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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Cara Colter

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Os desejos da princesa, n.º 1198 - Janeiro 2016

Título original: Her Royal Wedding Wish

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2010

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7742-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Jake Ronan respirou fundo para se acalmar, tal como teria feito antes de disparar, de entrar em acção ou de saltar.

Nada.

O coração continuava a pulsar-lhe depressa. Além disso, suavam-lhe muito as palmas das mãos.

Normalmente, não lhe custava manter a calma. De facto, essa sua habilidade tinha-lhe servido de muito durante os últimos três anos, durante os quais tinha ajudado a recuperar um avião sequestrado, tinha saltado a dez mil pés de altitude a meio da noite sobre território inimigo e tinha salvado catorze alunos que tinham sido feitos reféns.

No entanto, o casamento era demasiado para ele.

Jake rodou várias vezes os ombros e voltou a respirar fundo. O homem que estava ao seu lado, o coronel Gray Peterson, reformado recentemente e razão pela qual Jake se encontrava naquele momento na minúscula e paradisíaca ilha tropical de B’Ranasha, mexeu-se, incomodado.

– Não está a dar-te, pois não? – perguntou-lhe.

Todos os seus colegas de equipa sabiam que Jake tinha uma espécie de sexto sentido que lhe indicava sempre quando ia acontecer alguma coisa má.

– Não, simplesmente não gosto de casamentos – respondeu Jake, sem levantar a voz. – Não me fazem sentir bem.

– Jake, não és tu quem vai casar-se – recordou-lhe o seu amigo. – És da equipa de segurança. Nem sequer conheces esta gente.

Jake nunca se casara, mas recordava perfeitamente a sua infância e a sua mãe, que tinha passado anos a tentar encontrar o homem perfeito. Em segredo, ele também tinha desejado ter uma família normal, embora nunca o tivesse dito abertamente e o tivesse escondido sob a fachada de uma beligerância adolescente. No entanto, cada vez que a sua mãe dissera «sim, aceito» a um homem, seria um padrasto temporário e a desilusão não demorava a chegar.

Sem querer, Jake tinha encontrado a sua família quando, seguindo os passos do seu pai, já falecido, e apesar das lágrimas da sua mãe, decidira alistar-se no exército australiano ao acabar os estudos.

Ali, finalmente, tinha encontrado ordem, estabilidade e camaradagem a sério. Algum tempo depois, tinha começado a trabalhar para uma unidade militar multinacional que costumava ser a primeira a acudir quando havia crises mundiais. Aquela unidade, com base em Inglaterra, era formada por homens de forças especiais de elite de todo o mundo.

A sua família era composta por soldados que se amavam como irmãos, que iam a lugares onde mais ninguém queria ir, que faziam o trabalho que mais ninguém queria fazer e que operavam nos lugares mais problemáticos e perigosos do mundo.

Protegiam os participantes de reuniões mundiais e conferências de paz, mas também desactivavam bombas, recolhiam informação, salvavam reféns e aviões, e explodiam barris de pólvora inimigos.

Em resumo, faziam o trabalho mais difícil do mundo e faziam-no de maneira rápida, silenciosa e anónima. Havia poucas medalhas, pouco reconhecimento e nenhuma cerimónia, mas havia treino brutal, horas extenuantes, meses de operações secretas e muito, muito perigo.

Quando tinham entrado em contacto com ele e lhe tinham oferecido aquele emprego, Jake não tinha hesitado. Uma pessoa sabia perfeitamente quando tinha diante de si a oportunidade de desenvolver os talentos com que tinha nascido e, desde o primeiro dia na unidade, cujo nome secreto era Excalibur, soubera que tinha encontrado a sua missão na vida.

Formar uma família que não fosse a que já tinha com os seus irmãos de armas era impensável, pois o trabalho que desenvolvia impedia-o de se comprometer com uma mulher. Sentia-se tão entregue ao seu estilo de vida que não queria aceitar as responsabilidades de uma família e de uma esposa, pois não era a sua prioridade.

De qualquer forma, Jake nunca tinha gostado do casamento e tinha um grande segredo. Ele, um soldado que nunca demonstrava medo e que era o orgulho da sua unidade, provavelmente desmaiaria de pânico se tivesse de ficar no altar à espera da noiva.

Até àquele momento, não havia ninguém no altar que tinha diante de si. De qualquer forma, as tradições naquela ilha eram um pouco diferentes. Tinham-lhe explicado, por exemplo, que era a noiva quem entrava primeiro e que esperava pelo noivo.

Precisamente naquele momento, uma música anunciou a chegada da noiva. Jake olhou para trás e viu uma figura vestida de cor de marfim que se aproximava lentamente. Usava o vestido de noiva típico da ilha de B’Ranasha. Era incrível que uma roupa tão pouco provocadora fosse tão sensual.

Aquele vestido ajustava-se às curvas da noiva e acentuava a sensualidade dos seus movimentos. Tratava-se de um vestido bordado a fio de ouro e coberto de milhares de pérolas que brilhavam em contacto com os raios de sol.

A razão pela qual Jake estava tão perto do altar era porque aquela linda noiva, a princesa Shoshauna de B’Ranasha, estava em perigo.

Desde que se reformara e deixara a Excalibur, Gray tinha passado a encarregar-se da segurança da família real de B’Ranasha. Durante os preparativos do casamento, entrara em contacto com Jake e tinha-lhe pedido que o ajudasse. Em princípio, o assunto não parecia perigoso, mas, quando Jake tinha desembarcado na ilha, o seu amigo tinha-lhe contado que a equipa de segurança tinha interceptado várias ameaças dirigidas directamente à princesa.

Jake tinha considerado Gray muito nervoso, pois o seu amigo estava convencido de que as ameaças procediam de dentro do palácio. Aquilo só podia querer dizer que havia fugas na sua própria equipa de segurança.

– Olha para aquela mulher ali, a das flores – indicou-lhe Gray.

Jake virou-se. Efectivamente, viu uma mulher num lado da igreja a arranjar um ramo de flores. Não parava de olhar, nervosa, para trás. Evidentemente, estava tensa.

E, de repente, Jake sentiu-o, sentiu aquela sensação desagradável que aparecia sem avisar, aquele aperto no estômago, algo parecido com o que se sentia numa montanha russa de um parque de diversões.

Perigo.

Disfarçadamente, Jake levou a mão à arma, uma Glock de nove milímetros que usava junto das costelas. Gray deu-se conta, praguejou em voz baixa e também tocou na sua arma, uma arma enorme a que os membros da Excalibur chamavam «o canhão».

Jake deu-se conta da mudança que estava a operar-se nele; estava a passar de um tipo que não gostava nada de casamentos a um soldado treinado especialmente para situações de perigo.

O tecido do vestido de noiva sussurrava ao mexer-se.

– Encarrega-te da princesa, eu encarrego-me da mulher das flores – indicou-lhe o seu amigo.

Jake assentiu e aproximou-se o máximo do altar que conseguiu sem chamar muito a atenção. Ali, sentiu o perfume da noiva e pareceu-lhe tão exótico como as flores abundantes daquele lugar paradisíaco.

A música parou e, pelo canto do olho, viu que a mulher das flores se agachava.

«Agora», pensou, sentindo que todos os músculos do corpo estavam tensos.

Mas não aconteceu nada.

Naquele momento, um sacerdote idoso de aparência tranquila saiu da sacristia, com a túnica de seda vermelha tradicional dos monges de B’Ranasha.

Jake sentiu a tensão de Gray, que estava perto dele. Olharam-se. Gray tinha a mão dentro do casaco. Embora parecesse calmo, Jake sabia que tinha a mão sobre a sua arma e que estava disposto a entrar em acção.

Ele sentiu que a sensação no seu estômago intensificava. Por um lado, estava atento ao sacerdote e à noiva. Evidentemente, o noivo não demoraria a chegar. Sentia o perfume da princesa e deu-se conta dos detalhes deliciosos do seu vestido de seda.

A outra parte do seu cérebro estava alerta e pronta para entrar em acção.

A noiva levantou o véu e Jake admirou os traços perfeitos, delicados e deliciosos da princesa Shoshauna de B’Ranasha. Evidentemente, já a tinha visto em fotografias e tinha-lhe parecido bonita e jovem, mas as fotografias não lhe faziam justiça.

A mulher que tinha diante de si tinha um rosto de pele imaculada, emoldurado por uma linda cabeleira comprida de cabelo preto e liso. Os seus olhos eram amendoados e ligeiramente rasgados, cor de turquesa e recordaram-lhe imediatamente a praia australiana onde costumava fazer surfe em jovem.

A princesa olhou para ele e virou-se para a entrada da igreja. Jake obrigou-se a desviar a sua atenção da beleza da princesa. Tinha de estar totalmente concentrado na segurança dela.

Naquele momento, abriu-se a porta da igreja, mas o que apareceu não foi o príncipe, senão um homem completamente vestido de preto, encapuzado e com uma pistola na mão.

Jake tinha recebido um bom treino e sabia exactamente o que tinha de fazer. Estava ali para proteger a princesa, portanto, em poucos segundos ela transformou-se no centro da sua vida. Se fosse necessário, de facto, teria de dar a vida por ela sem hesitar.

O objectivo imediato era tirá-la dali sem que sofresse danos. Isso queria dizer que durante os minutos seguintes as coisas iriam tornar-se muito físicas. Jake atirou-se a ela, que olhou para ele com os olhos muito abertos. Ambos caíram no chão e Jake cobriu-a com o seu corpo.

Apesar da adrenalina que invadia o seu sistema, Jake apercebeu-se da doçura deliciosa das curvas dela e sentiu uma necessidade que não era a de um soldado, mas a de um ser mais primitivo que lhe indicava que devia protegê-la.

Alguém disparou uma arma e todos os presentes começaram a gritar.

– Eu protejo-te! – gritou Gray. – Tira-a daqui!

Jake obrigou a princesa a levantar-se, protegendo-a com o seu corpo, servindo de escudo entre ela e o atacante. Em poucos segundos, estavam ambos atrás do altar de pedra e dali correram para o hall da sacristia. Uma vez ali, Jake partiu uma janela e ajudou a princesa Shoshauna a sair por ela. O vestido prendeu-se e a saia rasgou-se, o que os beneficiou, pois, ao tirar tantas camadas de tecido, a princesa conseguiu correr.

Uma vez na rua, encontraram-se numa grande avenida e correram para se afastarem da igreja. Enquanto o faziam, Jake ouviu mais três tiros e gritos. A avenida dava para uma praça linda cheia de palmeiras e de flores. Havia um táxi. O motorista descansava no seu lugar, com a porta aberta e os olhos fechados.

Jake olhou para os dois lados. Para além do táxi, havia uma carroça puxada por um burro para os turistas, portanto, decidiu tirar o taxista do veículo, colocar a princesa lá dentro e afastar-se dali a toda a velocidade.

Em poucos segundos, os tiros e os gritos de protesto do taxista apagaram-se, mas Jake continuou a conduzir enquanto recordava os mapas da ilha que tinha memorizado.

– Estou preocupada com o meu avô – declarou a princesa, num inglês impecável.

Pareceu interessante a Jake que se mostrasse mais preocupada com o seu avô do que com o seu futuro marido e apressou-se a dizer a si mesmo que não devia sentir pena dela ao vê-la assim. A pena não fazia parte do seu trabalho e gostava de pensar que também não fazia parte da sua natureza, pois tinha de tomar decisões com frequência que não podiam ver-se influenciadas pelas emoções.

– Não se preocupe, ninguém foi ferido – garantiu-lhe.

– Como sabe? Ouvi vários tiros.

– Sim, mas nenhum acertou em ninguém. Uma bala faz um ruído diferente quando acerta num corpo de quando não o faz.

A princesa olhou para ele, com incredulidade e cepticismo.

– E com tudo o que estava a acontecer, conseguiu ouvir esses detalhes?

– Sim, senhora – respondeu Jake.

Todos os membros da Excalibur estavam treinados para se aperceberem daqueles detalhes, que passavam ao lado às outras pessoas. Era incrível como uma coisa que parecia insignificante podia marcar a diferença entre a vida e a morte.

– O meu avô está mal do coração – insistiu a princesa.

– Lamento – respondeu Jake, sabendo que não estava a parecer sincero.

Na verdade, importava-lhe muito pouco que o seu avô sofresse do coração. Naquele momento, só podia ocupar-se da sua segurança, não podia permitir-se distrair-se, não podia perder energia a concentrar a sua atenção noutras coisas ou noutras pessoas.

Naquele momento, para pôr a sua concentração à prova, tocou o seu telemóvel. Tinha-o desligado durante o casamento porque a sua mãe lhe tinha deixado várias mensagens a dizer-lhe que tinha uma grande notícia para ele. Isso só podia querer dizer uma coisa: conhecera outro homem, daquela vez era diferente e, como é claro, iam casar-se.

No entanto, ao olhar para o visor, Jake verificou que não se tratava da sua mãe, mas de Gray.

– Tudo em ordem – disse-lhe o seu amigo quando atendeu.

– Sim, aqui também. Aurora está bem – indicou-lhe Jake, fazendo referência à princesa de A bela adormecida.

– Excelente! Temos o intruso. Nenhum ferido. As balas eram cartuchos vazios. Este tipo podia ter morrido. Não entendo porque o fez.

Jake ficou pensativo. Evidentemente, para parar o casamento.

– Queres que voltemos? Queres que leve a princesa? Poderiam continuar em frente com a cerimónia.

A princesa fez uma careta imperceptível de desagrado, mas Jake deu-se conta.

– Não, há qualquer coisa muito grave aqui. Se a equipa de segurança tivesse trabalhado bem, ninguém conseguiria ter entrado na igreja. Estou convencido de que alguém de dentro do palácio organizou isto tudo, portanto, não quero que a princesa volte até que esteja tudo resolvido. Consegues mantê-la a salvo até então?

Jake ficou pensativo. Tinha uma pistola e dois carregadores, quase não conhecia a ilha e tinha roubado um veículo, para além de uma princesa. Apesar das circunstâncias, sabia o que devia fazer.

– Afirmativo.

– Não confio no meu telefone, portanto, telefonar-te-ei de outro para marcarmos um encontro.

– Muito bem – respondeu Jake. – O avô da princesa está bem? – acrescentou, apesar de já dever ter desligado.

– Está a beber uísque escocês – respondeu Gray, baixando a voz. – É estranho, mas parece encantado por a sua neta não se ter casado.

Jake desligou e guardou o telefone no bolso.

– O seu avô está bem.

– Ainda bem! Obrigada!

– Mas ainda não podemos voltar.

Jake apercebeu-se de que a princesa relaxava e pareceu-lhe que tinha estado a suster a respiração até então. Também reparou que os seus olhos afligidos pela preocupação pareciam, de repente, iluminados. Se não estivesse enganado, e raramente estava pois era muito bom a observar detalhes, notara uma certa malícia neles.

Não tinha perguntado pelo noivo e não parecia perturbada ao ter visto o seu casamento interrompido. De facto, parecia muito feliz. Para corroborar aquela impressão, tirou o véu, abriu a janela e deixou que o vento o levasse, rindo-se quando algumas crianças começaram a correr atrás dele.

O vento também brincou com as madeixas que lhe tinham escapado do coque e a princesa não hesitou em tirar os ganchos que lhe restavam e em soltar a cabeleira, que lhe caiu sobre os ombros.

Não, não havia lugar para dúvidas. A princesa Shoshauna estava a divertir-se à grande.

– Alteza, isto não é um jogo, portanto, não atire nada pela janela que possa dar azo a que nos sigam – avisou-a Jake, irritado.

A princesa olhou para ele, zangada. Era evidente que, dada a sua posição, não estava habituada a que lhe dessem ordens, mas Jake tinha muito claro que ali só havia um chefe e que era ele.

Agora que o perigo tinha passado, embora de forma temporária, Jake reflectiu sobre o que acontecera. Tinham-no contratado como elemento de segurança para um casamento sem importância e agora tinha de cuidar de uma princesa porque alguém queria matá-la.

Além disso, não conhecia a ilha e não fazia ideia de para onde a levar. Para cúmulo, tinha pouco dinheiro e em algum momento teriam de comer e de comprar roupa nova, porque o vestido de Shoshauna era demasiado vistoso.

Jake supunha que a pessoa que estivesse à procura dela seria capaz de rastrear os cartões de crédito e também o seu telemóvel. Poderia utilizá-lo mais uma vez para marcar o encontro com Gray, porém, depois disso teria de se desfazer dele. Além disso, o taxista denunciaria o roubo do veículo, portanto, não lhes restaria outro remédio senão abandoná-lo.