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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Michelle Celmer. Todos os direitos reservados.

SUA DURANTE UM MÊS, N.º 1108 - Janeiro 2013.

Título original: One Month with the Magnate.

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2013.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2507-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Aquele momento era, sem dúvida alguma, o pior momento da vida de Isabelle Winthrop Betts.

Nem a dor das bofetadas do seu pai lhe tinha causado uma humilhação tão profunda como a que sentia por culpa de Emilio Suárez, um homem por quem tinha estado apaixonada e com quem tinha considerado a possibilidade de se casar.

Mas o seu pai tinha-se assegurado de que não se casassem. E Isabelle compreendeu a reação de Emilio quando ela entrou no seu escritório da Western Oil e ele lhe dedicou um olhar amargurado e distante, como o de um rei sentado no seu trono dirigindo-se a um súbdito sem nenhuma importância.

Ao fim e ao cabo, Isabelle era precisamente isso. Obrigada a casar-se com Leonard, o homem que se tinha tornado seu marido, tinha passado de ser uma das mulheres mais ricas do Estado do Texas a ser uma viúva sem casa, sem dinheiro e a ponto de ser condenada por um suposto delito de fraude.

E tudo, por ter sido demasiado ingénua. Por ter confiado no seu esposo e por ter assinado, sem lê-los antes, os documentos que lhe deu a assinar.

Mas ela não podia duvidar da pessoa que a tinha resgatado do inferno; da pessoa que certamente lhe tinha salvado a vida.

E o grande canalha do Lenny tinha morrido antes de poder exonerá-la.

– Como te atreves a pedir-me ajuda?

A suave e profunda voz de Emilio, que sempre tinha excitado as terminações nervosas de Isabelle, soou desta vez com tanta hostilidade que a deixou gelada. Com uma hostilidade que também compreendia, porque lhe tinha partido o coração. Mas não tinha mais remédio do que pôr-se nas suas mãos e esperar que se apiedasse dela.

– Por que é que te diriges a mim? – continuou, esquadrinhando-a com os seus olhos cinzentos-escuros. – Porque é que não pedes ajuda aos teus amigos ricos?

Isabelle poderia ter respondido que lhe pedia ajuda a ele porque o seu irmão era o procurador que tratava da acusação por fraude; inclusive poderia ter respondido que já não tinha amigos, que todos tinham investido o seu dinheiro nos negócios de Lenny e que alguns tinham perdido muitos milhões dólares. Mas limitou-se a dizer:

– Porque és o único que me pode ajudar.

– E por que é que eu hei de querer ajudar-te? Não paraste para pensar que me pode agradar a ideia de que termines na prisão?

Isabelle tentou sobrepor-se à dor que as suas palavras lhe causaram e ao facto aparentemente óbvio de que a odiava.

Pensou que seria feliz quando soubesse que, segundo o seu advogado, Clifton Stone, tinha poucas possibilidades de se livrar da prisão; as provas contra ela eram tão conclusivas que, do seu ponto de vista, só restava uma opção: chegar a um acordo com o procurador. E ainda que a perspetiva de voltar à prisão lhe desse pânico, estava preparada para assumir a responsabilidade dos seus atos e aceitar o castigo que a justiça considerasse apropriado.

Infelizmente, Lenny também tinha envolvido a mãe de Isabelle nos seus negócios. E Isabelle não podia permitir que Adriana Winthrop passasse o resto dos seus dias na prisão; sobretudo, depois de o seu marido a ter submetido a muitos anos de maltrato físico e emocional.

– Não me importo com o que me possa acontecer – confessou-lhe Isabelle. – Só quero limpar o bom nome da minha mãe. Não teve nada a ver com os negócios de Leonard.

– Queres dizer os negócios de Leonard e os teus – corrigiu.

Ela engoliu em seco e assentiu em silêncio.

– Então, admites a tua culpabilidade?

Antes de responder, Isabelle pensou que, se a confiança cega era um delito, era definitivamente culpada.

– Admito que sou responsável de ter-me metido neste problema.

– Pois terás de sair sozinha dele. Além disso, agora não tenho tempo de falar contigo. Vieste num mau momento.

Isabelle sabia que estava muito ocupado. Na semana anterior tinha-se produzido um acidente numa refinaria, onde tinham ficado feridos vários trabalhadores. De facto, a sede da Western Oil encontrava-se praticamente assediada pelos jornalistas.

Mas não podia esperar mais. Estava a ficar sem tempo. Necessitava da sua ajuda e de imediato.

– Sei que é um mau momento, Emilio. Mas isto é urgente.

Emilio encostou-se no sofá, cruzou os braços e olhou para ela. Com fato e o cabelo penteado para trás, parecia-se muito pouco com o rapaz que fora seu amigo desde a adolescência. O rapaz por quem se tinha apaixonado à primeira vista, quando ela tinha doze anos e ele quinze. O rapaz que não tinha reparado nela até muito tempo depois, quando já eram estudantes universitários.

A mãe de Emilio era a mulher que limpava a casa dos pais de Isabelle. E para o pai de Isabelle, esse detalhe fazia de Emilio um mau partido.

Apesar disso e de saber que pagariam um preço muito alto se os descobrissem, começaram a sair em segredo. Mas tiveram sorte. Até que o pai de Isabelle soube que tinham feito planos para fugirem.

Não contente com o castigo que tinha dado à sua filha, despediu a mãe de Emilio e acusou-a de ter roubado na casa, sabendo de antemão que ninguém iria contratar uma ladra.

Agora, anos mais tarde, Isabelle pensou que o seu pai devia estar a dar voltas no caixão. O filho da criada tinha-se tornado num homem poderoso e ela humilhava-se perante ele pedindo-lhe ajuda.

Indiscutivelmente, o seu pai tinha cometido um erro muito grave com Emilio.

– Então, vieste ver-me por causa da tua mãe?

Isabelle assentiu.

– O meu advogado afirma que o teu irmão tem o apoio dos meios de comunicação e que, nessas circunstâncias, não vai querer chegar a um acordo. Mas se a condenam, passará uns quantos anos na prisão.

– Pode ser que também deseje vê-la na prisão...

Isabelle sentiu um arrepio. Adriana Winthrop sempre tinha sido carinhosa com Emilio e com a sua mãe. Não lhes tinha feito nenhum mal. Só era culpada de ter-se casado com um homem violento. Ainda que disso também não era completamente culpada, porque tinha tentado divorciar-se dele e tinha pago caro o seu atrevimento.

– E suponho que te apresentaste aqui com esse aspeto porque achas que assim sentirei pena de ti, não é?

Ela resistiu ao impulso de baixar o olhar e contemplar a blusa e as calças passadas de moda que tinha vestido. Emilio não parecia saber que lhe tinham confiscado todas as suas posses e que já não era a mulher que tinha sido. Tinha-se vestido assim porque não tinha nada melhor.

– Não me dás pena – continuou – Na minha opinião, tens o que mereces.

Isabelle pensou que nisso tinha razão.

E pensou que se tinha enganado ao ir falar com ele. Não a ia ajudar. A sua amargura era demasiado profunda.

Levantou-se do sofá, derrotada, e falou com a voz a tremer.

– Bom... de todas as formas, obrigada por me teres concedido uns minutos.

– Senta-te – ordenou.

– Para quê? É óbvio que não me vais ajudar.

– Eu não te disse que não te vá ajudar.

As débeis esperanças de Isabelle renasceram. Voltou a sentar-se e ouviu o que dizia o seu antigo namorado.

– Intercederei perante o meu irmão em defesa da tua mãe, mas terás de fazer algo em troca.

Isabelle sentiu um arrepio.

– O que é que queres que faça?

– Serás a minha governanta durante trinta dias. Preparas-me a comida e limpas a casa e a roupa. Farás qualquer coisa que te peça. E no final desses trinta dias, se estiver satisfeito com o teu trabalho, falarei com o meu irmão.

Emilio estava-lhe a pedir que trabalhasse para ele como a sua mãe tinha trabalhado para a família dela. Obviamente, era uma vingança.

Isabelle perguntou a si mesma o que é que se teria passado com o rapaz doce e de grande coração por quem se tinha apaixonado na juventude. O rapaz que jamais teria sido capaz de traçar um plano tão diabólico como esse e muito menos, de executá-lo.

Tinha mudado muito. E formou-se-lhe um nó na garganta ao pensar que provavelmente era culpa sua; que se tinha tornado num homem desapiedado pelo mal que ela lhe fez quando o abandonou.

Noutras circunstâncias, Isabelle teria rejeitado a oferta. Quando o seu pai morreu, tinha prometido que jamais se deixaria controlar por alguém. Mas a vida da sua mãe estava em jogo e tinha de ajudá-la. Além disso, engolira o orgulho tantas vezes desde que a levaram a tribunal que se tinha acostumado a isso.

Apesar do que Emilio pudesse achar, ela já não era a jovenzinha tímida que tinha sido. Agora era forte. Podia suportar qualquer coisa.

– Como sei que posso confiar em ti, Emilio? Como sei que não mudarás de opinião quando se cumprir o prazo?

Ele inclinou-se para a frente e olhou para ela com indignação.

– Vais saber porque sempre fui sincero contigo.

Isabelle não o podia negar. Era certo. Ao contrário dela, Emilio tinha sido sempre sincero. E ainda que ela tivesse tido um bom motivo para não cumprir a sua palavra, pensou que a essa altura carecia de importância.

Ainda que lhe dissesse a verdade, não acreditaria nela. Nem sequer lhe importava saber a verdade.

– Não faz falta que me respondas agora – continuou Emilio. – Toma o teu tempo e pensa com calma.

Isabelle não necessitava de tempo para pensar. Porque não tinha tempo a perder. Só faltavam seis semanas para que o seu advogado e ela se reunissem com o procurador do caso, e o seu advogado já lhe tinha advertido que as perspetivas eram más.

Não tinha mais remédio do que aceitar a sua proposta.

Mas pelo menos, sabia que Emilio não lhe faria mal. Ainda que aparentemente se tivesse tornado num homem frio e insensível, nunca tinha sido um homem violento. Sempre se tinha sentido a salvo com ele.

Decidida, pôs os ombros para atrás e declarou:

– Muito bem. Aceito.

 

 

Apesar dos quinze anos que tinham passado desde que se separaram, Emilio pensou que Isabelle Winthrop continuava a ser a mulher mais bonita que tinha conhecido.

Mas considerava-a uma víbora egoísta, narcisista e mentirosa. Uma víbora de alma mais negra do que o carvão. Uma víbora que o tinha abandonado sem mais nem menos depois de lhe dizer que estava apaixonada por ele e que não lhe importava nem o dinheiro, nem o estatuto social, nem o facto de que a sua mãe tivesse sido uma simples criada.

E Emilio acreditou nela. Até ao dia em que leu um artigo no jornal onde se anunciava que Isabelle Winthrop se ia casar com Leonard Betts, um multimilionário, um verdadeiro génio das finanças.

Pelos vistos, o dinheiro era muito importante para ela. Ao ponto de se casar com um homem vinte e cinco anos mais velho do que ela.

Mas afinal, quando já tinham dito tudo o que tinham para dizer, Emilio pensou que a sua relação com Isabelle não fora totalmente inútil. Tinha-lhe ensinado que não devia confiar nas mulheres e, a partir de então, teve muito cuidado para não voltar a apaixonar-se.

Agora, o destino tinha-lhe oferecido a possibilidade de dar-lhe uma lição.

Emilio não tinha a certeza de que Isabelle fosse uma delinquente, como o seu defunto esposo. Só sabia que tinha assinado uns documentos e que, de um ponto de vista legal, era responsável. Mas em qualquer caso, ia-se vingar dela.

Olhou-a nos olhos e disse:

– Há uma condição.

Isabelle pôs os seus louros cabelos para trás, num gesto de evidente nervosismo.

– Que condição?

– Que tem de ficar entre nós. Ninguém deve saber.

Emilio necessitava que o mantivessem em segredo porque, se se chegasse a saber que a estava a ajudar, perderia as suas opções de tornar-se presidente da Western Oil. Competia para o cargo com Jordan Everett e o seu irmão, Nathan Everett, dois amigos seus e dois grandes profissionais. Ao contrário deles, não tinha estudado em Harvard nem tinha tido pais ricos. Estava onde estava porque ganhara tudo com o trabalho.

Pensou que talvez estivesse a cometer um erro ao arriscar tudo por uma vingança. Mas não podia desperdiçar essa oportunidade.

Depois da morte do seu pai, a sua mãe tinha-se visto obrigada a trabalhar como uma escrava para os criar. Mais tarde, uns anos depois de os Winthrop a terem despedido, confessou-lhes que o pai de Isabelle a tinha submetido a abusos verbais e até sexuais, que se tinha resignado a aceitar porque não podia perder o emprego. E afinal, não contentes com despedi-la, acusaram-na de roubo para que ninguém a contratasse.

Na realidade, Emilio não tinha opção. Do seu ponto de vista, era obrigado a vingar a mãe e a sua família inteira.

– Estranha-me que o queiras manter em segredo – disse Isabelle. – Imaginava que arderias de desejo por te gabar disso perante os teus amigos.

– Lembro-te que sou o diretor financeiro desta empresa. Nem a Western Oil nem eu mesmo ganharíamos nada caso se chegasse a saber que tenho algo a ver com uma mulher sobre a qual pesa uma acusação por fraude.

– Ah, entendo...

– Se disseres a alguém, farei algo mais do que quebrar o nosso acordo. Assegurar-me-ei de que a tua mãe e tu apodreçam na prisão.

– Mas não posso desaparecer durante trinta dias – alegou. – A minha mãe vai querer saber onde estou.

– Então, diz-lhe que vais para casa de uma amiga porque precisas de tempo para pensar e para te recuperar.

– E o que é que se passa com as autoridades? Estou em liberdade condicional. Se a violar, devolver-me-ão à prisão. Não posso sair do hotel onde me alojo... obrigam-me a permanecer lá.

– Eu trato disso – disse Emilio, certo de que o seu irmão teria alguma solução para isso.

– Assim sendo, não te preocupes. Não direi a ninguém.

Emilio deu-lhe uma folha de papel e uma caneta antes de ordenar:

– Escreve a tua morada atual. O meu motorista passará para te ir buscar esta noite.

Isabelle inclinou-se sobre a secretária e apontou a morada. Ele pensou que seria a da sua mãe ou a de algum hotel de luxo, mas teve uma surpresa ao ver que se tratava de um hotel de estrada num dos piores bairros da cidade.

Ao que parecia, a sua situação económica era catastrófica. Ou queria fingir que o era.

Ao fim e ao cabo, o seu marido tinha roubado muitos milhões de dólares. E parte desse dinheiro continuava em paradeiro desconhecido.

Pelo que Emilio sabia, Isabelle podia tê-los escondidos. Talvez quisesse chegar a um acordo com o procurador e salvar a mãe para, a seguir, fugir da cidade com o dinheiro todo.

– O motorista estará lá às sete em ponto. Os teus trinta dias de serviço começarão amanhã. Concordas?

Ela assentiu com o queixo bem alto e ele pensou que não se mostraria tão orgulhosa quando começasse a trabalhar. Isabelle nunca trabalhara em toda a sua vida. Sem dúvida alguma, seria uma criada desastrosa.

– Precisas que te levem ao hotel?

Ela abanou a cabeça.

– Não, vim no carro da minha mãe.

– Deve ser muito duro para ti...

– A que é que te referes?

– A ter de conduzir tu mesma, depois de tantos anos de luxo. Assombra-me que ainda saibas como guiar.

Emilio apercebeu-se de que Isabelle esteve a ponto de perder a paciência e de que se conteve com muito esforço. Evidentemente, continuava a ser uma mulher muito dura. Mas não sabia com quem estava a lidar. Ele já não era o homem ingénuo e crédulo que tinha sido.

Levantou-se da cadeira e ela fez o mesmo.

Ofereceu-lhe uma mão para selar o acordo e ela apertou-lha e soltou um grito afogado quando ele fechou os seus dedos com força, de um modo quase possessivo.

Isabelle tentou dissimular a sua reação, mas foi demasiado tarde. Emilio já tinha notado que, apesar dos anos passados, ainda se sentia atraída por ele. E isso era exatamente o que estava à espera. Porque a ideia de a levar para sua casa e fazê-la sua criada não era mais do que uma desculpa para executar o seu verdadeiro plano.

Quando estavam juntos, Isabelle tinha insistido em esperar até ao dia do seu casamento para fazer amor com ele. Ingenuamente, Emilio tinha aceitado e respeitado o seu desejo durante um ano tão longo como tortuoso. Mas depois, ela abandonou-o e foi-se embora.

Tinha chegado o momento de devolver-lhe a brincadeira.

Seduziria Isabelle, conseguiria que o desejasse com toda a sua alma e então, só então, recusá-la-ia.

Quando terminasse com ela, a prisão ia-lhe parecer o paraíso.