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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Carol Marinelli. Todos os direitos reservados.

PRISÃO DE AMOR, N.º 1509 - Dezembro 2013

Título original: Playing the Dutiful Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3759-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

– Vou ter de desligar – disse Meg à mãe. – Já acabaram de embarcar, portanto, é melhor que desligue o telefone.

– Ainda tens algum tempo – insistiu Ruth Hamilton. – Já acabaste o trabalho da compra Evans?

– Sim – Meg tentou que a sua voz não soasse áspera. Queria desligar o telefone e relaxar. Meg odiava andar de avião. Na realidade, o que odiava era a descolagem. Queria fechar os olhos e ouvir música, e inspirar lenta e profundamente antes de o avião iniciar a descolagem do aeroporto de Sidney, mas a sua mãe, como sempre, queria falar de trabalho. – Como te disse, está tudo em dia.

– Ainda bem – disse Ruth.

Meg enrolou uma madeixa de cabelo vermelho no dedo, como fazia sempre que estava tensa ou a concentrar-se.

– Tens de te certificar de dormir no avião, Meg, para te pores em marcha assim que aterrar. Não acreditas na quantidade de gente que há. Há tantas oportunidades...

Meg fechou os olhos e conteve um suspiro de frustração enquanto a sua mãe continuava a falar sobre a conferência e em seguida passava aos detalhes da viagem. Meg já sabia que um carro a recolheria no aeroporto de Los Angeles para a levar diretamente ao hotel onde se celebrava a conferência. E, sim, sabia que teria meia hora para tomar duche e mudar de roupa.

Os pais de Meg tinham uma presença proeminente no mercado imobiliário de Sidney e pretendiam ampliar a sua carteira investindo no estrangeiro para alguns dos seus clientes. Tinham ido para Los Angeles na sexta-feira para fazer contactos, enquanto Meg punha em dia a papelada no escritório antes de se reunir a eles.

Meg sabia que deveria estar muito mais entusiasmada com a perspetiva de uma viagem a Los Angeles. Normalmente, adorava visitar lugares novos e, no fundo, sabia que não tinha motivo de queixa: viajaria em classe executiva e hospedar-se-ia no sumptuoso hotel onde se celebrava a conferência. Faria o papel de profissional de negócios de sucesso, tal como os seus pais.

Apesar de, na verdade, o negócio familiar não ir muito bem naquele momento.

Os seus pais nunca hesitavam em tentar ficar ricos em dois dias. Meg, sensata acima de tudo, tinha sugerido que só um fosse à conferência, em vez de irem todos, ou inclusive que não fossem e se concentrassem nas propriedades que já tinham em catálogo.

Como é óbvio, os seus pais não tinham sequer querido ouvir falar disso. Tinham insistido em que aquele era o grande passo.

Meg duvidava. Mas não era isso o que a inquietava. Na realidade, quando tinha sugerido que fosse apenas um deles, tivera a esperança de que considerassem enviá-la a ela, que se ocupava dos aspetos legais.

Uma semana fora não era só um luxo, começava a tornar-se uma necessidade. E não por ir para um hotel bom, teria dormido numa tenda se fosse preciso, mas pelo descanso, por ter uma pausa e poder pensar. Meg sentia-se como se estivesse a sufocar. Fosse onde fosse, os seus pais estavam lá, sem lhe dar espaço para pensar. Fora assim desde sempre e às vezes sentia-se como se toda a sua vida tivesse sido planeada de antemão pelos seus pais.

Certamente, assim fora.

Meg tinha pouco do que se queixar. Tinha o seu próprio apartamento em Bondi, mas, dado que trabalhava doze horas diárias, nunca o desfrutava. Aos fins de semana havia sempre algo que requeria a sua atenção: uma assinatura que faltava, um contrato por ler. Parecia que nunca acabava.

– Vamos ver algumas propriedades esta tarde... – a sua mãe continuou a falar enquanto se iniciava um frenesi no corredor, junto do banco de Meg.

– Não concretizem nada até que eu chegue – advertiu Meg. – Digo-o a sério, mamã!

Viu que duas assistentes de bordo ajudavam um homem. De onde estava, Meg não podia ver o seu rosto, mas, a julgar pelo seu físico, o homem não parecia necessitar de assistência.

Era alto e estava em forma. Parecia mais do que capaz de pôr o computador no compartimento da bagagem, mas as assistentes de bordo andavam à sua volta, encarregavam-se do seu casaco e pediam-lhe desculpa enquanto ocupava o lugar contíguo ao de Meg.

Quando lhe viu o rosto, Meg ignorou por completo a conversa com a sua mãe. Era um homem muito bonito, de cabelo preto espesso e bem cortado, usava-o um pouco comprido e caía-lhe sobre a testa, mas o que mais lhe chamou a atenção foi a boca, perfeitamente desenhada, como uma mancha vermelho-escura no negro do queixo por barbear. Embora a expressão dele fosse áspera, era uma boca belíssima.

Cumprimentou Meg com a cabeça e sentou-se ao seu lado. Não parecia nada satisfeito.

Meg sentiu-lhe o cheiro, uma mistura de perfume caro e aroma viril. Embora continuasse a tentar concentrar-se no que dizia a sua mãe, Meg estava atenta à conversa tensa que tinha lugar ao seu lado: as assistentes de bordo tentavam acalmar um homem que, pelos vistos, não era fácil de contentar.

– Não – disse à assistente de bordo. – Resolveremos isto assim que tivermos descolado.

Tinha uma voz profunda e grave, com um sotaque que Meg não conseguia identificar. Poderia ser espanhol, mas não tinha a certeza.

Do que tinha a certeza era de que o homem estava a roubar-lhe a atenção. Não era óbvio, continuava a falar com a sua mãe e a enrolar o cabelo no dedo, mas não conseguia deixar de ouvir a conversa que não lhe dizia respeito.

– Mais uma vez – disse-lhe a assistente de bordo, – pedimos-lhe desculpa por qualquer incómodo, senhor Dos Santos – a assistente de bordo olhou para Meg e dirigiu-se a ela com educação, mas com tom mais seco: – Tem de desligar o telefone, menina Hamilton. Estamos a preparar-nos para levantar voo.

– Tenho de desligar, mamã – disse Meg. – Até logo – suspirou com alívio e desligou o telefone. – É o melhor de andar de avião – disse, enquanto o guardava.

– Andar de avião não tem nada de bom – comentou o seu vizinho com brutalidade. O avião começou a circular pela pista. – Pelo menos, hoje – especificou ao ver os sobrolhos arqueados dela.

– Oh, lamento... – ofereceu-lhe um leve sorriso e olhou em frente. Pensou que ele podia estar a viver uma crise familiar ou uma situação de emergência. Podia haver muitas razões que justificassem o seu mau humor e não lhe diziam respeito.

– Costumo gostar de andar de avião, faço-o com frequência, mas hoje não havia lugares na primeira classe – disse ele.

Surpreendeu-a que se incomodasse em responder. Virou a cabeça e pestanejou.

Niklas Dos Santos contemplou os olhos verdes que o olhavam fixamente. Esperava ouvir um murmúrio de empatia ou uma alusão à ineficácia da companhia aérea, reações a que estava habituado, mas ela surpreendeu-o.

– Pobrezinho... – sorriu. – Olhem que ter de sofrer e contentar-se em ir em classe executiva...

– Como disse, viajo muito e, além de trabalhar no avião, preciso de dormir, coisa que agora será difícil. Admito que a mudança de planos foi esta manhã, mas, mesmo assim... – não continuou. Niklas pensou que com aquilo ficava explicado o seu mau humor. Tinha a esperança de ter imposto o silêncio, mas a mulher falou novamente.

– Sim, é terrivelmente desconsiderado que a companhia aérea não reserve um lugar em primeira classe para o caso de se dar a circunstância de teres uma mudança de planos.

Sorriu ao dizê-lo e ele entendeu que brincava, de certo modo. Não era como as pessoas com que costumava lidar. Normalmente, veneravam-no ou, no caso de uma mulher bonita, e talvez ela o fosse, namoriscavam com ele.

Estava habituado às mulheres de cabelo escuro bem arranjadas da sua cidade natal. De vez em quando, gostava de loiras. Ela tinha o cabelo loiro-avermelhado, mas, ao contrário das mulheres com que costumava sair, não se esforçava absolutamente para se destacar. Estava bem vestida, com umas calças azul-escuras e uma blusa creme delicada, mas a blusa estava abotoada até cima e não levava um pingo de maquilhagem. Baixou o olhar e viu que tinha as unhas limpas e cuidadas, mas sem verniz. Também viu que não usava aliança.

Se os motores não tivessem aumentado a velocidade naquele momento, talvez ela tivesse reparado no seu olhar. Se não tivesse virado a cabeça, talvez tivesse visto um dos seus escassos sorrisos. Para Niklas, era refrescante que não parecesse impressionada com ele.

Mas falava demasiado.

Niklas decidiu que a partir daquele momento ele marcaria o ritmo. Se voltasse a falar, ignorá-la-ia. Tinha muito trabalho para fazer durante o voo e não queria que o interrompesse a cada cinco minutos com um comentário.

Niklas não era falador, não desperdiçava palavras em coisas sem importância, e não lhe interessavam as opiniões daquela mulher. Só queria chegar a Los Angeles tendo trabalhado e dormido o máximo possível. Enquanto o avião acelerava pela pista, fechou os olhos e bocejou. Decidiu dormitar até que fosse permitido ligar o computador.

Então, ouviu-a a respirar.

Com força.

E o volume continuou a aumentar.

Rangeu os dentes ao ouvir o seu gemido quando o avião levantou voo. Virou-se para lhe lançar um olhar de irritação, mas, como ela tinha os olhos fechados, teve de se contentar em contemplá-la. Na realidade, era uma imagem fascinante. Tinha o nariz arrebitado, os lábios grossos e as pestanas de um tom loiro-avermelhado, como o cabelo, mas estava incrivelmente tensa e as suas inspirações ruidosas e profundas convertiam-na na mulher mais irritante do mundo. Não conseguiria suportar aquilo durante doze horas, teria de insistir em que tirassem alguém da primeira classe. Aquela situação era insustentável.

Meg inspirava pelo nariz e expirava pela boca enquanto se concentrava em controlar a respiração com os músculos do estômago, como recomendavam os exercícios para controlar o medo de andar de avião. Brincou com o cabelo e, quando isso deixou de ajudar, agarrou-se aos apoios de braços, assustada pelo ruído terrível do avião ao elevar-se. Foi uma descolagem bastante turbulenta e aquela era a parte do voo que mais odiava. Só conseguia relaxar depois de as assistentes de bordo se levantarem e desligarem o sinal de uso obrigatório do cinto.

O avião inclinou-se um pouco para a esquerda e Meg apertou os olhos com mais força. Voltou a gemer e Niklas, que estivera a observá-la o tempo todo, notou que estava muito pálida e que não tinha um pingo de cor nos lábios.

Assim que desligassem as luzes, falaria com uma assistente de bordo. Era-lhe indiferente que houvesse uma família real na primeira classe. Teriam de arranjar um lugar para ele! Consciente de que levava sempre a sua avante e de que em breve mudaria de sítio, Niklas decidiu que podia permitir-se ser agradável um minuto ou dois.

Era óbvio que a mulher estava aterrorizada.

– Suponho que saibas que este é o meio de transporte mais seguro, não sabes?

– Logicamente, sim – respondeu ela, com os olhos ainda fechados. – Mas, neste momento, não me parece nada seguro.

– Pois, mas é.

– Disseste que andas de avião com frequência? – queria que lhe dissesse que o fazia diariamente, que o ruído que se ouvia era totalmente normal e que não havia nada com que se preocupar. De facto, se fosse piloto, poderia começar a acreditar que estava tudo bem.

– Constantemente – respondeu ele, relaxado.

– E aquele barulho?

– Que barulho? – ouviu por um instante e pareceu-lhe tudo normal. Pensou que talvez ela é que não fosse normal, portanto, acrescentou: – Hoje vou para Los Angeles, como tu, e dentro de dois dias irei para Nova Iorque...

– E depois? – perguntou Meg, porque a voz dele era preferível aos seus próprios pensamentos.

– Depois, vou para o Brasil, para casa, onde espero tirar duas semanas de férias.

– És do Brasil? – abriu os olhos e virou a cabeça, vendo os dele pela primeira vez. Tinha os olhos pretos e, naquele momento, pareciam-lhe um paraíso. – Então, falas...? – tinha a mente agitada, continuava a ouvir o ruído dos motores.

– Português – disse ele. Como se estivesse ali para a entreter, sorriu e ofereceu-lhe mais opções. – Ou posso falar francês. Ou espanhol, se preferires.

– O inglês serve.

Não havia necessidade de continuar a falar. Ele viu como a cor voltava às suas faces e que passava a língua pelos lábios rosados.

– Já estamos no ar – disse Niklas.

Um instante depois, tocou a campainha e as assistentes de bordo levantaram-se.

Felizmente, o pânico de Meg tinha chegado ao fim e suspirou com força.

– Peço desculpa – sorriu-lhe, envergonhada. – Não costumo ficar tão mal, mas havia muita turbulência.

Ele não achava que tivesse havido turbulência, mas não ia discutir, nem dar azo a mais conversa.

– Já agora, o meu nome é Meg – apresentou-se ela.

Ele não tinha interesse em saber o seu nome.

– Meg Hamilton.

– Niklas – disse ele com inapetência.

– Lamento muito, a sério. A partir de agora, estarei bem. Não tenho problema em andar de avião, é a descolagem o que não suporto.

– E a aterragem?

– Isso não me incomoda.

– Então, nunca foste a São Paulo – disse Niklas.

– És de lá?

Niklas assentiu, agarrou na ementa e começou a lê-la, até que recordou que ia mudar de lugar. Premiu o botão para chamar a assistente de bordo.

– É um aeroporto muito concorrido?

Ele olhou para Meg como se tivesse esquecido que estava ali ou que tivessem estado a falar.

– Muito – disse.

Viu que uma assistente de bordo se aproximava com uma garrafa de champanhe. Sem dúvida, assumira que tinha chamado para pedir uma bebida, ao fim e ao cabo, conheciam as suas preferências. Quando abriu a boca para falar, Niklas apercebeu-se de que seria uma grosseria pedir a mudança de lugar diante de Meg.

Decidiu beber algo e em seguida ir falar com a assistente de bordo em particular. Enquanto lhe serviam a bebida, notou que ela o olhava e virou-se com irritação.

– Também queres beber alguma coisa?

– Por favor – ela sorriu.

– É para isso que serve a campainha – replicou ele. Ela não pareceu dar-se conta de que estava a ser sarcástico, portanto, resignado, pediu outro copo.

Pouco depois, Meg saboreava a bebida. Era deliciosa, borbulhante e fresca, e tinha a esperança de que pusesse fim ao seu falatório, mas não foi assim. Pelos vistos, os nervos pelo voo e por estar junto de um homem tão bonito tinham tido o efeito de lhe dar corda à língua.

– Parece inadequado beber às dez da manhã – ouviu-se a dizer e desejou esbofetear-se. Não sabia o que estava a acontecer-lhe.

Niklas não respondeu. A sua mente voltava a estar concentrada no trabalho, em tudo o que tinha de acabar para poder tirar algum tempo livre.

Ia de férias. Há pelo menos seis meses que não parava e estava desejoso de estar de volta ao Brasil, o país que amava, com a comida que adorava e a mulher que o adorava a ele e que sabia como eram as coisas...

Expirou enquanto o pensava, uma exalação muito parecida a um suspiro. A um suspiro de aborrecimento, inclusive. Niklas perguntou-se como podia sê-lo. Tinha tudo o que um homem podia desejar e trabalhara muito para o conseguir, para garantir que nunca teria de voltar para o lugar do qual tinha saído.

Disse a si mesmo que já tinha essa garantia, podia parar um pouco. Um período no Brasil libertá-lo-ia dessa sensação de inquietação. Pensou no voo até casa, no avião a aterrar em São Paulo, e, de repente, surpreendeu-se a si mesmo. Acabou o champanhe, portanto, poderia ter-se levantado para ir falar com a assistente de bordo, mas, em vez do fazer, virou a cabeça e falou com ela.

Com Meg.