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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Elizabeth Bevarly

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Rumor impossível, n.º 377 - maio 2018

Título original: First Comes Love

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-345-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Tess Monahan nunca tinha ficado doente. Nunca! Tinha as provas documentais de tal facto no sótão da casa onde cresceu, em Marigold, Indiana. Ainda morava nessa casa, sozinha, porque os seus irmãos mais velhos, cinco ao todo, viviam a sua própria vida e os seus pais, aposentados, mudaram-se para a Florida. Naquele sótão. havia caixas e mais caixas cheias de recordações escolares, como os treze certificados de absoluta e total assiduidade, desde o jardim de infância até ao fim do liceu. Ela nunca tinha ficado doente. Nunca!

Até mesmo durante os cinco anos em que esteve na faculdade, em Indiana, para obter a licenciatura em língua inglesa, Tess nunca perdeu um só dia de aulas devido a uma indisposição qualquer, quanto mais devido a uma doença mais séria. E, nos últimos quatro anos, onde leccionou para a jardim de infância primária no Colégio Nossa Senhora de Lurdes, nunca teve qualquer problema de saúde. Cada um dos seus alunos podia ir para a aula com algum vírus novo e, mesmo assim, Tess resistia. Podia até parecer estranho, mas ela nunca adoecia. Nunca.

Até durante algumas epidemias que infestaram a cidade onde vivia, nos seus vinte e seis anos de idade, Tess nunca foi atingida. Não teve sarampo, nem varicela, nem papeira; também não foi preciso tirar as amígdalas. Não sabia o que era febre; não sofria de alergias. Nunca tossia, a não ser que alguma coisa incomodasse a sua garganta. Nunca tinha adoecido…

Até hoje! E hoje parecia que todos os germes, contra os quais o seu organismo lutou tão corajosamente durante todos aqueles anos, tinham decidido atacá-la de uma só vez.

Acordou a meio da noite, enjoada, e piorou ainda mais conforme a manhã se aproximava. Passou parte da madrugada na casa de banho e, agora, sentia-se tão mal que parecia que ia morrer brevemente. No entanto, não podia morrer; não hoje, porque, dentro de algumas horas, realizar-se-ia o almoço anual dos professores do colégio. Tess nunca faltou e não queria que houvesse uma excepção. Não apenas porque queria, mais uma vez, cumprir com a sua obrigação, mas porque, nesse ano em particular, ela ia receber o prémio de Melhor Professora da escola. Era uma honra; estava muito orgulhosa e não queria decepcionar os seus alunos, muito menos os pais deles ou o restante pessoal da escola.

Iria, com certeza! Receberia o prémio graciosamente e agradeceria do fundo do coração. Era o mínimo que podia fazer para mostrar como se importava com a admiração dos seus alunos. E, mesmo que se sentisse muito mal, mesmo que a sua aparência não fosse das melhores, não ia decepcionar aqueles que a esperavam.

Gemeu; sentia-se muito fraca e sentou-se na cadeira da casa de banho: tinha suores frios. Devia ser de alguma coisa que tinha comido, pensou. Afinal, estavam quase a meio do mês de Maio e todos os vírus gripais já deviam ter passado pela região. Já não era altura de gripes ou viroses que acompanhavam as baixas temperaturas.

Levou a mão à testa húmida e percebeu que estava com febre. Fosse o que fosse que a atacava, o seu corpo estava a reagir com todas as armas possíveis. Com sorte, talvez estivesse melhor dentro de algumas horas.

Com grande esforço, levantou-se para ir tomar um duche. Tirou o pijama, sem parar de tremer, e colocou-se debaixo do jacto de água tépida. Um banho, um comprimido e um copo de sumo de laranja podiam fazer milagres, pensou, consolando-se. O pior da sua doença já devia ter passado. E, quando chegasse à escola, sentir-se-ia novamente bem!

Continuou a mover-se lentamente, porque cada gesto fazia a sua cabeça doer e a pele arrepiar-se ainda mais; dessa forma, conseguiu terminar o banho e secar-se. E, mesmo sem vontade de se enfeitar, pretendia estar com um bom aspecto para o almoço. Escolheu uma roupa confortável, já que queria sentir-se o melhor possível. Mas, ao colocar-se diante do espelho, para pentear os cabelos muito loiros, quase teve um sobressalto. A sua aparência era terrível. Tinha olheiras e estava muito pálida. Olhou para o secador e verificou que não tinha força suficiente para erguê-lo. Por isso, arranjou as madeixas do cabelo como pôde e saiu da casa de banho. Foi até à cómoda, agarrou no estojo de maquilhagem, para colocar um pouco de cor na tez esbranquiçada pela doença. Talvez conseguisse disfarçar as olheiras; talvez o azul profundo dos seus olhos ajudasse um pouco. Era conhecida por conseguir sempre a melhor solução para as situações mais difíceis. Podia agir assim em relação a si própria.

No entanto, depois de terminar a maquilhagem, não gostou muito da imagem que o espelho oferecia. A sua aparência continuava péssima e todos iriam notar. Mas precisava de manter-se firme, pelo menos, até receber o prémio e agradecer de uma forma apropriada.

Caminhou para a cozinha, devagar, quase a cambalear, à procura de algo para comer antes de tomar o remédio.

Fez um chá, tomou o comprimido e colocou alguns biscoitos salgados na mesa. Mais uma vez, levou a mão à testa, achando-a mais fresca. Os biscoitos caíram-lhe bem e fizeram com que se sentisse melhor. Lembrou-se de que tinha algumas garrafas de água mineral no frigorífico e achou melhor levar uma. Isso ia ajudar a manter o seu estômago calmo, caso as náuseas voltassem. Não podia deliciar-se com as deliciosas saladas de frutas, crepes, gelatinas…

O seu estômago tornou a protestar, apenas como reflexo dos pensamentos. Tomou dois grandes goles de água e achou que estava melhor.

Pegou num saco com a imagem da Cinderela, um presente de uma das suas alunas no último Natal, e colocou lá dentro as garrafas de água mais a caixa de remédios. Calçou as sandálias, pegou na mala de lona que levava sempre consigo para a escola e dirigiu-se para a porta da frente. Estava já a abrir a porta quando sentiu outra forte náusea. A correr para a casa de banho, uma vez mais, Tess soube que ia ter um longo e terrível dia.

 

 

Aquela manhã foi efectivamente terrível. Tess conseguiu chegar à escola a tempo, mas teve de ir a correr para a casa de banho assim que chegou. E, para piorar a situação, a Irmã Angelina, directora do colégio, apanhou-a a vomitar e encorajou-a a voltar para casa e descansar. Tess protestou e afirmou que já estava melhor; a náusea era passageira. De facto, ao sentar-se no seu lugar, na mesa reservada aos professores, sentia-se muito aliviada.

Entretanto, os factos que se sucederam não foram muito agradáveis. Susan Gibbs também era professora primária e, desde o início do ano, pensava que podia ser a vencedora do prémio de Melhor Professora. Desde o anúncio do resultado, no mês anterior, de que a vencedora era Tess, Susan mostrou-se muito fria e distante.

Desde a infância, Susan foi sempre a grande rival de Tess, em tudo. Morena, de olhos negros, era o oposto de Tess, como muitos moradores da pequena Marigold sempre frisaram ao longo dos anos. Mas, até ao momento, ambas estavam em posições iguais, com as mesmas perdas e as mesmas vitórias.

Tess ganhou o campeonato regional de conhecimentos gerais, no sexto ano, mas Susan venceu o concurso de geografia do mesmo ano. Na faculdade, Tess foi a rainha da equipa de futebol, e Susan, a rainha da equipa de basquetebol. Tess foi a editora do livro do ano nos dois últimos anos do liceu, enquanto Susan foi a editora do jornal da escola.

É claro que, agora, Tess estava prestes a receber o prémio de Melhor Professora do ano, mas não se sentia superior por causa disso. Nem sequer seria correcto!

– Bom dia, Tess! – cumprimentou-a Susan, sentando-se ao seu lado.

– Olá, Susan – respondeu Tess, ao abrir mais uma carteira de comprimidos. Depois pegou numa das garrafas de água mineral e abriu-a.

Susan reparou nos seus gestos com olhos curiosos e franziu as sobrancelhas.

– Meu Deus! Não pareces nada bem!

Tess sorriu levemente.

– Obrigada, Susan! – agradeceu ironicamente. – Tens a palavra certa na altura certa!

– Desculpa – não havia o menor sinal de arrependimento na sua voz. – Mas, realmente, estás com um aspecto horrível.

Tess apenas sorriu.

– A propósito – continuou Susan, passando os olhos pela cantina enfeitada para a comemoração. – Acho que ainda não te dei os parabéns pelo prémio que vais receber.

Tess levava a garrafinha à boca, mas parou para dizer:

– Pois não.

No entanto, Susan manteve-se calada, numa estranha atitude, e Tess bebeu um longo gole de água. Nesse momento, uma aluna do oitavo ano, que era voluntária para servir na festa, aproximou-se com uma cafeteira de café. Enquanto Tess bebia a sua água, Susan apenas virou a sua chávena para cima, num convite mudo para que a rapariga a enchesse. A aluna serviu-a, com um sorriso, e voltou-se para Tess, perguntando se ela também aceitava café.

– Não, obrigada. Qualquer pessoa no meu estado devia ficar longe de café – explicou Tess, com um sorriso, enquanto massajava o estômago.

Susan olhou para a garrafa de água, depois para o comprimido que ainda restava no envelope e sorriu maliciosamente.

– Tess! – exclamou, em voz baixa. – Estás grávida?

A aluna que servia ainda estava muito próxima e voltou-se, ao ouvir o comentário.

– A senhora vai ter bebé, menina Monahan? – perguntou, com os olhos muito abertos, a expressão entre surpreendida e alegre. – Para quando é?

Antes que Tess pudesse manifestar-se, Susan interferiu, numa voz cheia de autoridade:

– Bem, se ela está tão enjoada deve estar de um ou dois meses… Isso indica que o bebé deve nascer em… Dezembro ou Janeiro. Um bebé no Natal, já imaginaste? Que maravilha! – ela praticamente gritava. – Que lindo!

Tess arregalava os olhos, absolutamente chocada. Ao mesmo tempo que pensava no que havia de dizer para negar aquela confusão, não conseguia encontrar um modo de sair de tal situação. As palavras pareciam fugir-lhe. Nesse momento, duas senhoras, que estavam no outro lado da mesa, olharam, prestando atenção ao que se dizia, e ela percebeu que devia colocar tudo aquilo em ordem antes que a situação fugisse do seu controlo. No entanto, por longos e terríveis instantes, ela só conseguiu olhar para Susan, depois para a aluna e depois para as duas senhoras. E a cada fracção de segundo que durava o seu silêncio assustado, o sorriso de Susan tornava-se maior e maior.

– Estás grávida! – repetiu ela, como se fosse uma acusação. – Tess Monahan está grávida e nem sequer se casou! Meu Deus, não posso acreditar numa coisa destas! E… quem é o pai? – o sorriso dela era, definitivamente, maldoso – Os teus irmãos vão matá-lo!

Tess mal podia acreditar no que estava a ouvir. Notou que as duas senhoras se voltaram e comentavam animadamente com outras; só então ergueu as mãos, as palmas voltadas em direcção a Susan como se pudesse, dessa maneira, afastar as acusações dela.

– Não estou grávida! – negou tanto para Susan como para a aluna, que ainda permanecia ao seu lado. – É apenas gripe, tenho a certeza!

– Ora, por favor! – insistiu Susan, num riso de troça. – Estamos em Maio! Ninguém apanha gripe em Maio! Vamos, admite, estás grávida, sim!

– Não. Deve ter sido alguma coisa que comi ontem – continuou Tess, agora numa atitude de defesa. – Não posso estar grávida!

– Tu nunca ficaste doente, Tess Monahan! – atacou Susan. – Lembro-me muito bem daquele feriado de quatro de Julho quando todos participaram num piquenique e ficaram com problemas de estômago por causa de uma maionese estragada; só tu é que não ficaste! Tens uma saúde de ferro e o teu estômago deve produzir alguma substância diferente da dos outros. Nunca ficaste doente e o teu estômago nunca protestou! A não ser, é claro, que estejas grávida! Sabes, tenho três irmãs que têm filhos e sei muito bem o que elas sofreram com os enjoos matinais. Por isso é que hoje estás tão pálida e abatida, não é?

– Não! Não estou com enjoos matinais! – replicou Tess. – Não estou grávida!

Tess desconhecia o motivo da sua indisposição, mas tinha a certeza absoluta de que não era uma gravidez. Havia algo que uma mulher precisava de fazer para estar grávida e Tess nunca o tinha feito. Se estava grávida, devia ir para o livro dos recordes, porque seria a primeira mulher que engravidava sem ter contacto com nenhum homem.

Contudo, Susan não se deixava convencer, já que acreditava nas suas deduções:

– Ora, vamos, Tess! Não te envergonhes. Essas coisas acontecem frequentemente, mesmo com raparigas bem comportadas e religiosas como tu.

– Susan, eu não… – voltou-se, na intenção de deixar claro para a aluna que o seu estado era apenas efeito de uma gripe ou de uma indisposição qualquer, mas, para seu horror, a rapariga já se tinha afastado para servir mais café aos outros convidados.

E, agora, estava a falar com uma das professoras de matemática, Ellen Dumont, que se voltou na cadeira para olhar para Tess. O assunto parecia ser óbvio. E, para piorar ainda mais as coisas, Tess sabia que, se Ellen sabia de um facto, minutos depois a cidade toda também saberia.