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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Marie Rydzynski-Ferrarella

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Atracção Proibida, n.º 5 - mayo 2017

Título original: The Bride Wore Blue Jeans

Publicada originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9629-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Epílogo

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Capítulo 1

 

Sentia falta deles.

Kevin Quintano meteu a fotografia que tinha estado a observar durante mais de dez minutos sobre o aparador e deixou escapar um suspiro. Parecia que ainda ouvia a gargalhada de Jimmy só pelo facto de olhar para a fotografia da cerimónia de entrega de diplomas da faculdade de Medicina. Alison, Lily, Jimmy e ele. Sentia mesmo a falta deles.

Sentia a falta do som das suas vozes, da alegria da casa, do bom humor dos seus irmãos mais novos. Punha-se a faltar da vida de antes.

Havia alturas em que o silêncio se tornava demasiado opressivo. Para o afastar, ligava o rádio ou a televisão, ou ambas as coisas, com o propósito de ouvir o ruído de vozes pela casa.

Mas o silêncio não era o pior. O pior era a solidão.

Podia dizer-se que tinha trinta e sete anos de idade, sem dívidas, mais dinheiro do que precisava e, pela primeira vez na sua vida, podia divertir-se e passar momentos agradáveis.

– Que inveja, Kevin! Agora sim, podes festejar à grande – dissera-lhe Nathan na sua festa de despedida. O homem grande e alto e outros taxistas, que tinham trabalhado para ele, reuniram-se e prepararam-lhe uma festa.

O problema era, pensou Kevin, que tinha que fazer comida quando, na verdade, não tinha vontade de comer e também não queria festa nenhuma.

A única coisa que queria era estar ocupado, ter uma vida de tal modo preenchida que não tivesse tempo livre para pensar em nada.

Kevin olhou fixamente para o frigorífico. Estava vazio. Tinha-se esquecido de fazer as compras no supermercado. Outra vez. Lily estava habituada a encarregar-se disso, porque ele estava sempre muito ocupado.

Demasiado ocupado.

Sempre fora assim desde que fizera dezassete anos. Depois de ter feito uma falcatrua com a sua certidão, ficara responsável pela educação dos seus irmãos. De repente, tornou-se pai e mãe de três meninos.

E agora, pensou, também de repente, estava a experimentar a síndrome da casa vazia.

Este era provavelmente o motivo pelo qual tinha vendido a companhia de táxis. Num momento de fraqueza, Nathan e Joe tinham-no convencido de que talvez o que precisasse fosse de uma grande mudança na sua vida.

A empresa de táxis tinha permitido dar estabilidade à sua família e pagar a universidade de Jimmy. Ao mesmo tempo, também tinha servido para pagar os estudos de enfermagem da pequena Alison e abrir o primeiro restaurante de Lily.

Para quê aquilo tudo?

Para acabar sozinho.

Só. Enquanto eles, as três pessoas mais importantes da sua vida, tinham partido, um a um, para viverem no Alasca, num lugar longínquo chamado Hades.

Kevin voltou para sala e sentou-se em frente da televisão, onde uma mulher tentava desesperadamente escapar de uma multidão de aranhas. Os programas do meio-dia eram muito maus.

Sentia-se demasiado sozinho.

Sabia que tinha que se sentir orgulhoso dos seus irmãos e da generosidade que tinham demonstrado. Alison tinha sido a primeira a partir, porque em Hades precisavam de uma enfermeira e ela precisava de trabalhar. Em princípio ia ser só algo temporário, até que aparecesse alguma coisa mais perto de casa. Porém, o verdadeiro problema surgiu quando se apaixonou.

Quando Jimmy foi vê-la, aconteceu-lhe o mesmo, também se perdeu de amores por uma rapariga de lá, que era nada mais, nada menos, que April Yearling, a neta da chefe da estação dos correios. Hades e os seus arredores precisavam de um médico urgentemente, e Jimmy encontrou ali o seu lugar.

Quando Lily rompeu com o seu namorado, foi visitar os irmãos para recuperar da desilusão amorosa. Pensava ficar ali durante duas semanas, mas encontrou o alívio das suas feridas e do seu coração partido no xerife de Hades, Max Yearling, que, por coincidência, era irmão de April.

Era como se o destino estivesse a conspirar contra ele e levasse a sua família para um lugar remoto, afastado da civilização, onde passavam seis meses por ano a temperaturas abaixo de zero.

Kevin tinha esperado que o Alasca fosse apenas uma fase transitória para Lily. Ela sempre fora muito forte, e nunca arriscava entregar o seu coração de mão beijada para não acabar a sofrer. Da última vez que tinha falado com ela, dissera-lhe que estava a pensar em levar comida «a sério» aos habitantes de Hades, e que tinha pensado abrir ali um restaurante. Ele já conhecia aqueles sinais, porque já tinha passado por aquela situação antes. Lily, tal como Alison e Jimmy, estavam a instalar-se para ficar.

Incapaz de continuar a ver o modo como as aranhas destruíam várias presas, Kevin mudou de canal. As notícias da tarde também não eram muito divertidas. Deixou o comando sobre a mesa e desistiu.

A inquietação persistia.

Era aquela inquietação que lhe tinha permitido que cedesse aos conselhos de Nathan e Joe para que vendesse o negócio. A princípio, dedicara-se àquele negócio para se distrair, mas, depois, a oferta que lhe fizeram fora tão boa, que seria uma loucura recusá-la.

Portanto ali estava, um homem inútil, que não sabia o que fazer com tanto tempo livre. Estava a começar a odiar aquela inactividade porque ele não era homem para estar de braços cruzados.

Foi por este motivo que esteve à procura no jornal de domingo de negócios para investir o seu dinheiro, para fazer qualquer coisa que o afastasse daquela casa solitária. A casa que tinha visto ele e os seus irmãos crescerem.

– O que tu precisas é de uma mulher bem bonita, que te faça esquecer tudo – esta fora a solução que ouvira da boca de Nathan para resolver os seus problemas, enquanto bebiam uma cerveja.

As mulheres bonitas eram a solução para todos os problemas, segundo Nathan, incluindo o aquecimento global da Terra e a ameaça de invasão alienígena. No entanto, essa não era a sua solução, pensou Kevin. Nem sequer pensava nisso.

Levantou-se, desligou a televisão e voltou a ler o jornal. Ia dar outra vista de olhos no jornal, podia ser que agora, com mais calma, encontrasse o que realmente procurava.

A aparência nunca tinha significado nada para ele. O coração sim. O coração, a alma e a paciência. Todavia, todas as mulheres que conhecia com essas características estavam casadas há muito tempo.

Além disso, também não havia a possibilidade de uma mulher bater à sua porta. Contudo, essa seria a única forma de conhecer alguém. Não acreditava nos modos tradicionais de conhecer pessoas do sexo oposto. Nunca tinha acreditado neles. E agora que não conduzia um táxi, nem sequer de maneira ocasional, não havia a mínima possibilidade de conhecer alguém.

Kevin fez uma pausa, tentando recordar a última vez que tinha saído com alguém.

Mas este não era o motivo pelo qual procurava um negócio para investir a sua fortuna. Simplesmente queria fazer alguma coisa. Algo produtivo.

Fosse o que fosse.

Já não tinha o negócio dos táxis há cinco dias e pensava que estava a enlouquecer.

O telefone tocou, e ele pegou no auscultador como um náufrago que se agarra a uma bóia de salvamento.

Se fosse um vendedor, este ia ser o seu dia de sorte, decidiu ele. Pensava comprar, desde que comprar significasse ouvir o som da voz de outra pessoa.

– Estou?

– Kev?

Kevin sentiu que se acendia como se fosse uma árvore de Natal. A voz da sua irmã Lily era a melhor coisa que podia ouvir naquele momento.

– Lily, que alegria ouvir-te! Como estás? – mordeu a língua para não lhe fazer a pergunta que girava pela sua cabeça: «vais voltar para casa?» Ele já conhecia muito bem a resposta, e perguntar não ia mudar nada.

– Estou fantástica, Kev. Mais que isso: estou radiante!

Ele não tinha que a ver para saber que estava a brilhar. Sentia a felicidade da sua voz e aquilo significa que não voltaria para Seattle.

Também havia outra coisa na sua voz que reconheceu imediatamente.

– Vais casar-te?

Do outro lado do telefone houve uma pausa.

– Mas… mas como é que adivinhaste o que eu ia contar-te?

Ele deu uma gargalhada.

– Já tive esta conversa antes, sabes? Duas vezes, para ser exacto – recordou. – Quando Alison telefonou para me dizer que ia casar-se com Luc, e quando Jimmy telefonou para me dizer que ia ficar a trabalhar por lá. Era preciso um médico naquela terra, e aproveitou para me dizer que ia casar-se.

Se Jimmy, um tipo conhecido por ser um solteiro inflexível, sucumbia aos encantos de uma nativa do lugar, Kevin tinha intuído que Lily não demoraria muito. Especialmente, quando não há muito tempo lhe tinha telefonado para fazer uma descrição completa de Max Yearling. Era só uma questão de tempo.

Kevin estava feliz por ela, mas triste por ele. Fez tudo o que pôde para parecer feliz com aquela notícia.

– Portanto o xerife faz-te feliz?

Lily deixou escapar um suspiro. A sua voz estava com tanta satisfação que era impossível não reparar.

– Muito mais do que possas imaginar.

Kevin não conseguiu evitar sorrir.

– Não exijo os detalhes, Lily.

– Também não estava a pensar contar-te nada! – informou-o ela, entre gargalhadas. – Mas quero que venhas. Para o casamento. É daqui a três semanas, e quero pedir-te mais um favor…

– Diz lá – disse ele.

– Quero que sejas o meu padrinho.

Ele pensou que ela estava a brincar com ele.

– Fico muito orgulhoso, Lily.

Ele percebeu que ela tinha ficado comovida. Lily odiava ser uma sentimental.

– Sei que não gostas de te afastar do negócio, mas talvez Nathan ou Joe possam assumi-lo enquanto…

Ele interrompeu-a.

– Não há problema. Vendi-o.

Do outro lado não se ouviu nada. Só silêncio como resposta. Tudo acontecera tão rapidamente que não tinha tido tempo de dizer a nenhum deles que estava a pensar vender, ou melhor, já tinha assinado o contrato de venda, e que os Táxis Quintano já faziam parte do passado.

– Lily, ainda estás aí?

Ele ouviu-a tomar fôlego.

– Sim, acho que houve problemas com a ligação. Pareceu-me ouvir-te dizer que…

Ele não queria ouvi-lo dos seus lábios. Não podia explicar o motivo exacto, mas não queria ouvir nenhum dos seus irmãos mencionar o que ele tinha feito de maneira tão impulsiva.

– Ouviste bem.

– Mas, Kevin, porquê?

A última coisa que lhe apetecia naquele momento era falar daquele assunto pelo telefone. Primeiro, tinha que se habituar à ideia de que os Táxis Quintano já não eram dele, e só depois podia explicar aos outros porque fizera aquele negócio.

– Pareceu-me o mais oportuno – disse, e mudou de assunto. – Com que então é já daqui a três semanas, eh? Isso é pouco tempo. De certeza que deves ter um monte de coisas para fazer.

– Eu sei – disse ela a suspirar, como que tentando imaginar o que a esperava. – Tenho que começar a tratar disso…

De repente, descobriu algo com que se ocupar para passar o tempo. Pelo menos, durante as próximas três semanas.

– Vais precisar de ajuda. Vou mais cedo para te ajudar.

– Ah, sim? – perguntou ela, ainda espantada. – Quando?

Se não estava errado, tinha acabado de surpreender Lily pela segunda vez essa tarde.

– Neste momento não estou a fazer nada. Vou partir o mais rápido possível – disse, enquanto caminhava para o aparador, onde guardava as moradas e números de telefone. – Vou já fazer a reserva de um voo e telefono-te mais tarde para te confirmar as horas a que chego.

Lily ainda estava estupefacta.

– Está bem – disse de maneira quase inaudível.

– Óptimo. Telefono-te depois, adeus.

Lily desligou o telefone lentamente. Depois, virou-se para olhar para o resto da família que estava com ela. Os seus irmãos estavam com os respectivos parceiros, e June também estava, e todos faziam questão de estarem sempre presentes quando havia reuniões de família. Alison e Jimmy olharam para ela, surpreendidos, claramente incomodados por não terem tido a oportunidade de falar com Kevin.

Jimmy ficou a olhar para o telefone da clínica, um dos poucos em Hades em que não era preciso pôr o dedo no disco para marcar. Depois, olhou para a sua irmã.

– Desligaste.

– Ele desligou primeiro – murmurou ela, olhando para o auscultador, sentindo como se uma parte do seu mundo ficava estático.

Max aproximou-se dela.

– Lily, que se passa? Ele não vem?

Ela assentiu lentamente. Tinha vendido o negócio. Bolas! Nunca pensou que o seu irmão fosse desfazer-se do serviço de táxis.

– Oh, sim. Claro que vem – ergueu o olhar, e olhou para os outros.

– Que se passa então? – perguntou Max.

Lily dirigiu-se a ele.

– Kevin disse-me que vendeu o negócio.

– O quê? – perguntou Jimmy com os olhos muito abertos. Tinha passado sete Verões da sua vida a conduzir um dos táxis de Kevin. De repente, sentiu como se alguém da família tivesse morrido.

Lily voltou a olhar para ele.

– Vendeu o negócio – incapaz de se habituar à ideia, moveu uma mão no ar. – Pareceu-lhe oportuno.

Olhou para eles um a um, como se estivesse à espera que algum decifrasse o mistério, que algum tivesse a explicação. Porque é que Kevin faria uma coisa daquelas? Ele adorava o seu trabalho.

June Yearling levantou os seus ombros arredondados, perguntando-se porque todos pareciam estar tristes com aquela notícia. As pessoas vendiam negócios todos os dias. Com efeito, ainda não tinha sido há muito tempo que ela tinha vendido o seu, que era simplesmente a única oficina de carros no raio de duzentos quilómetros. Desfez-se da oficina, porque lhe tinham parecido o mais indicado naquele momento.

– Talvez fosse mesmo – disse-lhe a namorada do irmão. – Talvez estivesse com algum problema e essa fosse a única solução para o resolver.

Lily deixou escapar um suspiro. Aquilo não fazia sentido nenhum para ela. Kevin tinha-se precipitado, e não era o seu estilo. Porque não tinha pedido opinião a nenhum deles? Olhou para Jimmy e para Alison, mas eles pareciam tão atónitos como ela.

Lily acariciou os seus braços, apesar de não fazer frio.

– Mas ele teve este negócio durante toda a sua vida!

June pensou nela mesma, nos seus sentimentos, quando tomara a decisão de vender.

– Se calhar foi esse o motivo: já o tinha há muito tempo. Talvez precise de algo novo. Talvez se tenha cansado… – mordeu o lábio quando percebeu que estava a dar motivos pessoais para vender a oficina, e que talvez a situação dela fosse bastante diferente da dele. – Bom, na verdade há um ditado que diz que «mais vale o mau conhecido que o bom por conhecer», não é assim?

Max riu-se sem conseguir evitar, abanando a cabeça. June, June. Talvez tivesse a cara de um anjo, mas era a mais selvagem da família, especialmente desde que April deixara de vaguear pelo mundo, e tinha voltado para Hades. June nunca falara em abandonar aquela terra, algo que a maior parte da juventude fazia. Apesar de tudo, sempre fora muito inquieta. De uma maneira ou de outra, era uma mulher cheia de surpresas.

– Se este fosse o caso – disse, – tu não terias vendido a oficina a Walters Haley, e não terias anunciado que ias gerir a aldeia da família.

A aldeia da família.

Aquilo era quase um eufemismo para descrever aquela aldeia. Na verdade, a terra há anos que estava abandonada. Tinham-na deixado sem pensar duas vezes, quando April, June e Max se mudaram com a sua mãe para casa da sua avó, depois de o pai os ter abandonado. A ideia de gerir a aldeia também tinha passado pela mente de Max algumas vezes, mas logo as pusera de parte. A aldeia necessitava de um xerife, e ele gostava do posto. Tinha sido um sortudo ao encontrar o trabalho que realmente lhe dava prazer fazer.

June olhou para as mãos com o sobrolho franzido. Agora estavam muito limpas, de tanto esfregar, mas ainda tinha marcas escuras. Nunca fora uma rapariga que gostasse de se arranjar muito, e nunca tinha tentado competir com a sua irmã nem com nenhuma outra rapariga da aldeia. Ela própria tinha os seus limites.

– Estava cansada de tirar óleo das mãos – respondeu. Olhou com ar acusador para o seu irmão mais velho, que adorava. – Uma mulher tem o direito de ter as mãos limpas.

Max olhou para ela com inocência.

– Eu nunca disse o contrário.

Alison continuava preocupada com o seu irmão.

– Talvez esteja a passar a crise dos quarenta – disse, pensativa.

Luc não conseguiu evitar uma gargalhada. Sempre tinha gostado de Kevin.

– Só tem trinta e sete anos. Não estejas a fazer dele um homem mais velho.

June olhou para ele. Talvez fosse a mais nova do grupo, mas, na sua opinião, a idade não tinha nada a ver com o conhecimento.

– Bom, talvez tenhas razão e trinta e sete não seja uma idade para se ter uma crise – disse, condescendente. – Talvez a única coisa que precise seja de uma mudança – com a franqueza da juventude, olhou para os irmãos de Kevin. – Afinal de contas, todos vocês o abandonaram.

Aquilo parecia uma acusação. Lily trocou um olhar com Jimmy.

– Nenhum de nós planeou esta situação – Alison protestou por todos eles.

June encolheu os ombros. Tinha que voltar ao trabalho. A terra não ia cuidar de si mesma. E ainda tinha que ordenhar as vacas.

– Mas foi isso que aconteceu. Talvez ele esteja a pensar que chegou o momento de começar do zero.

Jimmy olhou para ela, pensativo.

– Para Kevin seria como começar pela primeira vez. Ele nunca teve muito tempo para si mesmo – disse aos seus cunhados. – Sempre esteve ocupado a trabalhar para nós, e nunca se dedicou a ele em nenhum momento da sua vida.

June olhou para ele, triunfante.

– Mistério resolvido! – anunciou.

Alison olhou para Jimmy, com uma sensação estranha.

– De qualquer forma, sinto-me muito estranha ao saber que vendeu os táxis.

Jimmy assentiu. Os três já tinham conduzido aqueles táxis, nem que fosse por uma vez. Até Lily já os conduzira. E foi num táxi que Alison conheceu Luc. Ele tinha ido a Seattle procurar alguém que não se importasse de se fazer passar por sua mulher, para cobrir uma mentira piedosa. Entretanto, Alison estava a ser assaltada e Luc foi ferido num braço para a salvar. Como forma de agradecimento, sobretudo depois de saber que estavam a precisar de uma enfermeira em Hades, Alison aceitou fazer-se passar por mulher de Luc. June dirigiu-se para a porta e, antes de abrir, voltou-se.

– Se calhar ele sente-se mais estranho sem nenhum de vocês lá – abriu a porta. – Bom, tenho que ir trabalhar. Até logo.

Max abanou a cabeça. Passou um braço pela cintura de Lily, e apertou-a para afastar dos seus olhos aquele olhar de culpa.

– Sempre disse que June era a alegria da casa.

Jimmy tinha ficado muito pensativo. A última vez que Kevin tinha ido a Hades fora para assistir ao seu casamento. Naquela época, June, com vinte anos, tinha-lhe parecido demasiado nova. Agora, já não era uma jovem.

– Isso é o que podemos dizer a Kevin para que ele se sinta mais alegre e mais útil.

– Dizer? – repetiu Lily. – Dizer o quê? Do que estás a falar?

Mas Alison já percebera a sua intenção.

– Diremos a Kevin que June precisa que a alegrem um pouco – disse, satisfeita. – Quando se trata de resolver os problemas dos outros, Kevin é o melhor – olhou para os outros. – Sente a falta de ter que nos ajudar.

Lily respirou fundo.

– Pode ser que resulte.

– Talvez – pensou o seu noivo.