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Editado por HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

A Fronteira

Título original: The Border

© 2019, Samburu, Inc.

© 2019, para esta edição HarperCollins Ibérica, S.A.

Publicado originalmente pela HarperCollins Publishers LLC, New York, U.S.A.

Tradutor: Fátima Tomás da Silva

 

Stephen King, trecho da introdução de The Shining@2001 Stephen King (reimpresso com permissão). Tom Russell, trecho de Living El Paso (reimpresso com permissão).

 

Reservados todos os direitos, inclusive os de reprodução total ou parcial em qualquer formato ou suporte.

Esta edição foi publicada com a autorização da HarperCollins Publishers LLC, New York, U.S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos comerciais, acontecimentos ou situações são pura coincidência.

Imagem da capa: Getty Images

1ª edição: Fevereiro 2018

 

ISBN: 978-84-9139-295-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Dedicatória

Cita

Mapa

Prólogo

Primeiro Livro. Monumento Funerário

1 Monstros e Fantasmas

2 A Morte dos Reis

3 Palhaços Malévolos

Segundo Livro. Heroína

1 O Acela

2 Ilha da Heroína

3 Victimville

4 O autocarro

Terceiro Livro. Los Retornados

1 As Festas

2 Coiotes

3 La Bestia

4 O mundo ao contrário

5 Banca

Quarto Livro. Dia da Posse

1 Países Estrangeiros

2 A morte será a prova

3 Maus Hombres

4 Billy the Kid

5 Natal Branco

Quinto Livro. Verdade

1 A entidade mais poderosa do mundo

2 Devastado

3 Armas baratas

4 O lago espelhado

Epílogo

Agradecimentos

Se gostou deste livro…

Dedicatória

 

 

 

 

 

Em memória de:

Abel García Hernández, Abelardo Vázquez Peniten, Adán Abraján de la Cruz, Alexander Mora Venancio, Antonio Santana Maestro, Benjamín Ascencio Bautista, Bernardo Flores Alcaraz, Carlos Iván Ramírez Villarreal, Carlos Lorenzo Hernández Muñoz, César Manuel González Hernández, Christian Alfonso Rodríguez Telumbre, Christian Tomás Colón Garnica, Cutberto Ortiz Ramos, Doriam González Parral, Emiliano Alen Gaspar de la Cruz, Everardo Rodríguez Bello, Felipe Arnulfo Rosa, Giovanni Galindes Guerrero, Israel Caballero Sánchez, Israel Jacinto Lugardo, Jesús Jovany Rodríguez Tlatempa, Jhosivani Guerrero de la Cruz, Jonás Trujillo González, Jorge Álvarez Nava, Jorge Aníbal Cruz Mendoza, Jorge Antonio Tizapa Legideño, Jorge Luis González Parral, José Ángel Campos Cantor, José Ángel Navarrete González, José Eduardo Bartolo Tlatempa, José Luis Luna Torres, Julio César López Patolzín, Leonel Castro Abarca, Luis Ángel Abarca Carrillo, Luis Ángel Francisco Arzola, Magdaleno Rubén Lauro Villegas, Marcial Pablo Baranda, Marco Antonio Gómez Molina, Martín Getsemany Sánchez García, Mauricio Ortega Valerio, Miguel Ángel Hernández Martínez, Miguel Ángel Mendoza Zacarías, Saúl Bruno García, Daniel Solís Gallardo, Julio César Ramírez Nava, Julio César Mondragón Fontes e Aldo Gutiérrez Solano.

E dedicado a:

Javier Valdez Cárdenas

E a todos os jornalistas do mundo.

Cita

 

 

 

 

 

«Assim cumprirei o meu furor contra a parede e contra os que a cobriram com argamassa não temperada; e vos direi: Já não há parede, nem existem os que a cobriram.»

 

Ezequiel, 13

 

 

 

 

 

 

 

Prólogo

 

 

 

 

 

Washington D. C.

Abril de 2017

 

 

Keller vê a criança e o brilho da mira telescópica ao mesmo tempo.

O menino, de mão dada com a mãe, olha para os nomes gravados no muro de pedra preta e Keller questiona-se se procura um nome em concreto — o do avô, talvez, ou o de um tio — ou se a mãe o terá trazido ao Monumento aos Veteranos do Vietname como paragem final depois de um longo passeio pelo National Mall.

O Muro encontra-se na parte mais baixa do parque, escondido como um segredo culpado ou uma vergonha íntima. Aqui e acolá, os familiares deixaram flores, tabaco ou até garrafinhas de álcool. O Vietname aconteceu há muito tempo, noutra vida, e Keller tem travado uma longa guerra própria desde então.

No muro do Vietname não há batalhas gravadas. Nem Khe Sanhs, nem Quáng Tris, nem Hamburguer Hills. Talvez porque ganhámos todas as batalhas, mas perdemos a guerra, pensa Keller. Tantos mortos para uma guerra inútil. Em visitas anteriores, vira homens a apoiar-se contra a parede e a soluçar como crianças.

O sentimento de perda é doloroso e avassalador.

Hoje, há cerca de quarenta visitantes junto do muro. Alguns poderiam ser veteranos; outros, familiares; a maioria, provavelmente, turistas. Dois homens mais velhos, com o uniforme e o boné dos VFW, a associação de veteranos de guerras estrangeiras, ajudam os visitantes a localizar os nomes dos seus entes queridos.

 

 

Agora, Keller volta a estar em guerra: Contra a sua própria DEA, contra o Senado, contra os cartéis mexicanos da droga e até contra o presidente dos Estados Unidos.

E são todos iguais, a mesma entidade.

Desapareceram todas as fronteiras em que Keller acreditava antigamente.

Alguns querem silenciá-lo, enviá-lo para a prisão e acabar com ele e, outros, suspeita, querem simplesmente matá-lo.

Keller sabe que se transformou numa figura controversa, que é a encarnação de uma brecha que ameaça alargar-se e dividir o país em dois. Desencadeou um escândalo, uma investigação que se espalha desde os campos de papoilas do México até Wall Street e à própria Casa Branca.

É um dia quente de primavera, um pouco ventoso, e a brisa suspende as flores das cerejeiras no ar. Percebendo a sua emoção, Marisol agarra-lhe a mão.

Keller vê o menino e, um instante depois, à direita, em direção ao Monumento de Washington, um brilho inesperado de luz. Precipita-se sobre a mãe e o menino e atira-os ao chão.

Depois, vira-se para proteger Mari.

A bala fá-lo girar como um pião.

Arranha-lhe o crânio e vira-lhe o pescoço.

O sangue entra-lhe nos olhos e, ao estender o braço para puxar Marisol, literalmente, vê tudo vermelho.

A bengala dela cai violentamente na calçada.

Keller cobre o corpo dela com o dele.

Outras balas incrustam-se no Muro, por cima dele.

Ouve gritos e vozes de alarme. Alguém grita:

— Atirador ativo!

Keller levanta o olhar, tentando descobrir de onde vêm os tiros, e vê que procedem do Sudeste, mais ou menos às dez horas: Atrás de um pequeno edifício que — recorda — é uma casa de banho pública. Leva a mão à anca à procura da Sig Sauer e, então, lembra-se de que está desarmado.

O atirador começa a disparar no modo automático.

As balas enchem a parede de pedra por cima dele, criando lascas entre os nomes. As pessoas jazem no chão ou escondem-se contra o muro. Perto do seu extremo mais baixo, alguns avançam a gatinhar e começam a correr para a Constitution Avenue. Outros ficam de pé, em choque.

Keller grita:

— Para o chão! Atirador! Para o chão!

Contudo, percebe que não servirá de nada: O monumento transformou-se numa armadilha mortal. O Muro descreve um «V» largo e só há duas saídas, seguindo um caminho estreito. Um casal de meia-idade corre para a saída, para o francoatirador, e cai imediatamente, como blocos de um videojogo horrendo.

— Mari — diz Keller —, temos de nos mexer. Entendes?

— Sim.

— Prepara-te.

Espera até os tiros cessarem por um instante enquanto o atirador muda o carregador e, então, levanta-se, agarra Mari e põe-na ao ombro. Carrega-a ao longo da parede para a saída oeste, onde o muro desce até lhe chegar à cintura, levanta-a, passa-a para o outro lado e deixa-a atrás de uma árvore.

— Baixa-te! — grita. — Fica aqui!

— Onde vais?

O tiroteio começa novamente.

Keller salta outra vez o Muro e começa a levar as pessoas para a saída sudoeste. Apoia uma mão na nuca de uma mulher, empurra-lhe a cabeça para baixo e fá-la avançar, gritando:

— Por aqui! Por aqui!

E, então, ouve o barulho nítido de uma bala e o estouro áspero do impacto. A mulher cambaleia e cai de joelhos, agarrando o braço enquanto o sangue escorre entre os dedos.

Keller tenta levantá-la.

Um projétil assobia ao passar perto da cara dele.

Um jovem corre para ele e estende os braços para a mulher.

— Sou paramédico!

Keller deixa-a nas mãos dele, vira-se e continua a empurrar as pessoas à frente dele, afastando-as do tiroteio. Volta a ver o menino, ainda de mão dada com a mãe e com os olhos dilatados pelo medo. A mãe empurra-o, tentando protegê-lo com o seu corpo.

Keller passa-lhe um braço pelo ombro e obriga-a a baixar-se e a continuar a avançar.

— Já vos tenho — diz. — Já vos tenho. Não parem.

Leva-a para um lugar seguro, ao fundo da parede, e volta para trás.

Outra pausa nos tiros quando o atirador volta a mudar de carregador.

Meu Deus, pensa Keller, quantos terá?

Mais um, no mínimo, porque volta a ouvir os tiros.

As pessoas tropeçam e caem.

Ouvem-se sirenes e os rotores dos helicópteros zumbem ritmicamente.

Keller agarra um homem para o puxar, mas uma bala incrusta-se nas suas costas e o homem cai aos pés dele.

A maioria dos visitantes conseguiu chegar à saída oeste, outros jazem na calçada e aqueles que escolheram o caminho errado descansam na erva.

Uma garrafa de água que alguém deixou cair esvazia-se na calçada.

Um telemóvel com o ecrã partido toca no chão junto de uma lembrança: Um busto de Lincoln, pequeno e barato, com a cara salpicada de sangue.

 

 

Keller olha para o este e vê que um agente da polícia, com a pistola na mão, corre para o edifício da casa de banho e cai, com o peito crivado de balas.

Deixando-se cair ao chão, aproxima-se do polícia a rastejar e apalpa-lhe o pescoço, procurando os sinais vitais. Está morto. Várias balas acertam no cadáver e Keller esmaga-se contra a terra, atrás dele. Levanta o olhar e parece-lhe ver o atirador agachado atrás do edifício da casa de banho, a mudar de carregador.

Art Keller passou quase a vida inteira a travar uma guerra do outro lado da fronteira e, agora, está em casa.

Trouxe a guerra com ele.

Agarra na pistola do polícia morto, uma Glock de 9 milímetros, e avança entre as árvores para o atirador.

primeiro livro

Monumento Funerário

 

 

 

«Só os mortos conhecem o fim da guerra.»

Platão