Revolução Digital
Quando quase Tudo É Possível
Revolução Digital
Quando quase Tudo É Possível
Rogério Carapuça
Índice
Índice
Prefácio do autor
Introdução
Parte I – As mudanças da revolução digital
1. Os agentes da revolução digital
2. Empresas mais poderosas do que Estados
3. Comunidades mais numerosas, interligadas e ativas
4. Uma nova ordem internacional
5. Uma outra noção de privacidade
6. Empregos diferentes
7. Um homem diferente
Parte II – As tecnologias e os modelos de negócio
1. A computação eletrónica
2. Os aspetos distintivos da revolução digital
3. Novos dispositivos
4. Sensores e outras “coisas”... uma Internet de coisas (Internet of things – IoT)
5. Os dados e as novas formas de exploração de informação (big data/analytics)
6. Inteligência artificial e robótica
7. Blockchain ou a eliminação do “terceiro de confiança”
8. Os modelos de negócio
Parte III – Os quatro ingredientes da transformação digital nos negócios
1. Os quatro ingredientes da transformação digital
2. Dispositivos
3. Conectividade
4. Desmaterialização
5. Disponibilidade emocional
Parte IV – A revolução digital na economia e na sociedade
1. A revolução digital na banca e serviços financeiros
2. A revolução digital nos seguros
3. A Revolução digital na educação
4. A revolução digital nos governos e administrações públicas
5. A revolução digital na saúde
6. A revolução digital na indústria
Referências
Dedico este livro à minha mãe, que nos deixou
nos dias em que finalizava este texto.
Também ao meu pai, cuja falta sinto já há dez anos.
Prefácio do autor
Fui testemunha da dimensão que a revolução digital foi tomando na vida das empresas e das pessoas, quer no decorrer da minha atividade como estudante universitário na segunda metade dos anos 70 do século passado, quer depois como profissional desde o início dos anos 80, primeiro como docente, depois como gestor de empresas no sector das tecnologias de informação. De forma silenciosa numa primeira fase, depois progressivamente de forma cada vez mais visível e omnipresente, o ritmo da mudança imposto pelo digital às nossas instituições e a todos nós não mais parou de aumentar.
Nos meus tempos de estudante universitário, a utilização de um computador era algo que muito poucas pessoas tinham oportunidade de fazer. De entre aquelas que, por alguma razão, tinham acesso a esse tipo de equipamento, apenas algumas tinham a possibilidade de estar na presença de uma dessas máquinas, pois, por vezes, essa utilização era intermediada por um operador de um centro de cálculo, que recebia do utilizador um conjunto de cartões perfurados e lhe entregava, algum tempo depois, os mesmos cartões e uma listagem com erros ou resultados, sem que esse utilizador alguma vez visse sequer a máquina. Outras vezes, essa utilização era feita por intermédio de um equipamento terminal que se assemelhava a uma vulgar máquina de escrever que possuía um dispositivo de leitura de fita perfurada, na qual se codificavam as instruções a executar e os dados a fornecer ao computador, que, frequentemente, também não se via.
Nessa época, algumas grandes empresas tinham já os seus centros mecanográficos (terminologia usadas pelos pioneiros nos primeiros casos de automatização do tratamento de informação em áreas como recursos humanos, contabilidade, gestão financeira) ou os seus centros de cálculo, os quais dispunham de máquinas de enormes dimensões, mas com capacidades muito abaixo daquelas que hoje cerca de um terço da Humanidade possui nas suas mãos e traz consigo a toda a hora.
Novos projetos de informatização começavam a surgir em várias organizações. Tive oportunidade de participar num deles, inicialmente como estagiário, integrado numa equipa do Centro de Análise e Processamento de Sinais da Universidade Técnica de Lisboa, realizado numa empresa industrial do grupo Entreposto em Setúbal. Iniciado na transição dos anos 70 para os 80, este projeto contava já com equipamentos dotados de terminais vídeo para entrada e saída de texto (uma novidade recente), que não dispunham, no entanto, das capacidades gráficas de hoje. O texto era introduzido carácter a carácter, linha a linha, sem “ratos” ou outros apontadores de qualquer tipo. O tipo de software usado nesse projeto não tinha também qualquer paralelo com o que seria possível dispor apenas uns escassos cinco anos depois.
Nesta época entre o final dos anos 70 e o início dos 80, quer em termos dos produtos, quer em termos metodológicos, era toda uma nova “engenharia de software” que estava a nascer e a estabelecer-se como domínio do conhecimento com identidade própria.
O final dos anos 70 e o início dos anos 80 marcaram também o começo da computação pessoal, com o Apple II, com pequenos sistemas que usavam um vulgar televisor como monitor, e com o PC IBM com software Microsoft. A rivalidade entre aquelas duas empresas, Microsoft e Apple, com abordagens ao mercado completamente diferentes, foi uma das marcas destes anos, com os respetivos defensores disputando argumentos com fervor quase como se de duas grandes “religiões” se tratasse. As novidades iam surgindo todos os dias, claro está, mas tinha-se a sensação de que ainda se conseguia acompanhar o ritmo da evolução destas “novas tecnologias”.
Assisti depois como jovem investigador do INESC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores) às discussões sobre a necessidade urgente de digitalizar a rede portuguesa de telecomunicações [1]. As centrais de comutação telefónica eletromecânicas usadas à época iriam em breve ser substituídas por centrais digitais. Curiosamente também, nos primórdios do desenvolvimento dos primeiros antepassados dos computadores atuais, a computação eletromecânica foi igualmente tentada, para posteriormente ser abandonada a favor da computação eletrónica, essencialmente por não possibilitar velocidades de computação adequadas [2].
A rede telecomunicações portuguesa haveria de ser convertida para o digital, na segunda metade dos anos 80. A voz, assim como os dados dos mais diversos tipos, resultantes da desmaterialização de um sem-número de ativos analógicos (textos, sons, imagens), iriam passar a ser tratados de forma indistinta como “bits” pelas redes de comunicação digitais.
Também no final da década de 80 o computador já chegara à mesa de trabalho e mesmo à casa de muitos utilizadores. A revolução digital deixara de ser silenciosa para passar a objeto de discussão pública generalizada. As tecnologias da informação já não eram apenas “novas tecnologias”, mas uma presença constante em progressivamente todos os sectores da atividade humana. Faltava, no entanto, um ingrediente que tornaria imparável esta revolução: a Internet.
Os desenvolvimentos no campo das redes de comunicação interligando computadores, também designadas redes de dados, são quase tão antigos como estes. Os anos 60 viram nascer muitos destes projetos, precursores da Internet de hoje. O protocolo de comunicação TCP/IP, usado na Internet, foi desenvolvido nos anos 70. Tim Berners-Lee criava no CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire) em 1989 uma World Wide Web de documentos hipertexto (hypertext documents), ou seja, documentos contendo blocos de texto, sons, imagens, interligados e acessíveis a partir de qualquer dos nós de uma rede de comunicação. Esta criação, pensada inicialmente para a troca de informação entre investigadores do CERN, seria uma contribuição fundamental para a Internet que hoje conhecemos que dava os seus primeiros passos nos finais dos anos 80, início dos anos 90. Os anos 2000 viriam a colocar essa capacidade na palma da nossa mão com o smartphone.
Com a vulgarização do uso da Internet e depois com dispositivos de utilização pessoal como o smartphone, o ritmo da mudança tornou-se verdadeiramente alucinante. Agora passava a ser possível a todos comunicar com todos, visitar sites desenvolvidos por quem quer que fosse, por esse mundo fora, e os motores de busca tornavam cada vez mais fácil a difícil tarefa de saber encontrar o que se procurava. No final dos anos 90 era claro, para quem ainda tivesse dúvidas, que esta não era uma mudança qualquer. Era uma revolução, como poucas na história da Humanidade. A revolução digital, iniciada silenciosamente com o aparecimento do computador eletrónico no final da Segunda Guerra Mundial, tornara-se visivelmente imparável porque suportada no crescimento exponencial da velocidade de cálculo e da capacidade de armazenamento de informação. São assim as exponenciais. No início não se dá pelo seu crescimento, mas a partir de uma certa altura os seus efeitos são incontornáveis. Caso os crescimentos deste tipo se mantenham durante muito tempo, como tem sido o caso dos associados à tecnologia digital, em breve os seus efeitos se tornarão avassaladores.
Por outro lado, dada a natureza generalista da tecnologia digital, ela toca todos os sectores da atividade económica, todas as áreas do conhecimento, todas as áreas da nossa vida. Os seus efeitos estão a mudar de forma incontornável a nossa civilização, com uma rapidez nunca igualada por nenhuma revolução anterior.
Quando em 4 de outubro de 1957 foi lançado o satélite Sputnik 1, a então União Soviética (URSS) e os Estados Unidos lançaram-se numa corrida pela exploração do espaço à qual se juntaram mais tarde a China e outros países. Hoje, apenas 61 anos depois, à data da escrita deste texto, são empresas privadas, com empreendedores que fizeram as suas fortunas como criadores de empresas-estrela da revolução digital (PayPal, Tesla, Amazon), que lideram a construção de uma nova geração de veículos espaciais, oferta essa que agora disponibilizam às agências espaciais, como a NASA, dos países que iniciaram a corrida ao espaço! O mundo mudou em 60 anos com a revolução digital.
Não se pense que apenas estamos perante um conjunto de “novas tecnologias”. Este livro, caro leitor, tem um objetivo central. Mostrar-lhe que se trata de uma transformação muito mais profunda, das mais profundas que a Humanidade já experimentou. Pretende, simplesmente, ser uma obra de divulgação dos temas da revolução digital e dos seus efeitos em múltiplas áreas.
A vida dos humanos, os princípios da nossa civilização, a forma como nos relacionamos uns com os outros, os negócios, o trabalho, a forma como se comunica e se governa, a ética, a forma como nascem e crescem novas potências mundiais, que desta vez são empresas e não países como nos tínhamos habituado a ver no passado, tudo isto está a ser alterado nos nossos dias, à nossa frente. Por vezes não nos damos conta de quão profunda é essa alteração. Espero que este livro possa contribuir para alterar essa visão ilustrando a profundidade desta mudança.
Rogério Carapuça
Introdução
A revolução digital a que assistimos não se resume à digitalização e automatização de processos das organizações para as tornar mais eficazes e eficientes. Não se resume ao aumento da produtividade pessoal. Essa foi apenas a ponta do iceberg. Agora, com os dados que todos os dias são gerados, com a capacidade de cálculo de que dispomos, com a interconexão, com os dispositivos móveis, com os novos modelos de computação e metodologias de desenvolvimento de aplicações, com a inteligência artificial, agora sim, a transformação digital começa a ser exponencial. Agora quase tudo é possível!
Estamos perante uma revolução, como outras que existiram na história da Humanidade [3]: a revolução cognitiva, durante a qual o homem, ainda nómada, ganhou a capacidade de se organizar em grupos e cooperar para a realização de tarefas complexas; a revolução agrícola, que transformou o homem nómada em agricultor sedentário capaz de cultivar a terra e domesticar outros animais; a revolução do conhecimento, que possibilitou a descoberta das ferramentas científicas necessárias para compreender o mundo à nossa volta e começar a explorá-lo, dando origem às grandes descobertas iniciadas nos séculos XV e XVI; a revolução industrial, que se seguiu à invenção da máquina a vapor, e que progressivamente transformou o homem agricultor num homem operário.
Como explica [4], a revolução digital a que nos referimos é, contudo, mais rápida, mais caótica e promove transferências de valor mais significativas em intervalos de tempo muito mais curtos do que todas as anteriores. Não é apenas mais uma revolução... é a revolução instantânea!
As consequências desta revolução são profundas e muito abrangentes. Profundas porque alteram a forma como as sociedades funcionam, a forma como os negócios se fazem, a forma como se governa, a forma como cada um de nós se relaciona com os outros, a forma como se trabalha, enfim como se desenvolve a nossa vida. Abrangentes porque atingem todos os sectores da atividade económica, todos as formas de produção cultural e científica, todas as facetas da nossa vida diária; a forma de aprender, de brincar, de trabalhar; atinge também todos os sectores da governação e todas as facetas da cidadania.
As consequências desta revolução começam a ser visíveis. São enormes e disruptivas e sê-lo-ão cada vez mais, quer ao nível micro, das pessoas, das empresas, dos organismos públicos, quer ao nível macro, das cidades, dos países e das regiões do mundo. Está a ser criada todos os dias, silenciosamente, uma nova ordem internacional, com o nascimento e reforço de empresas globais mais poderosas do que muitos Estados; com comunidades interligadas, mais ativas e com mais membros do que a população da generalidade das nações. Esta nova ordem internacional em crescimento desafia os mecanismos da justiça e da regulação criados pelos Estados, tira partido do envolvimento direto e instantâneo das opiniões públicas globais, colocando novos e difíceis desafios ao Estado de Direito a que nos habituámos.
A revolução digital trará profundas consequências no emprego, como todas as anteriores revoluções sempre as tiveram, só que elas vão impor-se de forma muito mais rápida, desafiando a capacidade de adaptação dos humanos a uma velocidade nunca antes vivenciada. Muitos empregos serão destruídos e outros serão criados, mas para pessoas cada vez mais preparadas e qualificadas, sendo as competências digitais um requisito essencial. É cada vez mais importante adquirir essas competências para, não apenas ser mais produtivo no emprego, mas pura e simplesmente para conseguir ter emprego. O fosso entre os qualificados e os não qualificados será maior do que alguma vez foi.
Este livro pretende dar-lhe a conhecer essa revolução. Mostrar algumas das suas facetas. Chamar a atenção para a sua abrangência e profundidade. Não é um exercício de ficção, mas uma chamada de atenção para o que já está a acontecer e para muitas das suas consequências que começam a estar à vista.
Ser-se capaz de antecipar o que, com grande probabilidade, irá acontecer é fundamental nos negócios, na governação, na sociedade, na nossa vida pessoal. Porque esse exercício promove a nossa preparação para as oportunidades que nos vão surgir. Porque ele nos ajudará a distinguir o que será provavelmente bom do que será eventualmente mau, estimulando assim a nossa cidadania. Como em qualquer revolução haverá resultados muito bons, outros menos bons, e seguramente muitos que gostaríamos de evitar.
Assim começaremos por uma visão global na Parte I. Vamos constatar que em muito poucos anos se formaram empresas que vendem mais num ano do que a economia da maior parte dos países é capaz de produzir, no seu todo, no mesmo período. Empresas que constituíram gigantescas reservas de capital, enquanto os países acumularam dívidas. Empresas que se dirigem a consumidores à escala global e que conquistam a sua lealdade, enquanto os países muitas vezes se fecham sobre si próprios. Empresas que vão, nos seus sectores de atividade, marcando as tendências do futuro. Empresas que são, portanto, muito mais poderosas do que a maioria dos Estados, não apenas financeiramente, mas em muitos outros aspetos. Constataremos a dificuldade que muitos desses Estados já têm em lidar com esses novos poderes, e como o efeito que esse desequilíbrio está a causar pode gerar uma ordem internacional completamente diferente da que hoje conhecemos.
Na Parte II, faremos uma viagem pelos mecanismos e artefactos que a revolução digital criou e continua a criar, para que possamos compreender como eles estão a transformar a nossa vida, as nossas sociedades, os negócios, a governação. Para que possamos compreender o seu impacto, que poderá ser positivo nalguns casos, mas também negativo noutros, consoante a forma como forem usados. Serão também introduzidas algumas definições necessárias para a continuação da leitura.
Na Parte III, discutiremos os quatro ingredientes que são necessários para que ocorra a transformação digital num dado sector. Finalmente, na Parte IV, iremos ver com mais detalhe como a transformação digital está a mudar vários sectores da atividade económica e da governação. Procuraremos entender a forma como esses sectores já foram alterados e identificaremos algumas tendências para a sua evolução num futuro próximo.
Este livro não tem a ambição de ser exaustivo na explicação de cada uma das tecnologias e artefactos, mas sim mostrar o que eles proporcionam e como eles estão já a mudar o mundo, transformando-o radicalmente em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Na sequência da transformação digital num dado negócio, este fica inevitavelmente diferente e não apenas mais eficiente por via da aplicação das tecnologias de informação e comunicação.
Não é por acaso que se designam de disruptivas muitas das marcas criadas pelas empresas-estrela da revolução digital. Uma vez chegada uma disrupção desta natureza a um dado sector de atividade, nada nele ficará como estava antes. A disrupção ocorre e muda totalmente as regras do jogo vigente. Mesmo que os disruptores que provocaram esse choque não venham a ter sucesso, a transformação está iniciada e outros virão para a continuar.
Assim e em resumo, pretendemos com esta obra mostrar a natureza da revolução digital e as suas consequências ao nível macro das comunidades e dos Estados e mostrar também, ao nível micro, o que está a acontecer à nossa volta em casos concretos da aplicação das tecnologias digitais. Assim estaremos preparados para antecipar ou para fazer acontecer a mudança quando nos surgir a oportunidade.
Sorte é quando a preparação encontra a oportunidade
Elmer G. Letterman
Parte I – As mudanças da revolução digital
1. Os agentes da revolução digital
Uma forma rápida de compreender a natureza e as consequências da revolução digital é olharmos para alguns dos seus principais atores. As empresas-estrela dessa revolução. Se analisarmos a dimensão que elas atingiram em muito pouco tempo e se virmos como os seus principais indicadores se comparam com os das economias de alguns países, teremos uma fotografia rápida de um dos efeitos mais importantes da revolução digital.
A minha geração aprendeu a pensar o mundo em termos de países e regiões do mundo onde os mesmos se integravam. Para cada país, estudávamos as suas principais características, a dimensão e a natureza dos seus territórios. As suas fronteiras. As riquezas naturais que possuíam. A sua demografia, as suas formas de organização social, os respetivos modelos de governo. A natureza e dimensão das respetivas economias, o que as tornou distintivas, os produtos e serviços que exportavam. O seu sistema financeiro, a sua moeda. Tudo isto enquadrado e explicado pela sua história. Foi assim que, também eu, aprendi a olhar o mundo.
As empresas desenvolviam-se no contexto da economia dos seus países de origem, cresciam e internacionalizavam as suas operações. Tínhamos assim empresas locais e multinacionais que expandiam as suas operações através das fronteiras nacionais. Algumas marcas que nos habituámos a admirar transformaram-se em ícones globais ao longo de muitas décadas.
Mas a revolução digital mudou este cenário!
As empresas-estrela da revolução digital provocam a disrupção em sectores inteiros do mercado a que dirigem a sua oferta, à escala global, em muito poucos anos. Estas empresas nascem desde logo globais, alcançando através da Internet os consumidores finais do mercado mundial logo desde o seu início. A conquista de clientes na casa dos biliões (na definição americana que aqui se adota de milhares de milhões) dá-se em poucos anos, independentemente da região do mundo onde as suas operações tiveram a sua origem.
Curiosamente a conquista de dimensão global nestas empresas leva cada vez menos tempo. A Apple e a Microsoft foram fundadas na década de 70 do século passado, em 1976 e 1975 respetivamente, a Amazon em 1994, a Booking em 1996, o Google e o PayPal em 1998, o Alibaba em 1999, o Baidu em 2000, o Facebook em 2004, enquanto que a WhatsApp e a Uber, por exemplo, foram criadas em 2009 apenas. A conquista do mercado internacional por estas empresas é apoiada entusiasticamente pelos seus clientes, uma vez que, quanto maior for o alcance das suas operações, mais prática e fácil será a sua vida naquilo que ela depende da utilização dos produtos ou serviços fornecidos por elas, independentemente do país onde residem habitualmente.
A oferta das empresas-estrela da revolução digital mais bem-sucedidas é normalmente pensada para simplificar a vida dos seus clientes num aspeto sempre bastante relevante das suas necessidades diárias. Assim, por exemplo, o Google e o Baidu permitem a pesquisa de informação na Internet, uma atividade cada vez mais crucial à medida que o volume de informação acessível aumenta; a PayPal assegura pagamentos eletrónicos on-line; o Facebook, o Instagram, o Linkedin, entre outras redes sociais, satisfazem a necessidade de interação com outras pessoas, o conhecimento dos seus perfis, a partilha de episódios considerados interessantes das suas vidas, as suas atividades e preferências; o WhatsApp e o Skype, a comunicação em tempo real à distância; a Amazon e Alibaba, a compra on-line; a Uber, a Cabify, a Mytaxi, o transporte de pessoas; a Booking e o Airbnb, as reservas de alojamentos, e assim sucessivamente.
As palavras realçadas no parágrafo anterior correspondem a atividades centrais da vida do homem no dia a dia no nosso tempo. Esta é uma das razões por detrás do sucesso destas empresas. O objetivo de tornar mais simples e universal um aspeto muito relevante da vida do homem do seu tempo. Pesquisa de informação, pagamentos, comunicação, mobilidade, compras, viagens. As tecnologias digitais permitiram ajudar a satisfazer essas necessidades de uma forma rápida e global.
A Internet, as telecomunicações modernas e os dispositivos móveis (smartphones, tablets, etc.) permitiram a sua universalização e a sua operação praticamente a partir de qualquer local. Curiosamente, o aparecimento e a vulgarização das telecomunicações é bem anterior à revolução digital. Mas é a incorporação das tecnologias digitais que permitiram um crescimento exponencial da utilização das telecomunicações. Com efeito, para além da voz, textos, imagens, enfim tudo o que possa ser desmaterializado passou a ser transmitido através das redes de telecomunicações modernas.
A disponibilidade de capital de risco permitiu a criação de dimensão inicial destes negócios durante um período suficientemente longo para que eles se tornassem globais e com um número de clientes necessários para garantir a sustentabilidade do seu negócio.
A importância do capital está assim presente em força na revolução digital. Sem a enorme disponibilidade de capital que hoje se verifica, o processo de criação da maioria destes novos negócios não seria viável. Este é um aspeto que não pode ser negligenciado. É verdade que a revolução digital remete para as competências, para as qualificações e para a apetência ao risco dos seus empreendedores, mas o papel do capital é, nesta revolução, absolutamente central.