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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Michelle Celmer

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Amantes numa noite, n.º 636 - setembro 2019

Título original: The Seduction Request

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-525-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

 

– Apesar do teu dinheiro e da tua fama, serás sempre lixo para as pessoas desta cidade, Conway.

A chamada caiu e Matt Conway desligou o telemóvel com uma sensação de amargura. Devia ter imaginado que o seu regresso iria provocar esse tipo de reacção, muitos não o aceitariam, no entanto, isso continuava a magoá-lo. Apesar de tudo aquilo que conseguira na vida, estava novamente a sentir a rejeição que tanto o magoara quando era criança.

Tentando esquecer-se disso, guardou o telemóvel à cintura e olhou para o interior do restaurante em obras, passando um lenço pela testa. Inalou o cheiro a pinho e ficou à espera de sentir a satisfação de ter alcançado alguma coisa com o seu próprio esforço. Aquele seria o vigésimo restaurante da cadeia Touchdown, porém, sendo ele na sua cidade natal, tinha um significado muito especial. Era um símbolo.

O miúdo que crescera na pior zona da cidade tinha agora três mansões em três países diferentes. E em vez da lata velha da sua juventude, tinha agora uma colecção de carros antigos pela qual qualquer coleccionador daria uma boa maquia. Tinha alcançado todos os seus objectivos.

Porque é que, interrogou-se, um homem que conseguira tudo aquilo a que se propusera sentia tal insatisfação? Porque é que se sentia, no fundo, como a pessoa do telefonema anónimo lhe dissera, lixo? Trabalhava doze horas por dia, até não poder mais, no entanto, não tinha uma sensação de triunfo. Nunca chegou a sentir que o vazio da sua vida se tivesse preenchido.

Tinha a certeza que aquele restaurante seria a chave. Se o acabasse, claro, porque cada dia aparecia um novo problema. Deveriam abrir no dia 1 de Setembro, dentro de dois meses, e já estavam com três semanas de atraso.

Havia demasiadas coisas em jogo. Apesar de, com um restaurante, existir sempre a possibilidade de fracassar, naquela situação as probabilidades estavam contra ele.

Chapel, Michigan, uma pequena cidade de dez mil habitantes, não era conhecida, propriamente, pela sua vida nocturna. O restaurante e a sala de jogos Touchdown teriam que encher com pessoas das cidades vizinhas ou então fracassaria no primeiro ano.

Era um risco que Matt estava disposto a correr. Um risco que devia correr.

Alguém o chamou e sorriu quando viu que era o seu melhor amigo, Tyler Douglas. Ty aproximou-se e deu-lhe um grande abraço.

– Nem imaginas como fico contente por te ver. Há quanto tempo... seis meses desde que estive na Califórnia?

– Pelo menos.

– E que tal vão as coisas? É a primeira vez que voltas a casa em onze anos!

– As coisas mudaram muito por aqui.

Mas não o suficiente para se sentir novamente rejeitado. Matt tinha a sensação que quando as pessoas olhavam para ele, viam os pais dele. Na Califórnia, as pessoas viam um homem que tinha tudo aquilo que poderia desejar, mas ali...

Sinceramente, não podia estar mais desiludido.

– Eu devia ter imaginado que não ias ficar de braços fechados – sorriu Ty, olhando à sua volta. – As obras avançaram muito, não?

– Obrigado por teres estado a par de tudo. E não sei como agradecer aos teus pais por me terem vendido o terreno. Sei que pertenceu à tua família durante muitos anos... e na Rua Principal. Não teria conseguido um lugar melhor que este.

– O que estás aí a dizer? Tu és parte da família – sorriu Ty, apoiando-se na parede que iria separar o restaurante da sala de jogos. – Preciso pedir-te um favor.

– O que disseres – disse Matt.

– Quero que seduzas a minha irmã.

Matt teve a sensação que o coração lhe parara. A irmã de Ty, Emily, era a última mulher do mundo que ele quereria seduzir... ou melhor, aquela que ele deveria seduzir.

– Estás a gozar, não é?

Ty ficou sério.

Sei que tiveram uma discussão antes de tu ires para a Califórnia, mas quero que me oiças.

«Uma discussão» não foi bem o que houve entre a Emily e ele. Ele despedaçou-lhe o coração. Mas se a tivesse deixado acreditar que havia alguma esperança para a relação deles, teria sido desonesto. Apesar daquilo que sentia por ela, a Emily merecia mais do que aquilo que ele estava disposto a dar. E, apesar de terem jurado continuar a ser amigos, depois daquela noite no lago, as coisas nunca mais foram iguais.

Ele nunca voltou a ser o mesmo.

Mas tinha que ouvir o Matt antes de lhe dizer que não. Cruzou os braços e esperou.

– Diz.

– Há um problema com o namorado da minha irmã.

Uma sensação muito parecida com ciúmes alojou-se no seu coração. Mas era lógico que a Emily tivesse namorado. Tinham passado onze anos. Era normal que andasse com alguém.

No entanto, um homem podia sonhar...

Não, não devia sonhar coisas assim. Ele queria que a Emily fosse feliz. Merecia ser feliz.

– Que problema?

– Ela quer casar e ter filhos, mas ele não está com pressa para se comprometer. É uma relação que não vai a lado nenhum. Eu acho que, no fundo, a minha irmã não é feliz, mas ela não o quer admitir. Só precisa de um empurrão para que se dê conta do erro que vai cometer. É aí que entras tu.

– O que queres que eu faça?

– Que passes algum tempo com ela. Se ela estiver contigo dar-se-á conta de como pode ser feliz sem o Alex. Eu e os meus pais tentámos convencê-la, mas já sabes como ela é teimosa. Continuará com ele, nem que seja para nos provar que estamos errados.

– Ty, eu não quero formar uma família. Se é isso que a Emily quer, não o vai encontrar comigo, e eu não tenciono mentir-lhe.

– Não, não estou a pedir-te que mintas. Pelo contrário, sê sincero com ela.

– Mas não entendo. Isso de a seduzir... até onde devo chegar?

– Até onde tiveres que chegar.

Matt não conseguia acreditar naquilo que ouvia.

– Estamos a falar da Emily, não é? A tua irmã gémea. A mesma irmã a quem os rapazes do liceu não se atreviam a convidar para sair com medo que tu lhes partisses as pernas? É essa Emily?

– Essa mesma. Podias tentar ser amigo dela.

E uma amizade seria o suficiente? Não o tinha sido no passado. Apesar de ter sido inevitável magoar a Emily, não queria voltar a fazê-lo. Não queria vê-la infeliz, mas ele não era o homem indicado para remediar a situação.

– Há outra coisa – disse, então, Ty. – Eu e os meus pais temos razões para acreditar que esse tipo está envolvido num negócio ilegal. Ele e a Emily trabalham juntos. Se o apanharem, podem acusá-la de cumplicidade.

– Um negócio ilegal? – repetiu Matt, surpreendido.

– O Alex é proprietário de viveiros de plantas. Recebem encomendas de países estranhíssimos e ele anda sempre fora do país em viagens de negócios.

– Droga?

– Foi a primeira coisa em que pensámos.

– Então fala com a tua irmã sobre essas suspeitas.

– Achas que ela acreditaria em mim? Estamos a falar da Emily, Matt. A rainha do «eu tenho razão e tu não». Ela rir-se-ia na minha cara.

Ele praguejou em voz baixa.

– Porque é que não damos uma sova nesse tipo para ele deixar a tua irmã em paz?

– Sim, claro. E já sabes o que aconteceria a seguir.

Sabia. A Emily Douglas era tão teimosa que ficaria com o tal Alex só por orgulho.

– A minha irmã não faz as coisas pelas metades. Se ela acabar a relação com ele, não continuará a trabalhar nos viveiros e isso resolveria todos os nossos problemas – suspirou Ty. – Se não o fazes por mim, fá-lo pelos meus pais, Matt.

Ele não podia dizer-lhe que não. Os Douglas tinham sido sempre a sua única família. Tinha jantado inúmeras vezes em casa deles, dormira lá, e até ia com eles de férias. Quando os pais dele estavam tão bêbados que nem tinham energias para lhe comprar uns ténis de desporto, os pais do Ty e da Emily, tinham sempre mais uns em casa, absolutamente novos e que, por coincidência, eram o número dele.

Devia-lhes muito. E à Emily também.

Além disso, se era verdade aquilo que o Ty dizia sobre os negócios do namorado dela, o sacrifício valia a pena.

Ninguém faria mal à Emily Douglas e ficaria vivo para o contar.

– Está bem – disse por fim. – Diz-me onde e quando.

 

 

Emily Douglas parou a carrinha da empresa e olhou para o edifício em obras. O restaurante Touchdown era o único tema de conversa em Chapel, apesar dela não perceber a razão. E, apesar de ter jurado que nunca pisaria aquele lugar, ali estava ela.

Fantástico.

Se pudesse ter passado o trabalho para outra pessoa, tê-lo-ia feito. Mas com o Alex fora da cidade, e como gerente dos viveiros Marlette, era da sua responsabilidade dar a Sua Alteza, o milionário, um orçamento para plantas de interior e exterior. Além do mais, essa encomenda poderia fazer com que a empresa saísse da sua situação económica miserável. Não se perdoaria se não conseguisse aquele cliente. E o Alex, seu chefe e amigo, nunca mais poderia levantar a cabeça se arruinasse o negócio de família. O Alex tinha boas intenções, mas era um desastre para os negócios e, francamente, a Emily já começava a ficar cansada de fazer todo o trabalho por ele.

Mas, dentro de seis meses, tudo teria acabado. Teria dinheiro para comprar ao seu pai o espaço ao lado do restaurante e depois pediria um empréstimo. O seu sonho de ter uma loja de flores tornar-se-ia realidade. Mas não conseguiria o dinheiro se não tinha trabalho. Precisava deste cliente porque a comissão iria aproximá-la do seu objectivo. E sacrificaria qualquer coisa, incluindo o orgulho, para o conseguir.

Ficaria Matt surpreendido ao vê-la? Há onze anos que não se viam. Uma tarefa nada difícil, tendo em conta que o «senhor só ando com modelos» não tinha voltado a Chapel. Pelos vistos, a frase «gostava que continuássemos a ser amigos» era tão falsa quanto as palavras de amor que lhe disse naquela noite no lago.

Mas aquela era uma visita de negócios. Tinha que se esquecer do que acontecera naquela noite e comportar-se como uma profissional.

No entanto, quando ia sair da carrinha, sentiu os nervos a apertar-lhe o estômago.

Como é que seria após tantos anos? Quando era adolescente, era arrogante e orgulhoso. Pelo menos, era isso que queria que os outros pensassem. Nunca o admitira, mas a Emily sabia que tinha vergonha da sua família e, por certo, sentia-se tão inseguro quanto ela. Fora isso que os unira. Mas o Matt Conway já não era pobre. E ela tinha a certeza que o Matt que se escondia por trás de uma fachada de falsa segurança, o seu amigo, desaparecera para sempre.

Esse pensamento entristeceu-a.

Estavam em pleno verão e Emily sentiu uma gota de suor a escorregar-lhe pelo pescoço. Não fazia sentido ficar ali, a olhar. Quanto mais depressa entrasse, mais depressa sairia.

Levantando orgulhosamente o queixo, abriu a porta da carrinha. Pedreiros em diversos graus de nudez davam ao lugar um ar interessante, mas não viu ninguém que se parecesse com o Matt Conway. Dando-se conta de que vários olhos se tinham voltado na sua direcção, levantou a cabeça, rezando para não tropeçar, e entrou muito decidida no restaurante.

Mas não estava ninguém.

A apreensão foi imediatamente substituída pela irritação. Podia ter tido a cortesia de vir ao encontro na hora marcada...

– Emily? – ouviu, então, nas suas costas. – Emily Douglas, és tu?

Ficou gelada, com o coração a bater a toda a velocidade. Conhecia aquela voz. Aquela voz tão profunda, tão masculina, acordava-lhe algo que estava adormecido há muitos anos.

«Já não sentes nada por ele», lembrou a si própria.

Fazendo um esforço, virou-se, e ficou confusa por alguns momentos por ver o homem que se aproximava. Não usava um fato, até pelo contrário. Estava vestido como os pedreiros, com calças de ganga gastas e uma t-shirt que se colava aos seus bíceps... Mas aquele sorriso era inconfundível. Há anos que estava gravado na memória dela.

Quando tirou os óculos de sol, uns olhos de um castanho muito profundo cravaram-se nela. Nunca se esqueceria daqueles olhos e de como a tinham olhado naquela noite. Nem a ternura que havia neles... nem o arrependimento que viu de manhã.

– Emily Douglas – murmurou Matt, olhando-a de cima a baixo. – Quase não te reconhecia.

Ele era o mesmo de sempre. Os traços infantis tinham amadurecido, mas continuava a ser o mesmo. Nas fotografias das revistas, na televisão, parecia um homem formidável, um ícone. A um metro dela, era o mesmo Matt de sempre.

Parecia-lhe que uma garra lhe aprisionava o coração.

Mas era uma visita de trabalho, lembrou-se a ela própria.

– Pediste um orçamento.

Um orçamento?

Matt ficou a olhar para ela, completamente hipnotizado pela mulher que tinha à sua frente. Quando desceu da carrinha, com aquelas pernas quilométricas e o traseiro espetado coberto por uns calções de cor caqui, esquecera o seu próprio nome.

Porque é que o Ty não o tinha avisado? A miúda de então tinha-se transformado numa bela mulher.

Incapaz de formular uma frase coerente, Matt continuou a olhar para ela; desde os cabelos loiros que um dia teve por entre os seus dedos até aos seios orgulhosamente levantados... a barriga lisa que enchera de beijos, as pernas compridas e bem torneadas, tão suaves como a seda. Emily rodeara-lhe a cintura com elas naquela noite...

Quando a viu descer da carrinha teve quase a certeza que tinham enviado outra pessoa. Foi ideia do Ty telefonar para os viveiros onde Emily trabalhava, com a desculpa que precisavam de plantas... e que, na realidade, precisavam mesmo. Matt fora claro que não lhe queria mentir.

– Pediste um orçamento – insistiu ela.

– Um orçamento – repetiu Matt, perguntando a si próprio onde estaria o seu cérebro. Aquilo não estava a correr como ele planeara. Não tinha previsto reagir assim. A Emily Douglas conseguia sempre fazê-lo sentir coisas que não devia.

– Desculpa-me – disse por fim. – É que fiquei tão surpreendido quando te vi. Estás tão... diferente.

– Diferente? Boa, Conway... que elogio.

– Quero dizer...

– Olha, isto é incómodo para os dois, mas vim para fazer um trabalho. Faço-te o orçamento e vou-me embora, não te preocupes.

Aquilo ia ser mais difícil do que estava à espera. Mas ele nunca rejeitava um desafio. Especialmente quando estava em jogo algo tão importante. A única coisa que tinha que fazer era encontrar o seu ponto fraco, pensou. Todas as mulheres têm um ponto fraco: jóias, peles, alguma coisa.

Uma vez descoberto o ponto fraco da Emily, tê-la-ia a comer da sua mão.