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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Karen Drogin

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma terapia muito especial, n.º 6 - Avril 2014

Título original: Body Heat

Publicada originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2003

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Paixão e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5165-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

1

 

Os dias estavam muito quentes e, graças a ela, as noites de Jake Lowell eram ainda mais quentes. Gostava da combinação de antecipação e de desejo que lhe corria pelas veias enquanto olhava para o Sidewalk Café, procurando-a.

Agarrou com força no copo de água gelada e a condensação deixou-lhe a mão fria e húmida, o que contrastava com o calor que reinava na cidade de Nova Iorque, bem como com o inferno que ardia no seu interior. Nada podia apagar a chama que ela acendera.

Mexeu-se um pouco no assento, procurando no duro metal do assento uma posição mais confortável para as suas costas, uma que não fizesse pressão sobre o ombro esquerdo e a ferida que, finalmente, começava sarar. Quando se voltou a mexer, a dor sacudiu-o por dentro. Maldita cadeira! Aqueles cafés ao ar livre, com as cadeiras em ferro forjado, não faziam muito o seu género, mas sim o da sua irmã. Contudo, desde a primeira vez que lá foi, e que viu a sensual empregada, deixou de o incomodar tanto.

Jake olhou à sua volta, mas não viu em lado algum a mulher que protagonizava as suas fantasias.

Olhou para o relógio. Como sempre, a sua irmã Rina já estávamos atrasadas quinze minutos. Depois de uma infância em que tiveram de partilhar a casa de banho, já estava habituado a esperar por ela. Aliás, ficaria completamente assombrado se alguma vez chegasse a horas. No entanto, o facto de saber que o tipo que disparou sobre ele andava à solta pelas ruas, fazia com que a demora de Rina, ainda que fosse habitual nela, lhe provocasse um certo nervosismo.

Olhou mais uma vez para a rua deserta e olhou de novo para o restaurante e para o bar quase vazios, mas lembrou-se de que aquela escória fazia uma vida quase limpa e de que a irmã estava a salvo. Assim, decidiu abandonar a esplanada e entrar, para poder ver o jogo dos Yankes enquanto esperava por Rina.

Nesse momento viu-a. Estava de pé ao lado do balcão do bar e com uma garrafa de água na mão. Vestia umas calças de ganga brancas e uma camisa preta de ombros largos, trazendo um avental apertado à cintura. O cabelo vermelho estava apanhado num rabo-de-cavalo, embora algumas madeixas resistissem àquela demarcação e lhe marcassem o rosto delicado e angelical. Mais do que o desejo ou a luxúria, era a pureza do rosto dela que atraía Jake àquele sítio, uma e outra vez, na esperança de a ver.

Depois de ver um pedido que apontou no bloco, guardou-o no bolso. Enquanto o empregado preparava as bebidas, Jake levantou-se, atravessou as portas de vidro que levavam ao interior do restaurante e observou-a apoiada contra a parede e olhando à volta, procurando algo que Jake desconhecia. Então, pôs a cabeça para trás e passou a garrafa pela testa, pelas faces e, por fim, deslizou-a suavemente ao longo do pescoço.

Quando viu a garrafa a deslizar pela pele dela, Jake afogou um grunhido. Entretanto, as costas dela arquearam, fazendo com que os seus seios se colassem ainda mais à camisola e que os mamilos firmes torturassem o tecido, tanto como ao próprio Jake. Sabia que devia estar a comportar-se como um voyeur, mas os sensuais e sedutores movimentos da jovem pareciam ser apenas para os seus olhos.

Mesmo sendo uma desconhecida, Jake achava que a conhecia intimamente, ainda que não tanto como ele desejava.

Tinha os olhos completamente fechados, os ombros relaxados... e à medida que o plástico frio roçava a sua pele, emitia uns suspiros que pareciam fazer eco dentro de Jake. Apesar de não ter consciência disso, aquela mulher despertava-lhe tanto a curiosidade como a imaginação!

Como é que saberia? Seriam os seus lábios tão húmidos e tão frescos como a menta, ou seriam doces, como as bebidas que ela servia? No zénite da paixão, olha frente a frente para o seu amante ou fecha os olhos como demonstração de prazer?

Só ao imaginar-se a fazer amor com ela, o corpo de Jake ficava tenso de desejo e ele sentia o fogo na alma...

Para além do incidente que teve como resultado a morte de Frank Dickinson, seu melhor amigo e também detective, e no qual ele também ficou ferido, poucas coisas lhe despertavam o interesse. O incidente fê-lo decidir dar um novo rumo à sua vida.

O desejo lambia-lhe a pele, com mais calor e com mais força do que a bala o fizera. As luzes de néon do bar reflectiam-se nas gotas de água que estavam sobre a pele dela, e Jake queria saborear aquela cálida humidade, absorvê-la com o seu corpo. Ele próprio suava, de uma forma que nada tinha a ver com o calor que reinava no exterior do restaurante.

De repente, ela ergueu-se e pousou a garrafa sobre o balcão antes de contemplar os confins do pequeno restaurante. Jake conteve a respiração quando ela olhou na sua direcção. Então, a jovem agarrou num guardanapo e limpou a pele reluzente do peito, debaixo do amplo decote da camisola.

Sem avisar, voltou-se e olhou na direcção de Jake e quando cruzou o olhar com o dele abriu muito os olhos, surpreendida. Jake notou que ela não se tinha apercebido que estava a ser observada, mas quando a surpresa desapareceu, ela olhou-o com um certo interesse.

Jake reconheceu naquele olhar persistente que a atracção mútua foi muito forte desde o princípio e que, ao longo daquelas semanas, aumentou.

A irmã alimentou aquele interesse, escolhendo aquele café como o sítio de encontro. Ela estava sempre lá, mesmo que atendendo a outras mesas que não a dele. Jake não sabia porque é que ela não se aproximou, nem porque é que ele preferiu manter as distâncias, mas aprendeu que a fantasia supera sempre a suja realidade.

Contudo, a atracção que havia entre eles nunca estivera tão forte como nessa noite. Era uma electricidade tão potente que o corpo de Jake vibrava de desejo enquanto a sua mente fantasiava com milhões de possibilidades. Ela mantinha o olhar, como se estivesse à espera que ele fizesse o movimento seguinte. Sem quebrar o contacto visual, Jake levantou o copo em atitude de saudação e esperou que ela se voltasse ou que recusasse aquela subtil insinuação. Mas a jovem não fez qualquer uma das duas coisas, mantendo o olhar com uma paixão e uma curiosidade descarada com que Jake não contava... até que o empregado chegou com as bebidas que ela pedira, interrompendo assim a conversa muda que mantinham. Uma vez mais, antes de pousar o guardanapo e continuar com o seu trabalho, ela olhou para ele. Contudo, o rubor das suas faces, prova do que aconteceu entre eles, não desapareceu.

– Meu Deus, Jake! Desculpa!

A voz da irmã tirou-o da névoa de sensualidade em que esteve perdido até esse momento. Viu que a irmã chegou sã e salva e regressou à mesa para se voltar a sentar na incómoda cadeira. Continuava um pouco distraído, mas tentou concentrar-se na irmã.

– Sei que cheguei atrasada – disse Rina, tão elegante como sempre, – mas Norton odeia o calor – acrescentou, referindo-se ao seu cão de raça sharpei.

– O dinheiro mudou-te, Rina – replicou Jake, rindo.

Quando eram pequenos, tiveram como mascote um rafeiro que aparecera todo sujo e cheio do pó de Bronx em frente à porta do prédio onde viviam.

Rina, uma secretária especialista em assuntos legais, tinha-se casado com o chefe e Jake teve algumas dúvidas em relação ao seu casamento. Quem é que não se questionaria sobre um indivíduo que vai à manicura todas as semanas? Porém, ele foi o melhor que podia ter acontecido à sua irmã. Infelizmente estava morto, mas Jake sentia-se consolado com o facto de a irmã ter conhecido a Felicidade, embora tivesse usufruído dela por pouco tempo.

A união de opostos funcionou muito bem com Rina, mas com o irmão não funcionou. O casamento de Jake terminou com um divórcio amargo porque a esposa não percebeu que casar-se com um polícia implicava viver com o ordenado de um polícia e habituar-se a um horário completamente incerto. Ao fim de cinco anos, Jake sofria, não por continuar sem esposa, mas porque investira tudo naquele tipo de vida. Mas, apesar de tudo, estava feliz por o casamento da irmã ter corrido melhor que o dele.

– O dinheiro não me mudou! Bom...pelo menos não muito, porque sou eu que o levo a passear, e podia pagar a alguém para o fazer, embora se despedisse no primeiro dia.

– Trata-se de uma raça que precisa de muitos cuidados.

– Podemos dizer que sim.

Custava-lhe muito manter uma conversa com a sua irmã, porque ela estava a trabalhar no interior do restaurante, onde se começaram a sentar mais clientes. Apesar do calor, servia-os a todos com um sorriso radiante e, de vez em quando, olhava de relance para o sítio onde estava sentado Jake... Seria para ter a certeza de que não se tinha ido embora? Era isso que ele queria pensar.

Jake não conseguia lembrar-se de alguma vez se ter sentido tão atraído por uma mulher que não conhecia. Desde que se divorciara, manteve algumas relações, embora nenhuma delas tivesse sido séria. Naquele caso, o jogo sensual que mantinham intrigava-o, mas não estava disposto a conhecê-la porque não queria destruir a sua fantasia. Sabia que nenhuma mulher era o que parecia ser, tal como casamento dele lhe ensinara...

Jake sabia que na maioria dos casos as aparências enganavam, porque as mulheres nem sempre eram o que pareciam ser. Aquela atraente empregada de bar atraía-o muito mais do que o fizera a sua ex-mulher, e isso, por si só, era uma razão mais do que suficiente para se manter afastado dela. Além do mais, tinha um caso em que se concentrar.

Rina agitou uma mão em frente aos olhos dele e sorriu. Evidentemente que sabia que a atenção do irmão não estava centrada nas palavras dela, mas sim na empregada de bar que o fascinava. Considerando que ele insistiu que se encontrassem naquele bar, àquela hora e no mesmo dia, durante semanas, Jake sabia que as suas intenções eram completamente transparentes.

– Como te estava a dizer – recordou-o, – tive de levar o Norton a dar o seu passeio antes de vir ter contigo e ele não queria sair. Claro que está treinado para obedecer, mas foi uma conquista levá-lo à rua. O pobre animal odeia pisar o cimento quente dos passeios! Muitas vezes devemos dar um espectáculo, comigo, literalmente puxando por ele ao longo da Park Avenue, enquanto ele tenta levar-me de volta a casa. Estás a imaginar?

– Esse cão é um mal-educado – murmurou.

Naquele momento, Jake olhou por cima do ombro da irmã e procurou a mulher das suas fantasias, mas viu que tinha desaparecido. Uma desilusão apenas comparável à força do desejo que se tinha apoderado dele anteriormente.

– Já volta – disse Rina, batendo-lhe na mão com carinho. – O Norton não é nenhum mal-educado, é só muito especial no que diz respeito ao que gosta e de quem gosta...

– E de quem não gosta – replicou Jake, lembrando-se de que o cão da irmã lhe destruiu uns ténis novos na primeira vez que se viram.

– Bom, seja como for, era o cão do Roben e eu sou tudo o que lhe resta.

– Como estás?

Rina decidira não acompanhar o marido numa viagem de negócios e ele morreu num acidente de automóvel quando voltava para casa a toda a velocidade, para não passar a noite fora. Ela viu-se consumida pela dor e pela pena, e Jake deu prioridade a tudo o que significasse animar a irmã. Isso significava encontrar-se com ela, várias vezes por semana, para beberem um copo, embora já tivesse passado quase um ano. Rina melhorara muito e ele, em contrapartida, ganhara uma obsessão por uma mulher que não conhecia.

– Na realidade, era precisamente sobre isso que queria falar contigo. Estou a pensar fazer umas férias. Uma amiga convidou-me para passar o Verão com ela em Itália e eu preciso de descansar. Preciso de ir...

– Acho uma excelente ideia – disse Jake, sem dúvidas, porque para além do evidente benefício das férias, Rina estaria fora do País até que Ramírez estivesse entre grades. – Qualquer coisa que te tire do mausoléu que é o teu apartamento parece-me estupenda.

– Fico feliz por pensares assim, mas preciso que fiques lá enquanto eu estiver fora, para tomares conta do Norton. Antes de me dizeres que não, pensa no jacuzzi e na piscina que fariam muito bem à tua reabilitação.

– Não preciso de terapia física. Estou a fazer alguns exercícios que me recomendou o fisioterapeuta e o meu ombro já está bom.

– Mas não é isso que diz o departamento.

Por muito que gostasse de Rina, não lhe podia confessar que estava a fazer sessões exaustivas de reabilitação. A sua generosidade e preocupação, ainda que bem intencionadas, levavam-na a meter-se demasiado na vida dele, e não podia correr o risco dela informar o departamento de que ele estaria em plena forma antes do esperado.

– O departamento não tem nada a dizer sobre este assunto, a menos que eu decida voltar.

Já não se sentia tão seguro de o querer fazer, mas a ferida da bala, que lhe dera cabo do ombro, não tinha nada a ver com aquela incerteza, mas sim as circunstâncias que rodearam o episódio.

Louis Ramírez, que vendia drogas nas universidades e tinha acesso aos traficantes mais importantes, quase fora detido. Como detective do departamento de narcóticos, Jake investira todo o seu tempo e a sua energia naquele tipo, e viu demasiados jovens viciados em drogas por causa dele. Então, jurou que o meteria na prisão e que faria o possível para ser por muito tempo.

Confiou num delator, embora se tenha arrependido disso no momento em que se disparou o primeiro tiro e percebeu que ele e os seus companheiros tinham caído numa emboscada.

Apesar de tudo, conseguiu levar a dele avante e, depois das contínuas trocas de balas que tiraram a vida a Frank e que feriram Jake, meteu Ramírez na prisão e teria conseguido mantê-lo lá se um oficial novato não se tivesse esquecido de lhe ler os direitos. Assim, Ramírez conseguiu sair por «questões técnicas».

Não era a primeira vez que Jake via um delinquente sair em liberdade logo de seguida, mas foi a gota que encheu o copo. Sentiu-se enjoado e desiludido quando viu o seu trabalho ficar reduzido a nada pelo sistema judicial dos Estados Unidos.

O detective que Ramírez assassinou era um bom homem, um bom pai e um bom marido e Jake preferia que tivesse sido ele a levar com aquela bala mortal, porque não tinha uma família a seu cargo. As visitas e os telefonemas à família de Frank foram um pobre substituto do que eles tinham perdido.

– Odeio o sistema e a rotina de sempre, que já conheço o suficiente. – acrescentou.

– Vais deitar tudo a perder só porque o Frank morreu? – perguntou Rina, incrédula.

– Vou redireccionar as minhas energias – mentiu, porque não queria desesperar Rina dizendo-lhe que planeava apanhar Ramírez sozinho.

Jake não podia acusar Ramírez de nenhum dos delitos pelos quais ele já tinha sido julgado, mas sem dúvida que continuava a vender drogas e Jake estava certo de que cometeria um erro. A partir das pesquisas que ele fazia e da informação oficial que dois dos seus colegas detectives lhe iam proporcionando, Jake não tinha dúvidas de que apanharia Ramírez, era só uma questão de tempo. Sabia que não teria tanta liberdade para seguir as suas pistas se estivesse controlado pelos seus superiores e pelos novos casos que certamente lhe dariam se voltasse ao seu posto.

Além disso, ele precisava de tempo para descobrir o rumo que iria dar à sua vida e para perceber a que se devia o nervosismo que sentia há algum tempo. Sem a pressão e as restrições do seu trabalho...

Como sabia que o seu tenente lhe cairia em cima se soubesse que estava quase bom, decidiu que uma recuperação prolongada seria a desculpa perfeita.

– Podemos mudar de assunto? – perguntou à irmã.

– Como quiseres, deixa os teus músculos atrofiarem até não os conseguires pôr a funcionar. Então, quando quiseres regressar...

– Rina...

– Está bem, está bem, vamos mudar de assunto. Então, ficas no meu apartamento enquanto eu estiver fora?

– Não podes deixar o cão num canil?

– O Norton não gosta de canis. Fica muito nervoso, e se tu não ficares a tomar conta dele eu terei de cancelar a viagem.

– Está bem – murmurou Jake, resignado a tomar conta do cão e do andar da irmã durante o Verão. De facto, não lhe fazia diferença o sítio onde vivia, desde que fosse livre de ir e vir para prosseguir com a sua investigação. Mais a mais, se Rina se fosse embora da cidade não teria ninguém para lhe cortar os movimentos. – Precisas de umas férias e se precisas da minha ajuda para poderes ir, podes contar com ela, mesmo que isso signifique que eu tenha de passear com esse cão patético.

– Obrigada! – exclamou a irmã.

Antes de Jake poder pestanejar, Rina levantou-se e deu a volta à mesa, com o rosto iluminado de uma forma rara desde que o marido morrera, abraçou-lhe o pescoço e beijou-lhe a face.

– Obrigada. Não consegues imaginar o quanto tem sido deprimente para mim estar sozinha naquele andar. Esta viagem vai-me ajudar a deixar para trás todas as minhas recordações.

– É isso que eu quero, mas agora importas-te de me largar antes que o suor nos cole?

Rina começou a rir-se e voltou a sentar-se na cadeira.

– Bom, agora que tratámos da minha vida, está na altura de falarmos da tua, irmão.

– Já sabia que a trégua não podia durar, mas faço um acordo contigo, Rina. Vai para Itália e diverte-te, volta feliz, e depois ocupámo-nos da minha vida!

Nessa altura, Jake pensava ter Ramírez novamente preso, embora soubesse perfeitamente que Rina não se referia ao trabalho.

– Não sei – disse ela, olhando por cima do ombro. – Se esperares tempo demais, alguém pode tirar-ta. Pode até já ser comprometida...

– Não tem anel – replicou ele, lamentando o momento em que aquelas palavras lhe saíram pela boca fora.

– Então, faz alguma coisa a esse respeito – desafiou-o a irmã.

Jake quis responder ao desafio, como fazia frequentemente quando eram miúdos, mas não conseguia. Depois da sua ex-mulher, as únicas mulheres que consideraria eram as comprometidas, que não ameaçavam nem a sua sensatez, nem o seu coração. E considerando a forte atracção que aquela mulher exercia sobre ele, Jake tinha a sensação de que ela era capaz de fazer isso e muito mais. Mas com o caso Ramírez na sua cabeça, não tinha tempo para distracções e ela era, seguramente, uma distracção.

Brianne Nelson descia a rua a correr em direcção ao Sidewalk. Estava atrasada. Brianne precisava daquele segundo emprego e do dinheiro que ele implicava, mas a única coisa em que conseguia pensar era nele. Estaria lá, como esteve na noite anterior e na outra antes? Estaria à espera ou cansar-se-ia de esperar e teria ido para casa? Estaria sozinho ou, como sempre, com aquela linda mulher? Na noite anterior, Brianne vira como aquela mulher o beijou...

O coração de Brianne batia a um ritmo vertiginoso, mais devido à antecipação e à excitação, do que à sua vontade de chegar depressa ao trabalho. Estava a ver que nunca mais saía do hospital. O seu último cliente, o senhor Johnson, entreteve-se em raios X e quando chegou à fisioterapia já passavam mais de quarenta e cinco minutos da hora da sessão. Depois do seu segundo ataque de apoplexia, precisava tanto de reabilitação como Brianne do dinheiro que o seu trabalho de empregada de bar lhe proporcionava. No entanto, não pode passá-lo para outro terapeuta, o que significava que ia chegar atrasada ao café.

Não queria deixar aquele trabalho, principalmente desde que o homem dos seus sonhos estava à espera. Ia três vezes por semana, sempre com o mesmo género de roupa: um par de calças de ganga e uma camisa que, evidentemente, ele próprio criara, com uma tesoura e um bom impulso. A camisa recortada deixava a descoberto uma pele bronzeada, coberta de pelo escuro... e os antebraços... Brianne nunca vira uns músculos tão bem tonificados! Aquele desconhecido despertou o seu interesse e alimentou as suas fantasias.

À medida que se foi aproximando da entrada do café, foi abrandando o passo, olhou com atenção as mesas que cobriam o passeio e examinou cuidadosamente os homens que estavam sentados no exterior. Apesar de muitos terem o cabelo tão escuro como o dele, nenhum deles lhe fazia acelerar mais o coração, nem lhe causava uma líquida sensação de desejo como consequência do seu atraente sorriso.

Quando se apercebeu da sua ausência, tentou não ficar desiludida e recordou que o homem que fazia parte das suas fantasias já tinha par. O facto de se encontrar com a mesma mulher tantas vezes por semana, significava que havia devoção e compromisso...com outra.

Foi precisamente por essa razão que pediu a Jimmy para deixar Kelly tratar das mesas da esplanada. Apesar do muito interesse que tinha por ele, sabia que aquele desconhecido só poderia ser uma fantasia.

– Estás atrasada – gritou-lhe Jimmy, quando entrou e passou em frente ao balcão.

– Desculpa.

– Espera um momento. Alguém quer... – antes de Jimmy poder acabar a frase, meteu-se na pequena casa de banho.

Jimmy era o seu chefe, mas foi-se tornando pouco a pouco num amigo e Brianne sabia que tinha sorte por ele suportar que ela chegasse frequentemente atrasada. Como ela, Jimmy também perdeu os pais muito jovem e também teve de criar uma irmã. No entanto, não teve a acrescida pressão de ter por irmão um génio que merecia estudar num caríssimo colégio interno privado e que, depois, iria para a universidade.

Foi uma pena os pais de Brianne não terem pensado nela e no irmão quando decidiram voar num pequeno avião e com um tempo infernal, sobre o qual tinham sido avisados. E foi uma pena terem investido o seu dinheiro em prazer e não em proporcionar segurança aos filhos. Brianne começou a tremer e afastou os pensamentos dos seus pais egoístas. Ela era a única forma de sustento do irmão há tanto tempo que já não fazia nenhuma diferença.

Pôs a roupa debaixo do braço e foi lavar as mãos para tirar a sujidade do metro de Nova Iorque. Enquanto o fazia, perguntava-se se ele voltaria mais tarde. Só aquele pensamento lhe daria forças para continuar, mesmo com os pés a pedirem-lhe descanso. Aquele desconhecido dava-lhe a adrenalina de que necessitava para se continuar a mexer, apenas por saber que ele estava lá, a observá-la, fazendo-a sentir-se sexy e desejável quando não tinha tempo para o ser, e isso bastava-lhe.

Depois de secar as mãos, deu a volta em direcção aos sanitários e, antes de conseguir pestanejar, chocou com uma cliente.

– Desculpe – murmurou.

– A culpa foi minha.

Naquele momento, Brianne percebeu que estava cara a cara com a mulher que se costumava sentar com o homem das suas fantasias. Tinha o cabelo escuro, com um corte escadeado de última moda, o penteado condizendo perfeitamente com a ligeira maquilhagem e o fato moderno. Efectivamente, não parecia uma mulher que passava os dias a massajar o corpo de outras pessoas.

– Desculpe, estou um pouco atrasada – disse-lhe depois de consultar o relógio, dispondo-se a entrar num sanitário para mudar de roupa.

– Podemos falar primeiro?

– Como disse? – perguntou Brianne, voltando-se imediatamente.

Não tinham nada em comum, nada de que falar... excepto dele.

Brianne não fizera nada, apesar dos pensamentos e das fantasias que tecera sobre um homem que não conhecia serem suficientemente atrevidos para a fazerem corar. E já vira muitos homens seminus aos longo das suas sessões, embora nenhum deles se parecesse com ele nem um bocadinho!

– Está bem? Espero que não desmaie.

– Sim, estou bem – disse Brianne, muito envergonhada com os seus pensamentos. Devia lembrar-se que o homem das suas fantasias tinha uma namorada, que queria falar com ela naquele momento. – Estou bem – acrescentou. – Obrigada, é que estou muito atrasada, e o meu chefe...

– É um tipo fantástico, disse que podíamos falar quando chegasses.

– Não quero a ser mal-educada, mas tenho de ir trabalhar, a sério. O Jimmy é maravilhoso, mas ele não me pode compensar as gorjetas que já perdi.

– Percebo muito melhor do que você pensa. Venho aqui frequentemente.

– Eu sei – sussurrou Brianne, antes de conseguir conter-se.

– Sim, bom, não quero que pense que sou uma intrometida, e que estava a ouvir deliberadamente, mas... – confessou a mulher com um sorriso tímido. – Bom, sim, estava a ouvir deliberadamente! Bem, ontem à noite ouvi-a dizer ao Jimmy o quão cansada se sentia e o muito que desejava poder respirar. Então, ele recordou-a de que está a pensar mudar-se com o seu irmão no próximo Outono, quando ele começar as aulas em Stanford.

– E quer pôr-me no primeiro avião que haja para lá? – perguntou Brianne, com um toque de sarcasmo.

– Sim. Não – respondeu a mulher, depois de dar uma gargalhada... – Bom, acho que é melhor explicar-me.

Brianne não tinha a certeza de querer ouvir as palavras da mulher, porque se estivesse a pensar que ela lhe queria caçar o namorado, era capaz de a convencer de que a Califórnia era um sítio excelente.

De facto assim era. Imaginou um novo começo para o irmão e para ela. Poderia exercer a sua profissão num clima mais quente e a horas normais, ter amigos, uma vida...

Suspirou. Mandou currículos, mas até àquele momento não tivera sorte, porque ou a recusaram, ou o salário que lhe ofereciam não se aproximava do que tinha em Nova Iorque. Brianne teria de fazer uma escolha muito acertada se queria pagar as propinas do internato de Marc e a suas próprias dívidas.

Pondo de lado a realidade, Brianne tinha em mente o trabalho com que sempre sonhou. Um sítio onde pedira trabalho e que ainda não lhe tinha respondido. Se a Quinta para Meninos Especiais lhe oferecesse um lugar, esperava sinceramente poder aceitá-lo, porque trabalhar com crianças sempre fora o seu sonho. Ainda não o tinha conseguido realizar porque o trabalho que arranjou em geriatria proporcionava-lhe um bom ordenado.

Brianne não tinha muita esperança de que a oferta da Quinta chegasse, ou que fosse melhor do que as que tinha recebido até ao momento. E o pior é que Marc e ela ficariam separados pela primeira vez na vida, o que provavelmente seria melhor para o irmão. Mas mesmo assim...

– Está a ouvir-me?

– Sim – respondeu Brianne, pestanejando. – Desculpe.

– Pedia-lhe para nos sentarmos a conversar, mas... – sussurrou a mulher, olhando à sua volta, mas depois sorriu. – Bom, já sei onde nos podemos encontrar. Gostava que me ouvisse, porque tenho uma proposta que não poderá recusar.