

– Não quero falar sobre isso.

Cash voltou a ouvir a voz da sua madrasta a dizer que chegara o momento de fechar os caixões… e a galeria ficou num silêncio de morte.

– Esta Vénus é um dos nus mais sensuais da Renascença – explicou Leo, mudando de assunto. – Conheces o mito?

– É um quadro lindo.

– Lindo? Que palavra tão pouco conveniente.

– Sim, de facto o mito não e assim tão bonito; tem alguns aspectos atrozes.

Leo concordou com um sorriso triste no rosto enquanto Cash se baixava para ler a placa que explicava a história do quadro. Gea, mãe de Cronos, conseguira convencer o seu filho a castrar o pai, Urano, e depois lançar seus genitais ao mar.

Cash sentiu uma reviravolta no estômago, levantou o olhar para observar com novo interesse a ruiva da pintura.

Reza a lenda que os testículos de Urano flutuaram no mar formando uma espuma branca da qual saiu a irresistível Afrodite do quadro. Os romanos adaptaram aquela lenda mudando o nome de Afrodite para Vénus. Como italiano que era, Botticelli adoptara o segundo nome. Como se explicava na placa, o vento arrastara a espuma pelos mares e oceanos até chegar à costa de Chipre, onde Vénus surgiu das águas e se apresentou perante os deuses.

– Sempre me esqueço do impressionante que é a Vénus de Botticelli – admitiu Leo quebrando o silêncio. – Os deuses apaixonaram-se por ela assim que a viram.

Talvez fosse o efeito da pintura, mas por alguma razão Cash tirou a caixinha de veludo do seu bolso e mostrou-a a Leo.

– Comprei um anel… para Isabela – o diamante brilhou diante dos seus olhos.

– Isabela Escobar – murmurou Leo com a sua voz profunda.

– Ela é adorável, vivaz e sexy. Além disso, faz-me rir.

Leo olhou-o espantado.

– Muito inteligente da tua parte. Casares com a filha de Marco… vai ser uma fusão mais que um casamento.

– Será um casamento – corrigiu-o Cash num tom cortante.

– Então… foi amor a primeira vista?

Cash não conseguia olhar nos olhos do seu amigo.

– Tenho um voo para Londres esta noite – disse-lhe para evitar a pergunta. – E daqui a uns dias vou até à Península de Yucatán. A Isabela vive em Mérida.

– Não me respondeste.

– Sendo filha de um arquitecto, tenho a certeza de que ela vai entender os meus sonhos e a minha obsessão pelo trabalho. Temos muitas coisas em comum: gostos, amigos…O amor há-de ir crescendo com o tempo.

– Percebo.

– Isabela é perfeita em todos os sentidos – insistiu Cash com um entusiasmo excessivo. – O amor há de vir…

– E se isso não acontecer? O que vais fazer então com a vivaz Isabela, abandoná-la e divertires-te com outras que conheças nas tuas viagens de negócios?

Cash fechou a caixinha com as mãos a tremer e voltou a metê-la no seu bolso.

– Estou arrependido por te ter contado. – Ela sabe que lhe vais pedir?

– Sabe que vou visita-la, mas não que a vou pedir em casamento.

– Enlouqueceste – concluiu Leo com uma gargalhada. – As mulheres apercebem-se sempre dessas coisas. Para mais, uma mulher como Isabela. De certeza que já está a planear o lugar onde lhe deves pedir… ao luar, ou à luz das velas, com uma música suave. Vão estar na praia ou na piscina e ela vai pôr a roupa mais sexy que alguma vez já viste. Conhecendo Isabela, até aposto contigo que vai de vermelho ou de preto. E só de te tocar ao de leve hás de estar de joelhos com a mão dela entre as tuas.

– Bom, qual é o problema de lhe pedir em casamento?

Leo fez um gesto com a mão que mostrou quanto lhe custava percebê-lo.

– Se isto não e uma fusão de empresas, nem amor a primeira vista, que te fez lançares-te de cabeça na aventura do casamento?

– Amor a primeira vista… na minha idade? – Cash começava a ficar incomodado.

– Que idade tens, trinta e cinco? – Leo voltou a olhar para o quadro. – Os gregos deviam adorar conversar contigo sobre o conceito de amor a primeira vista. Tróia caiu pelo poder desta deusa.

– Isso não e mais que um mito.

– Os mitos têm muita forca, e o amor também. A vida pode ser um tédio se não sentires paixão por alguém.

– Talvez seja assim para vocês italianos, mas eu sou americano.

– O povo menos romântico do mundo.

– Não, até temos alguns românticos, mas eu já estou demasiado velho e demasiado pragmático para essas coisas.

– Quanto tempo achas que vai aguentar a tua vivaz esposa latina com um tipo tão mole por marido, se tu não te apaixonares loucamente por ela?

Aquela conversa estava a incomodá-lo, mas não sabia como lhe pôr fim.

– A vida … e o amor, correm melhor quando não se fazem planos com antecedência.

– Ninguém se devia casar por casar.

– E talvez ninguém devesse dar conselhos a ninguém – ripostou Cash

– Está bem – cedeu Leo com alguma pena. – Então, parabéns.

– Tenho de apanhar um avião para Londres.

– Tens razão, e depois Isabela e o México

– Vou fazer o projecto de remodelação da casa dela na praia – disse-lhe Cash de caminho para a saída. – Como presente de casamento.

– E não achas que talvez ela gostasse de qualquer coisa um pouco mais… pessoal? – Leo fez uma pausa como se tentasse encontrar a forma de expressar as suas ideias. – Um último aviso, meu amigo. Penso que conheço o México bastante bem. É uma terra com uma forte mitologia, carregada de deuses milenários.

– O que é que isso tem a ver com que eu me vá casar?

– Tem a ver que ires lá e como estar a desafiar o destino.

– Que raio me estás a tentar dizer?

Leo olhou-o fixamente e encolheu os ombros, depois daquilo só falaram de coisas sem substância. Quando saíram para a rua chovia a potes, como no dia do funeral.

De súbito, Cash apercebeu-se de que, embora nunca fosse capaz de amar Isabela, tinha de casar.

Se não construísse novas lembranças com outra pessoa, acabaria por ficar louco.