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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Annie West

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Noiva chantageada, n.º 1223 - fevereiro 2018

Título original: Blackmailed Bride, Innocent Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-005-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

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Capítulo 1

 

Alissa saiu do eléctrico exactamente quando, sob o céu plúmbeo de Melbourne, começava a chover. Não tinha guarda-chuva. Naquele dia, o tempo era a última das suas preocupações.

Ouviu-se um trovão tão perto que, por um instante, temeu que se abrisse um buraco aos seus pés. A temperatura tinha descido drasticamente numa questão de minutos e Alissa tremeu, sentindo, de repente, que o frio chegava até aos ossos.

«É um sinal de mau agouro.»

Alissa tentou ignorar a voz supersticiosa no seu interior. Os meteorologistas tinham passado dias a prever a tempestade e aquilo era apenas uma coincidência, pensou, começando a correr.

Tinha planeado aquela tarde meticulosamente. Nada, nem uma tempestade de raios e trovões nem as dúvidas que não a deixavam dormir de noite, conseguiriam pará-la e muito menos tendo em conta que era muito importante conseguir o que desejava.

A única coisa que tinha de fazer era… casar-se.

Ficar com um homem.

Tremeu novamente e repetiu-se mais uma vez que o casamento fora ideia dela. Que Jason não representava nenhuma ameaça e que o casamento seria breve. A vida ensinara-lhe os perigos de estar em poder de um homem e nada podia evitar que sentisse o terror que lhe gelava as veias cada vez que pensava na repetição daquela possibilidade.

Mas não podia fazer outra coisa. Donna, a sua irmã, precisava dela. E aquela era a sua última oportunidade.

Alissa faria tudo para salvar a sua querida irmã mais nova. Ela era a única que podia fazê-lo.

Subiu as escadas do grande edifício público da Conservatória, repetindo várias vezes que tudo correria bem.

Claro que correria bem. Jason e ela estariam casados durante seis meses e, depois, separar-se-iam, sem mais fardos senão o dinheiro que receberiam então. O dinheiro que salvaria a vida da sua irmã.

Sem parar de correr, entrou pela porta principal para o hall da Conservatória, uma sala espaçosa perdida na penumbra e tropeçou em alguma coisa.

– Cuidado! – exclamou alguém bruscamente.

Umas mãos enormes seguraram-na pelos cotovelos e afastaram-na do corpo firme e sólido contra o qual se colou por causa da inércia. Uma sensação de calor envolveu-a e Alissa sentiu que o seu coração acelerava ao inalar a fragrância masculina que emanava das mãos que a seguravam.

Ao recuar, percebeu que tinha tropeçado nuns sapatos. Enormes, como as mãos que a seguravam com firmeza. Alissa levantou o olhar e foi subindo o olhar pelo casaco à medida, os ombros largos e fortes, o queixo angular e meticulosamente barbeado. Não ignorou a boca larga e firme, o nariz comprido e recto, entre duas maçãs do rosto altas e marcadas que lhe davam um ar aristocrático tingido de desprezo.

Alissa respirou fundo. O rosto masculino era duro e arrogante. Com o cabelo preto penteado para trás, o seu aspecto era de uma elegância impossível, mas os seus olhos… Alissa ficou a olhar para os olhos pretos que a observavam com uma expressão de recriminação.

Não gostaria de estar na pele da mulher que, sem dúvida, se tornaria sua esposa, pensou ela.

– Perdão… – murmurou, quando conseguiu articular palavra. – Vinha a correr por causa da chuva e não o vi.

Silêncio.

As sobrancelhas do homem uniram-se, formando uma expressão de desaprovação.

Alissa levou uma mão ao cabelo encharcado. Um jorro de água da chuva caiu-lhe pelas costas. O fato colava-se ao seu peito, às costas e às pernas. Até os dedos dos pés estavam molhados. O frio fê-la tremer.

O que se passava com aquele homem? Porque parecia tão incomodado com ela, por causa do seu aspecto, ou porque tinha tropeçado nele?

«Uma maria-rapaz descontrolada.»

As palavras ecoaram com tanta força na sua cabeça que Alissa deu um salto. Mas o que ouviu foi a voz áspera do seu avô. O frio olhar de um desconhecido devolvera-lhe uma lembrança inesperada.

Devia estar mais nervosa do que pensava para ouvir a voz do seu falecido avô.

– Desculpe, eu…

– Entra sempre assim nos sítios, como um redemoinho? Sem ver para onde vai?

A voz era grave, profunda e muito masculina, com um laivo enrouquecido que a fez sentir pele de galinha, mas desta vez não de receio nem de frio. Era uma voz sensual, feita para seduzir uma mulher, com uma cadência suave.

– Não entrei como um redemoinho! – protestou ela, erguendo-se.

Puxando o braço, soltou-se dele. Infelizmente, mal lhe chegava ao ombro, o que subtraía uma certa força ao seu protesto.

– Peço-lhe desculpas por o ter incomodado. Deixá-lo-ei em paz.

Alissa virou-se e afastou-se. Sentiu o olhar masculino cravado na pele nua da nuca e no balanço das suas ancas, mas soube que não era um olhar de admiração.

Era um olhar penetrante, duro e depreciativo.

Porquê? Não fazia ideia, mas também não ia perguntar-lhe.

Talvez estivesse à espera da sua noiva e o atraso o tivesse levado a desabafar a sua impaciência com ela.

Alissa levantou a cabeça e entrou por um corredor. O seu casamento esperava-a e não tinha tempo para especular sobre desconhecidos.

 

 

– Disse o quê? – perguntou Alissa, atónita e com os olhos esbugalhados.

O empregado da Conservatória encolheu os ombros e abriu as mãos.

– Que não podia vir.

Não podia ir? Era o seu casamento! O de Jason e o dela. Seria uma brincadeira?

Não, não podia sê-lo. Jason estava tão interessado no casamento como ela. Ou, pelo menos, no dinheiro que conseguiriam quando herdassem a propriedade do seu avô na Sicília e depois a vendessem. Na verdade, Jason aceitara a proposta de um casamento por conveniência assim que ela o propusera. Sem dúvida, o seu amigo precisava tanto do dinheiro como ela.

Aquilo tinha de ser um erro. Provavelmente, atrasar-se-ia, mais nada.

– E o que disse exactamente? – perguntou.

– O senhor Donnelly – respondeu o homem, atrás da secretária, – telefonou há trinta minutos e disse que não podia vir. Que tinha mudado de ideias.

As palavras foram acompanhadas por um olhar carregado de curiosidade, mas Alissa não estava preocupada com a hipótese de se sentir envergonhada por se ver abandonada pelo seu noivo a um passo do altar. A notícia era demasiado devastadora para pensar em sentir-se humilhada. Era um desastre de escala catastrófica.

Tinha de se casar. Se não se casasse nos próximos trinta dias, tal como exigiam as condições do testamento do seu avô, teria de esquecer a ideia de levar a sua irmã aos Estados Unidos para receber o tratamento de que precisava para a sua doença.

Com um sorriso forçado nos lábios, Alissa respirou fundo antes de perguntar:

– Disse mais alguma coisa?

– Não – o homem não conseguiu esconder um brilho de curiosidade no olhar. – Foi só isso.

– Está bem, obrigada.

Alissa virou-lhe as costas e tirou o telemóvel. Com dedos trémulos, marcou o número de Jason, mas estava ocupado. Teria acontecido alguma coisa terrível ou estaria a evitá-la? Então, percebeu que podia ter-lhe telefonado em vez de telefonar para a Conservatória, portanto sim, estava a evitá-la.

O que ia fazer? O pânico começava a impedi-la de pensar.

– Menina Scott?

A voz do empregado fê-la voltar-se com antecipação. Jason teria aparecido?

Não. Só estava ali o empregado e, ao seu lado, o desconhecido do hall.

O que fazia ali? Ao olhar para ele, encontrou o seu olhar implacável e desviou o olhar. Aquele homem fazia-a sentir-se terrivelmente incomodada.

– Sim? – perguntou ela, dando um passo para o empregado.

– O cavalheiro deseja falar consigo.

– Comigo?

Alissa obrigou-se a levantar o olhar para o rosto atraente e arrogante e ignorar o tremor de consternação que a percorreu.

– Se for Alissa Scott.

– Sou, sim – assentiu ela.

– Noiva de Jason Donnelly?

– É verdade – Alissa sentiu a boca seca.

– Neta de Gianfranco Mangano?

Alissa assentiu, cerrando os dentes com uma careta de desprezo ao recordar o seu falecido avô, o homem que tanto a fizera sofrer.

– Temos de falar.

– Jason enviou-o? – perguntou ela, com um estranho pressentimento.

O homem fez-lhe uma indicação para que o seguisse, porém, não esperou por ela e começou a dirigir-se para o hall.

– Onde vai? – perguntou ela, caminhando com passos rápidos atrás dele.

– A minha limusina está lá fora – disse ele. – Lá, poderemos falar sem que ninguém nos incomode.

Alissa abanou a cabeça. Não tencionava entrar em nenhum carro com um desconhecido e muito menos aquele desconhecido.

– Podemos falar aqui – disse ela, erguendo o queixo.

– Quer falar de um assunto privado aqui, num lugar público?

– Disse que queria falar – insistiu ela, sem dar o seu braço a torcer.

Preferia ser precavida do que ingénua.

 

 

Dario observou o rosto ovalado e voltou a sentir a reacção física do seu corpo. Apesar de tudo, do seu ódio pela família Mangano, do seu desprezo por aquela mulher, não podia ignorar o impacto que tinha nele. Uma pontada de desejo abriu caminho no seu corpo, deixando um rasto ardente como uma chama.

Sentira o mesmo há alguns minutos, ao encontrar-se com ela no hall, e surpreendera-se com a sua intensidade, muito maior do que o desprezo que sentia.

Aquela era a mulher que rejeitara as suas ofertas, que o rejeitara não uma, mas duas vezes, e que se recusara a conhecê-lo pessoalmente. Aquilo era uma ofensa de que precisava de se vingar. Nunca nenhuma mulher lhe negara o que desejava. E menos ainda tentara frustrar os seus planos aliando-se ao tal Jason Donnelly para evitar que ele conseguisse o que era seu por direito.

A mulher queria tudo para ela. Se tivesse planeado casar-se por amor, entenderia, mas aquilo era uma tentativa fria e calculista de lhe arrebatar o que era dele. O castello siciliano que o avô da mulher tinha roubado à família de Dario.

Respirou fundo, tentando conter o ódio.

Aquela mulher representava tudo o que ele desprezava. Desde a sua infância, tivera aos seus pés uma vida de dinheiro e de luxo que estragara ao entregar-se a um frenesim de drogas, sexo e álcool. Ao ponto de chegar um momento em que nem sequer o seu avô queria saber nada dela.

Dario só sentia desprezo por ela e, no entanto…

A pele clara e pálida, os olhos azuis e grandes, os lábios sensuais e carnudos, as curvas voluptuosas no corpo pequeno… Em conjunto, formava um todo harmonioso e feminino que era demasiado atraente e que lhe provocava reacções indesejadas.

Isso enfurecia-o. Aquilo não estava nos seus planos. Dario trabalhara muito para conseguir o que tinha e não tinha paciência para os que se interpunham no seu caminho.

– O que tenho para lhe dizer não é para consumo público – disse ele e respirou fundo, tentando bloquear a fragrância feminina delicada e embriagadora que estava a causar estragos na sua capacidade de concentração. – Vamos, encontremos um lugar mais adequado para esta conversa – acrescentou.

Sem esperar pela resposta, atravessou o hall e abriu algumas portas até entrar um escritório que parecia desocupado. Mantendo a porta aberta, esperou que ela entrasse primeiro.

Quando Alissa passou à frente dele e avançou para o interior do escritório, os olhos masculinos percorreram o corpo escultural e pararam por um momento no balanço suave das ancas e no rabo arredondado e firme que se adivinhava sob a saia justa. Depois, continuaram a descer para as pernas compridas e torneadas.

– Onde estamos? – quis saber ela. – Temos autorização para estar aqui?

– Precisamos de um pouco de privacidade – disse ele. – É a única coisa importante.

Alissa decidiu não protestar. O melhor seria aceitar a situação para entender o que estava a acontecer.

– O seu noivo…

– O que lhe aconteceu? Viu-o? Viu Jason?

Havia preocupação na sua voz, sem dúvida. Talvez não fosse unicamente um casamento por conveniência, disse Dario para si.

Dario recordou o rosto atraente, mas sem personalidade, de Jason Donnelly. Seria o tipo de homem que a atraía? A ideia era inquietante. Não tinha nenhum interesse em decifrar as fraquezas daquela mulher, excepto para as explorar a seu favor.

– Vi-o esta tarde.

– Está bem? Aconteceu-lhe alguma coisa?

– Não lhe aconteceu nada. O seu querido Jason Donnelly está lindamente, embora receie que já não seja o seu querido Jason.

Dario viu-a franzir o sobrolho com preocupação e sentiu uma satisfação profunda. Agora era ele que tinha o controlo e ela não podia fazer nada senão aceitar o que ele quisesse.

– Não entendo.

– O senhor Donnelly decidiu que não deseja casar-se consigo.

Alissa esbugalhou os olhos.

– Mas porquê? – perguntou, perplexa, sem entender nada. – E porque não mo disse pessoalmente? Porque teve de mandar um desconhecido?

– Ele não me mandou. Vim por vontade própria – garantiu ele, olhando para ela fixamente nos olhos.

Alissa apoiou-se na secretária.

– Por favor, pode dizer-me de uma vez o que está a acontecer?

– O senhor Donnelly teve uma oferta mais substanciosa, uma oferta que achou impossível rejeitar.

– Uma oferta de quê? – perguntou ela, sem compreender.

– De dinheiro, é claro. A linguagem que melhor entendem – declarou ele, parando à frente dela com as mãos nos bolsos.

Os lábios femininos entreabriram-se, deixando ver a ponta rosada da língua.

Dario franziu o sobrolho. Mesmo assim, com aquele ar de incredulidade, a boca carnuda era uma tentação. Sentiu uma pontada de desejo, mas cerrou os dentes rapidamente. Sentir-se atraído por aquela mulher não estava nos seus planos. Os seus princípios não o permitiam.

– Dinheiro para fazer o quê? – perguntou ela, endireitando-se, com as mãos nas ancas e o queixo erguido, em gesto beligerante. – E quem fez essa oferta?

Dario permitiu-se um sorriso de íntima satisfação.

– Eu. Ofereci-lhe dinheiro suficiente para esquecer os seus planos de se casar consigo.

A verdade era que fora ridiculamente fácil. Se Donnelly e aquela mulher eram amantes, não existia nem um vestígio de lealdade entre eles. Donnelly aceitara o dinheiro com prazer, assim como a sugestão de lho comunicar deixando unicamente a mensagem na Conservatória.

As faces femininas coraram e os olhos azuis brilharam com uma intensidade nova.

– Porque o fez? – perguntou ela, dando um passo para ele, olhando para ele directamente nos olhos, sem se deixar intimidar.

Dario ficou impressionado com a sua valentia. Mas ela ainda não sabia quem era.

– Porque se interpunha nos meus planos – disse Dario. – Porque em vez de se casar com ele, casar-se-á comigo.