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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Liz Fielding

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Abre o coração, n.º 1194 - Dezembro 2015

Título original: Wedded in a Whirlwind

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2010

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7525-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Miranda Grenville aguentou durante o baptizado duplo, segurando cada criança à vez para fazer as promessas pertinentes enquanto o padre pronunciava os seus nomes.

Minette Daisy…

Jude Michael…

Esteve de pé com as mamãs felizes, primeiro com a sua cunhada Belle e depois com a irmã de Belle, Daisy, sorrindo enquanto tiravam fotografias. Inclusive ela mesma tirou algumas.

Era, sem dúvida alguma, uma ocasião feliz e Miranda não deixou de sorrir, apesar das sensações tumultuosas que a consumiam por dentro.

Aprender a controlar as suas emoções fora muito mais difícil do que diziam os livros; nos livros era fácil. Mas, quando finalmente a dor se tornou tão profunda que era fundamental escondê-la para sobreviver, tirou forças de algum lugar.

Não fora sempre assim.

Existira uma altura em que não escondia nada, deixando as suas necessidades emocionais à vista de toda a gente. Fora uma lição dura, que aprendera a olhar para Ivo, o seu irmão. Pensava que ele era imune, mas o poder de um amor que ia além do que conseguia compreender e a alegria da paternidade tinham destruído a jaula gélida que em tempos prendera o seu irmão. E, agora, ela estava sozinha, aprisionada pelo segredo que nunca tinha contado a ninguém, nem sequer ao seu irmão.

De modo que lhe sorriu naquele dia tão feliz. Embora soubesse que não ia enganá-lo, porque Ivo a conhecia muito bem.

Ver que a observava, ver a sua ansiedade em relação a ela a obscurecer os seus olhos no que deveria ter sido o dia mais feliz da sua vida fazia-a sentir-se um espectro na festa. Tinha de partir antes que insistisse em falar com ela e lhe fizesse a pergunta que conseguia ver nos seus olhos.

«Posso fazer alguma coisa?»

A reposta era, tinha de ser, que não. Já tinha feito mais do que o suficiente. Ele fora a sua tábua de salvação, mantendo-a à tona, mesmo quando estivera prestes a afundá-lo também.

Mas agora era responsável pelo seu filho e ela tinha de cortar os laços que os ligavam, libertá-lo finalmente. Tinha de o convencer de que já não precisava dele, de modo que sorriu até lhe doer a cara, brindou às crianças, tirou fotografias com o telemóvel, provou o bolo…

Estava prestes a desabar quando a sua cunhada anunciou que tinha de dar de comer a Minette e Miranda decidiu aproveitar a oportunidade.

– Belle, tenho de me ir embora.

– Tão cedo? – perguntou a sua cunhada, pegando na sua mão. Não para a reter, mas num gesto típico dela, cheio de um carinho que talvez Miranda não merecesse.

Tinha-lhe custado a intrusão da bela Belle Davenport na vida do seu irmão. Tinha-a odiado por ser o tipo de pessoa que atraía as pessoas, porque Ivo não conseguia viver sem ela… e tinha feito todos os possíveis para que se sentisse desconfortável.

Estúpida!

Ela, melhor do que ninguém, deveria saber que, quando Ivo entregava o seu amor a alguém, esse amor era intocável.

– Tenho de apanhar um avião – disse-lhe. – Este mês, estive muito ocupada com a investigação para o documentário sobre adopções e pensei tirar alguns dias de férias antes de começar a filmar.

Entretanto, Belle e Daisy estavam de baixa de maternidade na produtora de televisão que as três dirigiam.

– Que bom! Vais para algum sítio interessante?

– Para um sítio sem telefone – respondeu Miranda, irónica.

O tom cáustico tornara-se a sua imagem de marca. Embora ir para um sítio sem telefone não fosse assim tão má ideia, pensou. Mas depois, quando Minette procurou o seio da sua mãe e começou a mamar, a máscara desapareceu e teve de desviar o olhar.

– Diz a Ivo que me fui embora, está bem? E a Daisy.

– Não vais despedir-te?

– É melhor que me vá embora sem dizer nada – Miranda encolheu os ombros. – Sabes como é o meu irmão, quererá saber para onde vou e far-me-á prometer que lhe telefonarei todos os dias.

Uma promessa que não poderia cumprir.

Tinha de se afastar por completo. Dar-lhe espaço para que desfrutasse da sua nova família. Fugir de um excesso de carinho e ir para um sítio onde ninguém a conhecesse, onde poderia deixar de sorrir, estar furiosa, ser ela mesma…

Prestes a dizer qualquer coisa, a sua cunhada pareceu mudar de ideias e apertou a sua mão.

– Obrigada, Manda.

– Porquê? Garanto-te que, em breve, lamentarás ter-me convencido a ser a madrinha de Minette. Penso dar um exemplo muito mau aos meus dois afilhados.

Belle abanou a cabeça, sorrindo.

– Obrigada, não só por seres a madrinha de Minette, mas também por seres tão encantadora com Daisy, por lhe dares um emprego, um propósito na vida quando mais precisava.

– Não o teria feito se ela não tivesse demonstrado que o merecia.

Tinha ajudado a irmã de Belle por causa do seu irmão, como uma maneira de compensar o mal que lhe tinha feito. Embora entendesse Daisy como Belle nunca conseguiria entendê-la. Porque ela tinha estado no mesmo lugar escuro.

– Diz a Daisy que nem pense em deixar de trabalhar. Passei demasiado tempo a treiná-la para que agora nos deixe penduradas.

– E obrigada por não teres dito nada quando Ivo vendeu a casa – continuou Belle, que se recusava a não dizer o que queria dizer. – Sei como isso deve ter sido difícil para ti.

Difícil…

A mansão de Belgravia tinha pertencido à sua família durante gerações. Era um lugar para jantares e festas com políticos e empresários que ela mesma organizara para o seu irmão. Aquela casa fora a sua vida… quando não tinha uma vida.

Belle, que odiara a mansão desde o início, não sabia como fora difícil despedir-se daquela casa, mas, até com um nó na garganta, Miranda manteve o sorriso.

– Seria demasiado grande só para uma pessoa – disse-lhe. – Bom, tenho de ir.

– Miranda…

– Já.

Miranda dirigiu-se para a porta antes que Belle fizesse alguma tolice, como abraçá-la, por exemplo. Antes que as lágrimas que ameaçavam aparecer nos seus olhos arruinassem a imagem de mulher fria que tão cuidadosamente construíra durante aqueles anos.

 

 

Nick Jago sentou-se num banco e o empregado, um australiano de rosto curtido, cujo iate tinha ficado encalhado em Cordillera de la Costa dez anos antes e nunca tinha reunido forças para o tirar de lá, serviu-lhe uma chávena de café.

– Há algum tempo que não vinha aqui.

– Só vim buscar o correio. O que chamam civilização por aqui não me parece nada interessante.

– É possível que tenha razão, mas, estando sozinho nas montanhas, não sabe das notícias – o homem tirou um jornal inglês de debaixo do balcão. – Guardei isto para si.

Jago olhou para a primeira página de uma publicação barata que tinha o descaramento de dizer que era um jornal. Outro político que teriam apanhado com as calças em baixo. Outra família arrasada.

– Não, obrigado, Rob. Não estou assim tão desesperado por ler alguma coisa.

– Não é isso. Há uma fotografia que poderia interessar-lhe.

– Pode ficar com as suas fotografias de raparigas bonitas. Fliss voltará em breve e eu prefiro uma coisa real.

– Tem a certeza?

Nick encolheu os ombros. Só tinha certeza da morte e dos impostos. Ah, e de que a despedida de Fliss tinha sido acompanhada de um beijo longo e profundo, muito melhor do que uma promessa. Mas Rob parecia saber alguma coisa que ele não sabia.

– Porque tenho a impressão de que está prestes a dar-me um desgosto?

– Detesto ser o portador de más notícias, meu amigo, mas receio que a sua Fliss poderá ter outras coisas em mente – Rob abriu o jornal e mostrou-lhe um artigo de duas páginas. – «Sexo, escravidão e sacrifícios. Excertos exclusivos do sensacional diário da bonita arqueóloga Fliss Grant» – leu em voz alta.

Jago, com a chávena nos lábios, pousou-a lentamente no prato.

Arqueóloga?

Fliss era uma estudante de pós-graduação, que um dia aparecera na sua escavação. Uma voluntária que trabalhava para adquirir experiência. Havia centenas de raparigas como ela… Bom, talvez não exactamente como ela. Mas isso não a transformava em arqueóloga, por muito ardentes que fossem os seus beijos.

Rob, com a impressão errada de que queria continuar a ouvir, continuou:

– «Descubra os segredos do desaparecido Templo do Fogo em Cordillera de la Costa. Faça umas férias nessa exótica ilha paradisíaca e veja por si mesmo o altar de sacrifícios…».

– O quê?

Jago tirou-lhe o jornal.

Um olhar para a fotografia de uma loira voluptuosa, a mostrar mais pele do que qualquer ajudante de arqueólogo deveria mostrar, foi mais do que o suficiente.

Embora Fliss Grant não fosse normal em nenhum sentido.

Não tinha sabido nada dela desde que partira da ilha no fim da temporada, quando tinham começado as chuvas, mas também não o esperara. Além disso, não havia rede de telemóvel nas montanhas.

Mas tanto fazia, porque conversar com ela nunca fora a atracção principal e tinha muitas coisas para se manter ocupado.

Quanto ao serviço de correios de Cordillera de la Costa… Bom, mesmo que Fliss tivesse decidido escrever-lhe, seria uma questão de sorte. Por isso, quando se oferecera para levar uma cópia dos CDs que continham os seus diários e fotografias ao seu editor, ele dera-lha sem pensar duas vezes.

Jago olhou para a fotografia.

Os calções muito curtos, uma gota de suor estrategicamente posta entre os seios, os lábios húmidos e a pose provocante indicavam o tom dos diários escritos por… aquela atrevida Indiana Jones, que enfrentara aranhas, escorpiões e cobras venenosas para descobrir os segredos do passado misterioso da ilha.

Escritos por ela?

 

Eu sabia que os templos existiam e decidi prová-lo. Agora, poderão verificar o que tive de sofrer para descobrir a verdade terrível daquele altar de sacrifícios.

 

– Meu Deus, dai-me forças… – murmurou Jago, incrédulo.

Conseguia entender a tentação de aproveitar aquela oportunidade para ganhar dinheiro com os seus diários, com o seu trabalho. Rodeado pelas suas coxas ardentes, até poderia ter-lhe perdoado. Mas havia uma fotografia de Fliss com Felipe Domínguez, o ministro do Turismo de Cordillera de la Costa, a saírem de um clube nocturno de Londres. Ela usava um vestido que deixava pouco à imaginação e olhavam-se como só podiam olhar-se duas pessoas que se conheciam intimamente.

A questão era: quando é que Fliss e Domínguez se tinham conhecido?

Teria sido um encontro casual numa das suas idas à vila para comprar mantimentos? Tê-la-ia procurado Domínguez para lhe fazer uma oferta que não pudesse rejeitar?

Ou ter-lhe-iam montado uma armadilha desde o início?

Não era estranho que uma estudante de Arqueologia aparecesse de repente, depois de pagar a viagem à escavação, porque os estudantes precisavam de experiência de campo. Que Fliss Grant tivesse uma boca e um corpo de pecado, que estava mais do que disposta a partilhar com ele, só servira para que fosse muito mais agradável tê-la por perto.

Não, decidiu Jago. Aquilo não fora um acaso. A rapidez com que tinham publicado os seus diários sugeria que era a culminação de um plano cuidadosamente executado.

Fliss Grant, pelos vistos, tinha «sofrido muito» para conseguir os seus diários, as suas anotações, as suas fotografias.

E porque o surpreendia? As mulheres, segundo a sua própria experiência, eram capazes de «sofrer» o que fosse necessário para conseguirem o que desejavam.

Embora, certamente, não tivesse publicado as suas investigações de forma literal. Para que iria incomodar-se? Aquela aventura publicitária não tinha nada a ver com uma bolsa.

Sem dúvida, um «escravo» pago por Domínguez teria fabricado aquela história incrível, utilizando anotações tiradas dos diários da escavação, mas dando-lhe o tom de um filme de série B.

Embora, naturalmente, o seu nome não fosse mencionado em lado nenhum.

Segundo aquele artigo, os leitores pensariam que Fliss fizera a escavação sozinha, mas qualquer pessoa com um pouco de sensatez saberia que isso era uma piada.

Enquanto lia um excerto sobre os rituais «reveladores» dos sacerdotes do antigo templo pagão, Jago pensou que deveria sentir-se agradecido por não mencionarem o seu nome naquela versão pseudopornográfica da história, com imagens sexuais gravadas nas paredes. Não, «as virgens nuas», os «sacrifícios humanos» e as conotações sexuais não eram algo que ele teria escrito.

Mas, naquele momento, era incapaz de sentir gratidão, porque aquela porcaria iria torná-lo motivo de gozo do mundo arqueológico.

Sem dizer uma palavra, Jago pegou numa garrafa de conhaque que Rob tinha empurrado na sua direcção e saiu do bar.

 

 

Fazia um calor incrível. Nenhum templo, por mais antigo que fosse, merecia tanto sofrimento, decidiu Miranda, passando o antebraço pela testa para secar o suor.

– Vamos, não fique para trás – disse-lhe o guia. – Ainda há muito para ver.

Evidentemente, era novo no trabalho e ainda não tinha aprendido bem a parte de lidar com o cliente.

Como a insurreição era aparentemente impensável, o guia nem se incomodou em confirmar se era obedecido e continuou pelo caminho em direcção a mais ruínas, enquanto todos os excursionistas o seguiam. Bom, quase todos.

Miranda não era obediente. Antes pelo contrário. E já estava farta daquela civilização perdida.

Recusando-se a dar mais um passo, deixou-se cair sobre uma pedra que alguém, há muito tempo atrás, tinha começado a esculpir. Evidentemente, deixara a tarefa a meio e, se tivesse sido num dia tão quente como aquele, era compreensível.

Miranda inclinou-se para a frente, desabotoou a camisa de linho que não fora concebida para aquele calor e abanou-a para que entrasse um pouco de ar.

Da próxima vez que decidisse ir de viagem, veria com muito cuidado para onde ia. Cordillera de la Costa, tinham-lhe assegurado quando telefonara para a agência de viagens, ia ser o próximo grande destino turístico. Além disso, tinha visto uma arqueóloga na televisão, que dizia ter escrito um livro sobre como ela, sem a ajuda de ninguém, tinha descoberto uma antiga civilização na ilha, de modo que talvez fosse verdade.