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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Barbara Hannay

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Perdidos e… apaixonados, n.º 1418 - Março 2014

Título original: Outback with the Boss

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2001

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5063-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Grace Robbins abriu o saco e hesitou antes de tirar as cuecas e o sutiã. A relutância em vestir as peças de cetim preto e renda foi ainda maior. Por muito que se esforçasse, não arranjava coragem para seguir a sugestão extravagante da sua amiga Maria. Seria a primeira vez que usaria aquele conjunto sem qualquer outra peça de roupa.

– O problema está no teu temperamento – disse Grace a si própria ao espelho. Era uma questão de recato natural. Não gostava de se exibir aos homens, nem a ninguém. Andar de biquíni numa praia era a máxima exposição a que se permitia.

A solução talvez estivesse em avançar aos poucos. Dar um passo de cada vez. Se já tinha conseguido ir até ao apartamento do seu namorado e levara aquelas peças na mala, as hipóteses de dar mais um passo em frente num próximo encontro, como a sua amiga insistia que fizesse, seriam bem maiores.

Vestiu por fim a lingerie e voltou a ver-se ao espelho. Era espantoso o efeito que duas pequenas peças tinham ao tapar e, ao mesmo tempo, revelar o seu corpo. Talvez Maria tivesse razão. Se fizesse uma surpresa como aquela a Henry, o relacionamento tinha hipóteses de evoluir. E ela sentir-se-ia feliz e feminina como nunca se sentira antes.

Mas como? Mesmo que acabasse por reunir coragem para se apresentar a Henry vestida apenas com aquelas peças, o que deveria dizer-lhe para justificar o seu comportamento?

Sorriu sensualmente ao seu reflexo. Depois, fez uma careta. Não! Não seguiria o conselho de Maria. Estava a sentir-se ridícula.

Tentou fazer uma pose.

– Se me mostrares o que tens por baixo da roupa, Henry, eu mostro-te a minha lingerie preta. O que achas?

«Definitivamente, não!»

Meu Deus! Porque se dava ao trabalho de ensaiar poses? Não era o tipo de mulher que se insinuasse aos homens.

– Henry, aconteceu uma coisa horrível. Entraram ladrões na minha casa e deixaram-me sem nada para vestir. Só sobrou isto...

Um resmungo encerrou a hipótese. Não adiantava. Fazer de mulher fatal não era um papel que lhe assentasse. Não daria certo.

Grace consultou o relógio sobre o tocador e decidiu que ainda lhe restava algum tempo antes de entrar em pânico. Henry demoraria no mínimo uma hora a chegar. Podia tentar relaxar e pensar com calma.

Relaxar? Calma? Há dias que o bom senso não conseguia penetrar na sua mente tumultuosa. Tudo por causa de Mitch Wentworth! O seu novo chefe era o responsável por os seus nervos estarem em frangalhos!

Desde que Mitch Wentworth pusera os pés na empresa e assumira a direção, quinze dias antes, Grace não conseguia ter um único pensamento sensato. De onde surgira a ideia de Maria, senão da sua tagarelice sobre aquele homem? Não podia culpar a amiga. Bastara olhar para o seu novo chefe para não conseguir falar de outra coisa.

O projeto começara a formar-se durante um almoço. Maria apoiara os cotovelos na mesa do restaurante e inclinara a cabeça para a frente.

– Ora, porque não paras de te queixar dos contras e te concentras nos prós? Mitch Wentworth é o chefe mais bonito que uma mulher poderia desejar. Se ele está a assumir a direção da Tropicana Filmes e quer que continues no teu posto de assistente, terás de o acompanhar nas suas viagens, quer queiras, quer não. A propósito, viste-o na capa da revista Movie Mag deste mês?

Antes que Grace pudesse responder, Maria tirou um exemplar da mala e entregou-o à amiga.

– Claro que vi! – respondeu Grace, sem disfarçar a irritação. – A vontade que tive foi de pedir a minha demissão imediata. Aquele homem julga-se o rei das mulheres. Posou para o fotógrafo com uma de cada lado.

Os olhos de Maria brilharam ao ouvir tanta veemência.

– Mitch Wentworth é um dos homens mais bonitos que já vieram a este mundo. Achas realmente estranho que as mulheres façam fila para tentar conquistá-lo? O nosso novo chefe merece ser chamado de AMD.

– AMD?

– Alto, moreno e difícil de ter.

Grace franziu os lábios ao empurrar a revista para Maria.

– Eu daria uma outra versão ao «D». Alto, moreno e difícil de satisfazer. Tenho a certeza de que será horrível trabalhar com ele.

Maria levantou as mãos.

– Como podes dizer isso? Metade das mulheres que trabalham na indústria do cinema trabalharia de graça só para respirar o mesmo ar que ele respira.

– Chega! – retorquiu Grace. – Estou farta de te ouvir a ti e a Henry a falar da sorte que tenho por poder trabalhar com Mitch Wentworth.

– Henry? – Maria estalou os dedos. – Eu devia ter imaginado! Tu não estás assim por causa de Mitch Wentworth, mas por causa do teu namorado.

Grace abanou a cabeça.

– Cometi o erro de falar a Henry do tema do próximo filme de Wentworth, Um Novo Amanhã. Ele não faz mais nada a não ser criar imagens no computador para as apresentar a Mitch e tentar incluir o nome dele na ficha técnica do filme.

– Ou seja, Henry já não tem tempo para ti.

– Exatamente – concordou Grace.

Grace conhecera Henry assim que se mudara de Sidney para Townsville. Fora bom ter alguém com quem conversar, alguém que lhe mostrasse a cidade. Nos últimos quinze dias, porém, depois de Henry se tornar obcecado por impressionar Mitch, Grace percebera que o romance acabaria antes mesmo de começar.

A experiência de Grace com os homens não era das mais favoráveis. O envolvimento com o seu ex-namorado, Roger, deixara-a desconfiada em relação a todos os homens. O mundo do cinema era ingrato nesse sentido. Quanto mais bonito o homem, maior era o ego. A impressão que deixavam depois de um relacionamento era a de «usar e deitar fora».

O principal motivo do seu entusiasmo por Henry fora a ausência desse atributo. Henry não era bonito. Por outro lado, tinha qualidades que Grace preferia, como inteligência, seriedade e firmeza.

– Não é que Henry já não se interesse por mim. Ele anda com outras coisas na cabeça.

– Que coisas que uns olhos verdes como os teus e um par de belas pernas não vençam? – gracejou Maria.

– Os computadores são rivais impiedosos – respondeu Grace, sem conseguir conter uma gargalhada.

Maria demorou alguns instantes a perguntar:

– Vocês já tiveram alguma intimidade?

Constrangida, Grace passou uma mão pelo cabelo castanho-avermelhado.

– Teremos... Em breve. Eu gosto de Henry. É uma questão de tempo.

– De tempo? – Maria deu um gritinho. – Minha cara amiga, esquece Henry e começa a pensar mais alto.

– Não estou a perceber. O que queres dizer?

– Estou a falar de Mitch Wentworth.

Grace levantou-se da cadeira.

– O novo chefe? Não posso acreditar que estejas a dizer isso, Maria! O que aconteceu à tua lealdade? Lembra-te do que ele fez ao nosso antigo chefe, George Hervey. O coitado foi para a rua da amargura por causa daquele intruso – voltou a sentar-se e apertou a mão da amiga. – Obrigada por me deixares desabafar, mas não posso aceitar a tua sugestão. Não suporto sequer a ideia de trabalhar para Mitch Wentworth, quanto mais de... – respirou fundo. – Estou decidida. Quero ficar com Henry.

– Tens a certeza?

Naquele instante, Grace teve a certeza. Ter um namorado como Henry era o caminho certo e seguro. Ficar simplesmente ao lado de um conquistador como Mitch Wentworth seria o mesmo que saltar para um tanque cheio de tubarões.

– Só preciso de encontrar uma forma de fazer Henry esquecer os computadores e interessar-se novamente por mim.

De pensativa, Maria passou a sorridente.

– Não te preocupes, minha querida. Acabei de ter uma ideia genial. Será esta noite. Antes que o senhor Wentworth o distraia de vez, vamos nós distraí-lo. Faremos com que Henry repare em ti!

Grace arrependeu-se naquele instante das confidências que fizera. De repente, Maria pareceu-lhe demasiado insistente.

– Agradeço as tuas boas intenções, mas não te preocupes comigo.

Antes que acabasse de falar, os seus olhos procuraram a capa da revista.

Maria sorriu. Ela sabia exatamente o que passava pela mente da amiga. Assim que Mitch Wentworth assumisse o cargo na empresa e começasse a disparar as armas irresistíveis dos seus sorrisos e do seu charme, Grace ver-se-ia em maus lençóis. Ele ainda não tinha chegado e já era dono de grande parte dos pensamentos da sua assistente.

Como se lesse a mente da amiga, Grace concordou:

– Tudo bem, ganhaste. Darei uma última oportunidade a Henry. Qual é a tua ideia?

Ouvir a ideia foi fácil. O difícil seria pô-la em prática.

Bastava-lhe olhar para o espelho para ver a ansiedade estampada nos seus olhos e as mãos a tremer. Não tivera problemas em sair mais cedo do trabalho e ir para o apartamento de Henry para o surpreender quando ele chegasse. Esse tempo seria compensado oportunamente.

Mas... E quanto ao passo final?

A missão era impossível.

 

 

A sensação de paz que Mitch esperava sentir ao desembarcar em North Queensland não aconteceu. Estava ansioso. Talvez devido ao fuso horário. Um voo direto de São Francisco para Townsville, com uma única escala na sua cidade natal, Sidney, arrasaria a maioria das pessoas. Principalmente por esse motivo, seria um erro querer dar uma olhadela à sua mais recente aquisição, os estúdios da Tropicana Filmes, sem aviso prévio e depois do encerramento do expediente.

Naquela fase do projeto, só encontraria meia dúzia de pessoas a trabalhar, se tanto. O escritório devia estar quase vazio. Às seis e meia, nem sequer a eficiente e altamente recomendada menina Robbins devia estar lá.

Com todos os elogios que George Hervey fizera sobre a sua dedicação à empresa, chegara a pensar que, munida do número do voo e da hora de chegada que ele lhe mandara por faxe, talvez ela fosse esperá-lo ao aeroporto.

Assim que desembarcou e se encaminhou para a recolha da bagagem, Mitch prestou atenção a todas as mulheres de meia-idade com roupas formais ou que exibissem algum sinal de eficiência. Era a imagem que tinha de Grace Robbins, baseada no relato de George.

Quanto à cordialidade, foi levado a concluir que os elogios de George tinham sido exagerados. O deslize era lamentável. Nem ela nem ninguém o esperavam no aeroporto e precisava mais do que nunca de uma equipa, e principalmente de uma assistente pessoal em quem pudesse confiar, depois de ter investido todo o seu dinheiro naquele projeto.

Mitch respirou fundo enquanto tentava ser razoável. Talvez não estivesse a ser justo com a mulher. Como podia esperar um comité de boas-vindas se tinha chegado a Townsville praticamente sem se anunciar? O faxe não fora enviado com antecedência. Pelo contrário. Mandara-o de Sidney, onde fizera escala.

Conforme esperava, o escritório estava totalmente vazio. Parou diante da porta de Grace Robbins e examinou a sala. O computador estava desligado. Havia uma pilha de papéis em cima da mesa e alguns faxes que ele não tinha o direito de vasculhar. Pelo menos, não era do tipo que decorava a mesa de trabalho com fotografias de familiares ou objetos de cunho pessoal. Não gostava de pessoas que misturavam a vida profissional com a vida particular.

De repente, viu um exemplar da Movie Mag no canto da mesa. Pegou na revista e franziu o sobrolho. Alguém desenhara um bigode à Adolf Hitler no homem da capa, que, por acaso, era ele. Como se isso não bastasse, tinham-lhe desenhado uns óculos e pintado de preto uma porção de dentes, fazendo com que parecesse desdentado.

Enquanto respirava fundo e dobrava a revista para a guardar no bolso, Mitch deixou a sala. A diferença de fuso horário nunca o afetara tanto.

Aproximava-se das portas de vidro que davam para a rua quando uma figura alta e morena lhe chamou a atenção. O homem gesticulava e olhava para ele. Parecia querer dizer-lhe alguma coisa. A esperança de que pelo menos um dos funcionários se tivesse lembrado dele fê-lo apressar o passo. Assim que abriu a porta, o sujeito estendeu-lhe a mão.

– Senhor Wentworth?

Mitch fez um gesto afirmativo com a cabeça e estendeu a mão por sua vez.

– Com quem tenho o prazer de falar?

– Henry Aspinall. Muito prazer. Aliás, devo dizer que é uma grande honra conhecê-lo. Foi uma sorte encontrá-lo aqui, senhor Wentworth. Tentei ligar para Grace a tarde inteira para saber a hora de chegada do seu voo e...

Mitch interrompeu o entusiástico relato.

– Grace? Grace Robbins? Conhece-a?

– Claro. Acabo de voltar do apartamento dela. Como não consegui contactá-la pelo telefone, fui até lá. Mas Grace não estava em casa e resolvi vir verificar se estava aqui.

– O escritório está vazio. Não há ninguém.

– Bom, não importa – disse Henry com um sorriso. – Realmente, era com o senhor que eu queria falar. Recebeu os meus e-mails?

Mitch esfregou a testa numa tentativa de afastar o entorpecimento da sua memória.

– Aspinall, Aspinall...

Henry aproveitou a hesitação.

– Grace falou-me do projeto Um Novo Amanhã, que será filmado em North Queensland, e eu fiz um trabalho gráfico que talvez lhe interesse.

A memória de Mitch despertou de imediato.

– Sim, é claro. Você inundou o meu escritório de Los Angeles de mensagens. Criou alguns gráficos para as cenas de batalhas.

Uma expressão de júbilo surgiu no rosto de Henry.

– Exatamente! O que achou? Gostaria de os ver?

– Importa-se que conversemos pelo caminho? Vou para o hotel.

– Não há problema. Onde vai ficar hospedado? No Sheraton? O meu carro está à sua disposição.

Mitch ponderou. Porque não aceitar a boleia oferecida pelo rapaz? Fossem outras as circunstâncias, recusaria a oferta, mas naquele momento era um alívio para o seu ego ser perseguido por um fã.

– Eu moro perto do Sheraton. Poderíamos subir por um instante e eu mostrava-lhe os meus...

– Sim, porque não?

Mitch respirou fundo ao entrar no carro. Faria com que a visita não durasse mais de cinco minutos. Tudo o que queria naquele momento era ir para o hotel e deitar-se.

– Que estranho... – murmurou Henry ao parar o carro diante do prédio de três andares onde morava. – Não me lembro de ter deixado as luzes acesas.

Os dois homens entraram no prédio e seguiram pelo corredor. Henry tirou a chave do bolso, mas, antes que a introduzisse na fechadura, a porta foi aberta.

– Surpresa!

Mitch pestanejou ao ver uma linda jovem quase nua. Ao lado dele, Henry emitia sons que traduziam o seu total espanto.

A mulher era uma verdadeira deusa, alta e curvilínea. A pele alva e perfeita contrastava magnificamente com os cabelos avermelhados. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi a expressão dos olhos. Não combinava com a imagem de tentação que tentava transmitir. Parecia constrangida. A sua postura fê-lo pensar numa rapariga tímida obrigada a pisar o palco pelos pais ambiciosos e sonhadores. Tinha o corpo de uma mulher fatal e o ar de uma menina vulnerável.

– O que se passa aqui? – perguntou Henry, com tom de censura.

Ela deixou-se cair contra a porta como se fosse uma marioneta cujos fios tivessem sido cortados. Em seguida, olhou para Mitch e recuperou a fala.

– Oh, meu Deus! – cruzou os braços sobre o peito. – Oh, não!

Uma fração de segundo depois, a porta foi fechada na cara dos dois homens.